Vice-presidente do Coren-PE critica fechamento do Hospital Jesus Nazareno, em Caruaru, e diz não haver diálogo com SES
Secretaria Estadual de Saúde anunciou o fechamento do Hospital Jesus Nazareno (antiga Fusam) e transferência de pacientes para novo Hospital da Mulher, ainda em construção

A vice-presidente do Conselho Regional de Enfermagem de Pernambuco (Coren-PE), Thaíse Torres, demonstrou preocupação com o anúncio do fechamento do Hospital Jesus Nazareno (antiga Fusam), em Caruaru. Os pacientes da unidade deverão ser transferidos para o novo Hospital da Mulher do Agreste, que está em construção e tem previsão de inauguração para o mês de março.
Em entrevista à Rádio Cultura do Nordeste, na última sexta-feira (2), Thaíse afirmou que o fechamento da unidade pode dificultar o acesso das mulheres e crianças ao serviço de saúde.
"Fomos pegos de surpresa com essa informação e isso muito nos preocupou. Enquanto Conselho, temos a responsabilidade de garantir o dimensionamento dos profissionais e a assistência de qualidade. Até o momento, não temos informações sobre a relocação dos mais de 400 profissionais de enfermagem que atuam na unidade", disse Thaíse, que é pré-candidata a vereadora na cidade.
"Já existe uma superlotação. Pelo tamanho da cidade de Caruaru, o município e toda a região carecem de um novo equipamento. Não é encerrando as atividades de um Hospital que isso será resolvido", acrescentou.
O Hospital Jesus Nazareno possui 102 leitos e é referência no atendimento a gestantes, recém-nascidos e crianças, realizando cerca de 500 partos por mês. A unidade atende a moradores de Caruaru e toda a 4ª Região de Saúde, que corresponde a mais de 30 municípios do Agreste.
"Nós queremos acreditar na sensibilização de que essa decisão seja revista. O Coren-PE tem esperança que isso ocorra. Encaminhamos ao MPPE um ofício solicitando uma audiência com a Secretaria de Saúde para que possamos entender os motivos da suspensão do serviço. Entendemos as justificativas do Estado como improcedentes e queremos esclarecimentos", afirmou Thaíse.
"Há muito tempo se fala sobre a superlotação do Jesus Nazareno, há muito temos sonhamos com uma nova maternidade. E agora, quando esse sonho está preste a ser realizado, vamos precisar fechar uma maternidade que atende a toda a região? Lembrando que fechar uma maternidade é recorrer ao Recife, é transferir pacientes de forma muitas vezes insegura para a capital. Se podemos manter o hospital aberto, por que não fazer?", completou.
Imbróglio com o terreno
A entrevista à Rádio Cultura do Nordeste também contou com a presença de Rui Sousa, representante da loja maçônica Dever e Humanidade, e do médico Frederico Araújo, um dos responsáveis pelos atendimentos no Hospital Jesus Nazareno.
Eles explicaram que o terreno onde a unidade está instalada pertenceu à Maçonaria, e que a SES teria alegado que a entidade maçônica teria requerido a posse do terreno de volta, e que esse seria o motivo do fechamento do hospital. Eles contestaram a informação.
"As representantes da secretaria informaram que os antigos donos haviam solicitado a devolução do terreno. O espaço pertencia a Maçonaria, que inclusive foi responsável pela construção do Hospital. Eu entrei em contato com representantes da loja maçônica e fui informado que os herdeiros do doador, de fato, teriam entrado com um processo para a devolução. Mas legalmente isso não é possível, pois o terreno foi doado ao estado”, explicou o médico Frederico Araújo.
Em posse da escritura que atesta a doação do terreno, Rui Sousa explicou que o espaço foi repassado ao estado por um integrante da Ordem, em 1954.
"É uma inverdade que a Maçonaria teria solicitado a devolução do terreno do Hospital. Os três pilares da Maçonaria são: irmandade, igualdade e fraternidade. Mandar fechar um hospital vai na contramão da natureza da Ordem”, pontuou.
Diálogo com a SES
Ainda na conversa, Thaíse Torres afirmou que o Coren-PE tenta diálogo com a Secretaria de Saúde, mas que a abertura de contato com a pasta é "deficiente".
"Nós procuramos o Estado para tentar resolver muitas outras causas. Há muito tempo, tentamos abrir um diálogo sobre a situação caótica Hospital da Restauração, do Hospital Getúlio Vargas, do Hospital Otávio de Freitas e agora estamos com essa situação aqui em Caruaru. Para nós, a saúde é prioridade, mas o Estado não compreende que prestar uma saúde com segurança à sociedade é um bem comum. A gente envia ofício, tenta abrir diálogo, mas ficamos no limbo”, contou.
Na última terça-feira (30), o Coren-PE já havia externado a preocupação com o encerramento das atividades do Hospital Jesus Nazareno.
Em nota, a autarquia informou que a transferência do atendimento para o novo Hospital da Mulher do Agreste “dificultará ainda mais o acesso das mulheres e crianças à saúde pública na região, que já sofre com diversos outros problemas”, e que solicitou ao Ministério Público de Pernambuco que promova audiência junto à SES para esclarecer as dúvidas.
O que diz a SES
No último dia 29, a Secretaria Estadual de Saúde emitiu nota anunciando o fechamento da unidade de saúde, sem informar o motivo.
"A Secretaria Estadual de Saúde de Pernambuco (SES-PE) esclarece que os serviços da FUSAM serão alocados para o novo Hospital da Mulher do Agreste (HMA), que segue em construção em Caruaru, com previsão de entrega nos próximos meses.
A SES-PE reforça que é prioridade deste governo a descentralização dos serviços de saúde e que serão construídas, nesta gestão, cinco maternidades. A primeira delas é o Hospital da Mulher do Agreste, em Caruaru. O Hospital da Mulher do Agreste será a referência na assistência materno-infantil para a Macrorregião de Saúde II, no atendimento à saúde da mulher e na saúde perinatal - incluindo o atendimento especializado de urgência e emergência em ginecologia e obstetrícia, dispondo de UTI Materna, Enfermaria de Gestação de Alto Risco, Serviço de Medicina Fetal, Enfermaria de Ginecologia, UTI e UCI Neonatal, Enfermaria Canguru, com laboratório interno 24h e atendimento especializado, como também em caráter ambulatorial nas mais diversas especialidades da ginecologia e obstetrícia, quer sejam pré-natal de alto risco, medicina fetal, ginecologia endócrina, infanto-puberal, patologia cervical, imaginologia especializada para as mais diversas patologias ginecológicas através de ultrassonografia e ressonância magnética, cirurgia ginecológica geral e endoscopia, ginecológica, serviço de mastologia com equipamentos de Mamografia, Ultrassonografia e Ressonância Magnética Nuclear das mamas, além das cirurgias mamárias".