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AC/DC dribla morte, doenças, incidentes, e lança 17º álbum de estúdio

O grupo voltou se reunir durante a pandemia para gravar disco com canções inéditas

José Teles
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José Teles
Publicado em 13/11/2020 às 11:57 | Atualizado em 13/11/2020 às 11:57
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AC/DC, voltas por cima - FOTO: Foto: Divulgação


Nos primeiros anos do heavy metal, a crítica não lhe foi exatamente favorável, basta conferir as resenhas de shows e discos do Led Zeppelin, ou do Black Sabbath. O AC/DC, embora não fosse do metal pesado, fazia rock and roll com tudo que tinha de decibéis. Foi enquadrado neste nicho, sendo alvo da antipatia ao HM por parte dos jornalistas musicais, uma categoria que se sedimentou nos anos 70. Em 1976, quando o AC/DC teve o primeiro disco lançado no mercado americano, High Voltage, em 1976, receberam o comentário de Billy Altman, no Rolling Stone (então ainda um jornal):
“Aqueles preocupados com o future do hard rock podem sossegar que. com o lançamento do primeiro álbum americano desses campeões australianos de grosserias. O gênero, inquestionavelmente, chegou ao nível mais rasteiro. O cantor Bon Scott cospe entre os vocais de uma maneira agressiva extremamente chata. Suponho que seja o único jeito de cantar quando tudo o que parece lhe interessar é ser um astro, e levar alguém pra cama todo dia. Estupidez me incomoda. Estupidez calculada me ofende”.

As fãs seguiam o lema dos Rolling Stones, “É só rock ‘n’ roll, mas nós gostamos”. O AC/DC tornou-se em pouco tempo mais uma megabanda no mercado da música. Com todos os excessos que dinheiro e fama proporcionam. Bon Scott parecia indestrutível pela quantidade de drogas lícitas e ilícitas que consumia, com predileção pelo álcool. No dia 18 de fevereiro, ele foi com Alistair Kinnear, amigo de sua namorada, para um local chamado Machine Music. Alistair se lembra de ter visto Scott beber pelo menos oito doses duplas de uísque. Quando foram embora, o vocalista do AC/DC já estava apagado. Ela não conseguiu tira-lo do carro. A causa mortis foi intoxicação alcoólica. O certificado de óbito confirma que Bom Scott faleceu na madrugada de 18 de fevereiro de 1980. Mas nunca se soube exatamente como ele morreu. Muitas perguntas ficaram sem repostas. Nos exames não foi detectada drogas pesadas no sangue.
Esta foi o primeiro grande golpe sofrido pelo grupo, que deu a volta por cima, com a entrada de Brian Johnson, então vocalista da inglesa Geordie, com um estilo assemelhado ao do AC/DC. Além de vários percalços ao longo dos anos, por posse de drogas, problemas pessoais do baterista Phil Rudd, que entrou e saiu do grupo, em 2014, Malcolm Young foi diagnosticado com mal de Alzheimer precoce, ele estava com apenas 61 anos, e teve que deixar a banda. Malcolm Young faleceu em 2017.
Imaginava-se que o grupo fosse se dispersar, afinal Malcolm foi o autor da quase totalidade de riffs do AC/DC e parceiro do irmão na maioria das canções. Entrou em seu lugar Stevie Young, guitarrista, e sobrinho de Malcolm e Angus. Mais jovem do que os tios, Stevie chegou a tocar com eles em Glasgow, cidade de origem dos Young (Malcolm e Angus naturalizaram-se australianos). A banda foi em frente. Mas em 2015, Phil Rudd foi condenado a oito meses de prisão, e substituído por Chris Slade, que tocara no AC/DC de 1989 a 1994. Em 2016, o grupo deflagrou mais uma turnê mundial a Rock or Bust World Tour, interrompida quando ainda faltavam dez shows. Brian Johnson estava com problemas graves de audição, se continuasse poderia ficar com surdez permanente. A turnê foi completada com Axl Rose, do Guns ‘n’ Roses. Ao final da turnê, foi a vez de Cliff Williams anunciar que estava saindo do grupo. Desta vez seria impossível a continuação de uma das mais adoradas banda da história do rock.
Ledo Engano, e mais uma volta por cima. Em plena pandemia, Brian Johnson, Phil Rudd and Cliff Williams voltaram ao grupo, com Stevie e Angus Young começaram a gravar mais um álbum, o 17º de estúdio, Power Up. O repertório foi montado com trechos ou composições completas tiradas do arquivo do grupo. 47 anos depois de surgida em Sidney, Austrália, a AC/DC, superou todos os contratempo, acidentes e incidentes. Power Up vem sendo elogiado pela crítica, e pelos mesmos motivos que antes ela, a crítica, considerava defeitos. Os vocais de Brian Johnson e Cliff William ainda são gritados entre dentes, o estilo é o mesmíssimo desde o primeiro álbum. Basicamente Chuck Berry com o máximo de decibéis. As canções ainda se sustentando num riff, que persiste ao longo da música.

CONSERVADOR
Pode-se classificar a AC/DC como a banda mais conservadora do rock, ou a mais coerente. O grupo mantém fidelidade canina à sua sonoridade, ao estilo que criou. As diversas mudanças na formação da AC/DC pouca diferença ocasionou no repertório dos discos, e até nas letras. Em Rejection um alerta é enviado para alguém, supõe-se que uma mulher, que rejeição não está dentro dos planos do personagem, que terá o que quer de qualquer jeito. Não é politicamente correto, nem apropriado para os tempos de hoje. Mas o AC/DC não é destes tempos. A faixa Kick You When You’re Down tem letra nesta linha, e um riff matador, uma das melhores do álbum. E o grupo até que tem momento diferentes, a exemplo, de Wild Reputation, em que se aproximam do Rolling Stone que, por sua vez, foi das primeiras bandas a seguir a trilha de Chuck Berry. Fica, pois tudo em casa.
Adorados por fãs de heavy metal, o AC/DC só tem do HM a carga toda nos amplificadores, no mais, nada de satanismo, nem horror de filme B Mulher e sexo continua sendo o tema recorrente na música do grupo desde o álbum de estreia. Ao jornal inglês The Independent, Angus Young que, aos 65 anos, ainda usa uniforme escolar no palco, diz que sente náuseas quando as pessoas vêm lhe dizer que o AC/Dc fez doze discos absolutamente iguais. “Não foram 12 iguais. Foram 17”, contando com este ótimo Power Up, claro.

 

 

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