
Nessa segunda-feira, 17 de agosto, a Biscoito Fino mandou às plataformas digitais o álbum Velha Guarda da Portela – Minha Vontade, registro de uma apresentação, em 2015, na quadra da escola, em Madureira, Zona Norte Carioca. Os sambistas da azul e branco contaram com as participações especiais de Maria Rita, Teresa Cristina e Cristina Buarque. O lançamento do disco coincidiu com os 87 anos de Monarco.
Há 70 anos na ala de compositores da Portela, Monarco, no entanto, nunca tirou um primeiro lugar com samba enredo, em compensação fez muito sucesso com sambas de quadra, aquele composto para animar os ensaios da escola. O samba de quadra provou-se um manancial para os intérpretes da MPB, feito Beth Carvalho, que gravou com a Velha Guarda da Portela, em 1999, no disco Pagode de Mesa ao Vivo, emplacou vários sucessos cantando sambistas de escolas nos anos 70.
Minha Vontade é também uma celebração aos 50 anos do primeiro disco da Velha Guarda, produzido por Paulinho da Viola, Portela Passado de Glória. Foi Paulinho quem reuniu o grupo que se denominou Velha Guarda da Portela, criticado na escola pela inclusão de Monarco, então com apenas 37 anos. Foi uma composição dele, por sinal, que deu nome ao disco, Portela Passado de Glória (RGE). Portelense, que passou pela ala de compositores, Paulinho da Viola foi um dos maiores intérpretes de sambas saídos dos autores da escola, para a qual escreveu seu samba mais famoso, Um Rio que Passou na Minha Vida, clássico que também completa meio século em 2020.
O samba que dá titulo ao novo disco dos sambistas da Portela é de autoria de Chatim (Tompson José Ramos), autor de sambas vitoriosos nas passarelas, cujo centenário aconteceu no ano do show que gerou este disco. Minha Vontade, o samba de Chatim, foi um dos sucessos de Beth Carvalho, e tema da novela Pai Herói (1979). Monarco comparece no repertório com Lindo um samba composto, com Noca da Portela, especialmente para o show. Uma recompensa, embora pertencesse ao grupo da escola, não participou do primeiro disco da Velha Guarda, em 1970. Na época ele trabalhava como peixeiro, e não conseguiu folga para ir ao estúdio.
O show de 2015 teve participações especiais de Teresa Cristina, que cantou Sofrimento de Quem Ama, de Alberto Lonato (gravado por Clara Nunes, há 45 anos), enquanto Maria Rita vai de Coração em Desalinho, de Monarco e Ratinho. Cristina Buarque, cuja convivência com o samba das escolas carioca remonta ao início dos anos 70, relembra o maior sucesso de sua carreira, Quantas Lágrimas, de Manacéa (ou Manacéia), um dos mais importantes integrantes da Velha Guarda, com dois irmãos também sambistas inspirados Mijinha e Aniceto da Portela.
Nas 17 faixas do disco, 18 sambas, de gerações diferentes de sambistas da Portela, um pouco da história do gênero, com direção musical de Paulão 7 Cordas, e Mauro de Almeida, filho de Monarco. Com a revalorização do pagode romântico, que já foi chamado de pagodejo, Minha Vontade serve também para chamar atenção para um tipo de música que a cada dia perde mais terreno para o funk e subgênero afins, que predominam nos morros e subúrbios cariocas. Infelizmente não mais em convivência com o samba, feito aconteceu nos anos 70, o soul e funk do movimento Black Rio.
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