Covid-19

Trini Lopez, morto de covid-19, teve influência na MPB

Cantor foi tão tocado no país que chegou a ser escolhido um melhores do ano da música brasileira em 1965

JC
Cadastrado por
JC
Publicado em 12/08/2020 às 15:36
Divulgação
Trini Lopez, em 1964 - FOTO: Divulgação

O cantor americano Trini Lopez, falecido nessa terceira, aos 83 anos, em consequência da covid-19, em janeiro de 1964, fez uma temporada de um mês no Olympia Theatre, em Paris. Na época ele estava em primeiro lugar nas paradas de 36 países, com If I Had a Hammer (Peter Seeger). Foi casa cheia todos os dias, com duas, às vezes três sessões. Os shows de abertura eram feitos por Sylvie Vartan, cantora pop francesa, e por The Beatles, que começavam a fazer sucesso fora da Inglaterra que, no mês seguinte, estouraria nos Estados Unidos, e logo em seguida no mundo inteiro.
Trini Lopez não podia imaginar que não teria vez na música pop que The Beatles levaria para os EUA. Em uma entrevista para um jornal francês soube que o grupo inglês iria para os Estados Unidos no mês seguinte, e comentou que eles não fariam sucesso: “A gente tem lá um grupo de que gosto muito, os Beach Boys, bem melhores do que os Beatles”. Lopez teve sorte de ter gravado seus discos mais bem sucedidos antes da beatlemania se instalar em seu país. Ironicamente, ele participou do mesmo programa do apresentador Ed Sullivan, que levou os Beatles a praticamente todas as casas americanas.
Nascido em Dallas, Texas, de pai mexicano, e mãe espanhola, ele começou a carreira com 15 anos, sem um sucesso nacional. Quem primeiro reconheceu seu talento foi Buddy Holly, um dos pioneiros do rock dos anos 50, que o recomendou ao seu produtor Norman Petty. Trini Lopez contou que foi com a banda ao estúdio de Petty, com sua banda. Petty interessou-se pelo grupo, não pelo cantor, por ser mexicano. Na época, no Sul, mexicanos eram mais discriminados do que negros. Depois de gravar vários 78 rotações sem sucesso, ele se mudou para a Califórnia. Em 1963, cantava em clubes noturnos na região de Los Angeles, quando foi visto pelo maestro Don Costa, que trabalhava na época com Frank Sinatra. Costa levou Trini Lopez para a Reprise, gravadora recém- fundada por Sinatra. Teve a acertada ideia de produzir primeiro álbum de Lopez com o registro de uma gravação ao vivo, no PJ’s, um dos clubes de L.A. Com um levada de rock moderada, que ganhou o nome de go-go, para todas as faixas, Trini Lopez cantou um repertório de canções manjadas, entre clássicos folk e da música popular americana. O diálogo e interação entre o cantor e o público, que fazia coro e batia palmas, foi a receita do sucesso.
Trini Lopez Live at PJ’s tocou muito no Brasil, e acabou influenciando o estilo de Wilson Simonal, que incorporou o estilo do americano ao seu jeito de interpretação, gravando canções também manjadas, num balanço que ganhou o nome de pilantragem, e fez bastante sucesso, embora fugaz, foi de 1966 a 1968. Foi a fase de maior sucesso comercial de Simonal, que se estendeu até 1970. A influência de Trino Lopez no Brasil foi tão grande que ele teve um cover, o paulista José Gagliard Jr. que adotou o nome Prini Lorez, que integrou as hostes do programa Jovem Guarda.
Como se adivinhasse que as mudanças estavam a caminho, Trini Lopez, entre 1963 e 1964 lançou cinco LPs, todos de grandes vendagens. Dos três que gravou em 1964, o The Latin Album foi talvez mais bem sucedido do que o disco ao vivo no PJ’s. No repertório Trini Lopez explora suas raízes mexicanas, e trouxe de volta às paradas boleros, de décadas anteriores, como El Reloj, Besame Mucho, Perfídia, Quizas, Quizas, Quizas, e clássicos do repertório em língua espanhola, como Granada. La Malaguena.
Estando em Los Angeles, apadrinhado por Frank Sinatra, Trini Lopez acabou no cinema, e numa superprodução, The Dirty Dozen (no Brasil, Os Doze Condenados), de Robert Aldrich, um filme recheado com estrelas como Lee Marvin, Charles Bronson, Ernest Borgnine, Robert Ryan, Donald Sutherland. Lopez poderia ter ido mais longe no cinema, mas se desentendeu com o diretor e seu personagem teve morte prematura. Morreu num salto de paraquedas. Ele só voltaria às telas em 1970, em dois filmes menores, e em papéis, também de pouca importância na TV. A carreira de sucessos de Trini Lopez teve seu auge em 1965. Parou em 1968. Mas ele até o final da vida continuou fazendo shows e gravando.

BRASIL
Trini Lopez apresentou-se no Rio no auge do sucesso, em 1964, e voltaria no ano seguinte. Era tão popular entre os brasileiros, que ficou entre os cinco melhores cantores do país (sic), numa enquete da revista, de grande circulação, Intervalo. Trini Lopez foi o quinto melhor do anos de 1964, depois de, pela ordem Moacyr Franco, Agnaldo Rayol, Roberto Carlos e Altemar Dutra. Mesmo que provavelmente nem saibam quem Trini Lopez, boa parte dos cantores de barzinho país afora canta um pot-pourri de boleros, Perfídia, Besame Mucho, e Quizas, Quizas, Quizas, no estilo go-go de Trini Lopez.

Comentários

Últimas notícias