Disco

Teixeirinha em disco de inéditas, 35 anos depois de sua morte

Uma das faixas do álbum reconta a história do sucesso Coração de Luto

JC
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Publicado em 10/08/2020 às 15:28 | Atualizado em 10/08/2020 às 15:29
Divulgação
Teixeirinha, inéditas - FOTO: Divulgação

“Uma das coisas piores que já apareceram na música popular brasileira é um troço chamado Coração de luto, e lançado em disco por um tal de Teixeirinha. Certas composições, de tamanho mau gosto, deveriam ser proibidas com o sinete de péssima qualidade. E dizem que o disco está vendendo muito. O que demonstra não ser pequeno o número de pessoas que gostam de jiló”, na coluna do crítico Mr. Eco, no Diário Carioca, em 21 de maio de 1961.
O pouco lembrado Teixeirinha, o gaúcho Vítor Mateus Teixeira (1927/1985), estourou Brasil afora com Coração de Luto, a história de um garoto cuja mãe morreu num incêndio, e se tornou, como hoje se diz, em situação de rua. A letra da música é autobiográfica. A canção é tida como a primeira no país a vender 1 milhão de cópias, talvez tenha vendido até mais, pelo sucesso que obteve. O filme baseado na música, e protagonizado por Teixeirinha, realizado em 1966, foi uma das maiores bilheterias da história do cinema nacional.
O jornalista Sérgio Porto, que assinava crônicas como Stanislaw Ponte Preta, rebatizou o sucesso de Teixeirinha de Churrasquinho de Mãe, e pegou. O autor naturalmente detestava ouvir alguém chamar a música pelo apelido jocoso, e politicamente incorreto. Contam que a apresentadora Marília Gabriela entrevistava Teixeirinha, e cometeu a gafe de pedir para que ele contasse a história do “Churrasquinho de Mãe”, levando o cantor às lagrimas, num episódio que entrou para o folclore da TV brasileira.
A carreira de Teixeirinha não se limitou às fronteiras do Brasil, estendeu-se pela América do Sul e do Norte. Quando morreu 35 anos atrás, de um infarto, ele deixou uma discografia de 50 discos, que venderam em torno de 20 milhões de cópias. Tornou-se mais um dos esquecidos da MPB. Muito antes do substantivo brega virar sinônimo da música romantismo exagerado, sua música foi marcada como o adjetivo “cafona” pela crítica, os gostos mudaram, e de Teixeirinha só se encontram coletâneas.
Aproveitando a data quase redonda, a Editora e Produtora Teixeirinha e a Distribuidora Nikita Music Digita, lançam um álbum com doze músicas Inéditas de Teixeirinha. Com o título de Inéditas, o disco, em formato digital, chega nessa sexta-feira às plataformas digitais. Organizado, e meticuloso, Teixeirinha deixou muita composição inédita, com instruções de como queria gravá-las, como seriam os arranjos, etc. A Fundação Teixeirinha, em Porto Alegre, possui 120 fitas gravadas de material do cantor, de onde foram selecionadas as faixas deste álbum, com valsas, rasqueados, sambas, e xotes gaúchos. Estima que tenha composto mais de mil músicas, das quais 650 foram gravadas.
DISCO
As canções estão em estado bruto, em voz e violão. As falas de Teixeirinha antes de cada música em sua maioria são dirigidas ao maestro que for escrever os arranjos. O disco Na faixa Maria da Graça, antes da música ele explica que queria fazer um fado, mas, por não dominar o gênero, acabou misturando, e vira um fado-xote, e sugere: “Era bom botar assim bandolim, um instrumentos que fizesse parecer com música portuguesa. Vou tentar cantar pelo menos o refrão na língua portuguesa a outra parte em brasileiro. Eu faço sol maior, mas estou com braçadeira no terceiro traste do violão, no diapasão”, e canta a música, no mínimo, curiosa quando ela imita sotaque lusitano. Vem em seguida Coração ciumento, ele novamente se dirige ao maestro: “Em ré maior, por enquanto tem que ensaiar, porque a Mary vai dobrar duas estrofes de cada vez na saída, na segunda estrofe eu sozinho”. A autobiográfica Nasci, Sofri, Cresci, Venci, é uma espécie de continuação de Coração de Luto.
A Mary a quem se refere é a cantora Mary Terezinha com quem fazia dupla em quase todos os shows. O cantor era casado mas assumia publicamente o relacionamento com Mary, que durou 26 tumultuados anos. Quando ela o deixou, o cantor infartou. Algum tempo depois foi acometido de um linfoma, que o levou a morte, em 4 de dezembro de1985. Maris (agora sem o y) continuou a carreira e gravou vários discos. Em 1997, converteu-se à Igreja do Evangelho Quadrangular e passou a cantar música evangélica
O álbum Inéditas pode ser o inicio de uma série de lançamentos com a música do acervo de Teixeirinha, que está em poder da família Teixeira. Além de músicas, o acervo reúne cartas, matérias em jornais e revistas, discos. A maior parte encontra-se na Fundação Teixeirinha. Esquecido no nos outros estados brasileiros,no Rio Grande do Sul a memória de Teixeirinha continua viva.

 

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