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Paço do Frevo reabre terceiro andar com frevo atual e elementos interativos; conheça

Após maior reforma desde a abertura, museu lança a mostra "Frevo Vivo", com foco no frevo contemporâneo; inauguração ocorre nesta quinta (19)

Por Emannuel Bento Publicado em 28/05/2025 às 15:41

A velha máxima "quem vive de passado é museu" tem soado cada vez mais ultrapassada, sobretudo porque os museus têm se mostrado espaços potentes para pensar o presente e projetar o futuro.

O Paço do Frevo, gerido pelo Instituto de Desenvolvimento e Gestão (IDG) - o mesmo responsável pelo Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro - comprova ainda mais essa tendência com a nova mostra de longa duração inaugurada no terceiro andar.

Intitulada "Frevo Vivo", a exposição mergulha na manifestação em sua atualidade, com registros realizados entre 2023 e 2025. A abertura ocorre nesta quinta-feira (29), às 19h, com apresentações do Quinteto Pernambucano, Orquestra do Maestro Oséas e llê Axé Ojuomi.

Mudanças

HUGO MUNIZ/PAÇO DO FREVO
Imagem do terceiro andar do Paço do Frevo, no Bairro do Recife, após reforma, com mostra 'Frevo Vivo' - HUGO MUNIZ/PAÇO DO FREVO
HUGO MUNIZ/PAÇO DO FREVO
Imagem do terceiro andar do Paço do Frevo, no Bairro do Recife, após reforma, com mostra 'Frevo Vivo' - HUGO MUNIZ/PAÇO DO FREVO

O espaço foi completamente renovado, a começar pelas cores: no lugar do vermelho, o azul passou a ser o tom predominante. Estandartes de clubes e troças icônicas agora estão dispostos nas paredes e no teto — antes, alguns ficavam expostos sob o piso de vidro. Dois bonecos gigantes também compõem a sala e serão substituídos periodicamente ao longo dos meses.

"As pessoas das agremiações queriam ver os estandartes expostos da forma correta, sendo reverenciados. A gente respeitou esse apelo, essa escuta — fez sentido tirá-los do chão e colocá-los numa posição de destaque, de deferência", explica Luciana Félix, diretora do museu.

"Esse salão sempre foi reconhecido, ao longo desses dez anos, como o principal espaço de programação artística do Paço, mas não dispunha da infraestrutura adequada. Agora contamos com iluminação, sonorização e acústica apropriadas, além de uma ampliação da área: passamos de 70 para 150 cadeiras", completa Luciana.

Diálogo com a cidade

HUGO MUNIZ/PAÇO DO FREVO
Imagem do terceiro andar do Paço do Frevo, no Bairro do Recife, após reforma, com mostra 'Frevo Vivo' - HUGO MUNIZ/PAÇO DO FREVO
HUGO MUNIZ/PAÇO DO FREVO
Imagem do terceiro andar do Paço do Frevo, no Bairro do Recife, após reforma, com mostra 'Frevo Vivo' - HUGO MUNIZ/PAÇO DO FREVO

Quem visitar a mostra poderá circular pelas paredes e descobrir diferentes iniciativas ligadas ao frevo, espalhadas pela cidade, pelo Brasil e até por outros países. Um detalhe curioso é que a disposição dos temas dialoga com a geografia da cidade que se vê pelas janelas.

Por exemplo, o setor "frevo pelo mundo" está posicionado de frente para a área que abrigou, durante séculos, as movimentações do Porto do Recife, ponto de contato permanente com o exterior.

Já a parte dedicada ao bairro de São José, onde o ritmo nasceu, fica voltada para a lateral do prédio com vista para a antiga Ilha de Antônio Vaz - o "continente" além do Bairro do Recife. Há também menções à Zona Oeste da cidade, como o bairro de Tejipió, e a localidades emblemáticas de Olinda.

"A exposição mostra que o frevo está vivo, está sendo consumido, e isso independe da idade. Temos agremiações com raízes mais antigas, outras bem jovens, e muitas crianças", diz Luciana.

Uma tela de 75 polegadas exibe a instalação audiovisual "Ruas", em que dez personalidades do frevo compartilham referências e memórias ligadas ao Carnaval.

Interatividade

HUGO MUNIZ/PAÇO DO FREVO
Imagem do terceiro andar do Paço do Frevo, no Bairro do Recife, após reforma, com mostra 'Frevo Vivo' - HUGO MUNIZ/PAÇO DO FREVO
HUGO MUNIZ/PAÇO DO FREVO
Imagem do terceiro andar do Paço do Frevo, no Bairro do Recife, após reforma, com mostra 'Frevo Vivo' - HUGO MUNIZ/PAÇO DO FREVO

As salas próximas à entrada do andar, que anteriormente exibiam documentários, agora oferecem experiências mais imersivas. À direita, uma projeção exibe o vídeo da performance Nós no Frevo, dirigida pela passista e professora Rebeca Gondim.

Os vídeos apresentam o frevo sob diversas óticas. Um deles dialoga com o brega-funk, enquanto outro - protagonizado por uma cadeirante - traz um frevo que poderia ser facilmente ouvido numa pista de house music. Espelhos posicionados em frente à projeção refletem os movimentos, reforçando a sensação de coletivo.

À esquerda, a sala No Compasso do Frevo convida o público à interação. Nela, o visitante pode escolher quais instrumentos deseja ouvir em uma faixa musical, percebendo a complexidade da formação sonora do ritmo - seja ele frevo de rua, de bloco ou canção.

Visitação

HUGO MUNIZ/PAÇO DO FREVO
Paço do Frevo, no Recife Antigo - HUGO MUNIZ/PAÇO DO FREVO

Atualmente, o Paço do Frevo é o museu público municipal mais visitado da capital pernambucana - mais de um milhão de pessoas já passaram por lá desde sua inauguração. A gestão ocorre no formato de Organização Social, neste caso sob responsabilidade do IDG. A atual reforma contou com um investimento de R$ 5 milhões, captados via Lei Rouanet.

"No ano passado, recebemos quase 160 mil visitantes. Este ano houve uma pequena queda, o que já era esperado, já que o terceiro andar estava fechado desde setembro. Agora, com a nova mostra, esperamos que o público volte a nos visitar e nos ajude a equilibrar os números. Após a pandemia, houve um verdadeiro boom de visitantes no Paço, com todo mundo voltando a sair de casa", comenta Luciana.

A curadoria da exposição Frevo Vivo é assinada pela equipe do próprio museu. O novo projeto expográfico é de autoria da arquiteta paulistana Stella Tennenbaum, enquanto a identidade visual foi criada pela artista e designer pernambucana Joana Lira, em parceria com os estúdios AllesBlau e Ligatura.

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