CINEMA | Notícia

Cannes: 'O Agente Secreto' não leva Palma de Ouro, mas faz história ao vencer quatro prêmios

Filme pernambucano conquista prêmios de Melhor Direção - feito inédito desde 1958 - e de Melhor Ator, pela primeira vez para um brasileiro

Por Emannuel Bento Publicado em 24/05/2025 às 15:38 | Atualizado em 24/05/2025 às 17:41

O filme pernambucano "O Agente Secreto" acabou não levando a Palma de Ouro, principal prêmio do Festival de Cannes, neste sábado (24). A honraria foi para It Was Just an Accident, do cineasta iraniano Jafar Panahi.

Panahi é um conhecido crítico do governo iraniano e já foi preso por suas posições políticas. Este é mais um de seus filmes dirigidos sem autorização oficial da República Islâmica do Irã, o que representa, mais uma vez, um grande risco de prisão.

Feitos históricos

Apesar de não ter vencido o prêmio principal, "O Agente Secreto" marcou feitos históricos. Rendeu a Kleber Mendonça Filho o prêmio de Melhor Direção, tornando-o o segundo brasileiro a conquistar essa distinção em Cannes - o primeiro foi o também nordestino Glauber Rocha, há 56 anos, com "O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro".

Wagner Moura se tornau o primeiro brasileiro a vencer o prêmio de Melhor Ator no festival. Até então, apenas atrizes brasileiras haviam recebido reconhecimento em Cannes por suas atuações: Fernanda Torres por Eu "Sei que Vou Te Amar" (1986) e Sandra Corveloni por "Linha de Passe" (2008).

SORAYA URSINE/DIVULGAÇÃO
Imagem da equipe de 'O Agente Secreto' o tapete vermelho da première do filme no Festival de Cannes - SORAYA URSINE/DIVULGAÇÃO

Os dois prêmios significaram uma quebra das regras do festival. De acordo com o regulamento de Cannes, um filme só pode ser vencedor duas vezes se for escolhido nas categorias de Prêmio do Júri e Melhor Ator ou Atriz ou então de Melhor Roteiro e de Melhor Ator ou Atriz.

Além disso, o longa conquistou outros dois prêmios importantes: o FIPRESCI, concedido pela Federação Internacional de Críticos de Cinema, e o "Art et Essai", oferecido pela AFCAE (Associação Francesa de Cinema de Arte e Ensaio).

"Meu país, o Brasil, é cheio de beleza e poesia. Tenho orgulho de estar aqui esta noite para aceitar este prêmio. Estou muito feliz", declarou Kleber Mendonça ao receber o prêmio de Melhor Direção.

Lula parabeniza

O presidente Lula comemorou as vitórias em publicação: "Hoje é dia de sentir ainda mais orgulho de ser brasileiro. De comemorar o reconhecimento que nossa arte tem no mundo. E de curtir a felicidade de viver em um país que tem gigantes do porte de Kleber Mendonça Filho e Wagner Moura.

"Seguiremos encantando os públicos e os críticos ao redor do planeta com filmes que mostram nosso talento, nossa cultura e capítulos importantes de nossa própria história", completou.

Thriller político ambientado em 1977

Ambientado no Recife de 1977, "O Agente Secreto" é um thriller político que acompanha Marcelo (Wagner Moura), um especialista em tecnologia que busca refúgio na cidade após fugir de um passado misterioso. No entanto, o cidade se revela um lugar tão perigoso quanto os fantasmas que ele deixou para trás.

O elenco conta com grandes nomes do cinema nacional, como Maria Fernanda Cândido, Gabriel Leone, Carlos Francisco, Hermila Guedes e Alice Carvalho.

Com produção de Emilie Lesclaux, o filme é uma coprodução entre Brasil, França, Holanda e Alemanha. No Brasil, será distribuído pela Vitrine Filmes; no exterior, os direitos pertencem à NEON (Estados Unidos e Canadá) e à MUBI (Reino Unido, Irlanda, Índia e América Latina, exceto Brasil).

Repercussão internacional

DIVULGAÇÃO
Cena de 'O Agente Secreto', de Kleber Mendonça Filho - DIVULGAÇÃO

Publicações como Variety, The Hollywood Reporter, Deadline e The Guardian destacaram o apuro estético do longa, a atuação de Wagner Moura e a originalidade da narrativa. O Hollywood Reporter chegou a chamar Kleber Mendonça de “um dos grandes nomes do cinema contemporâneo”.

Segundo as críticas, Mendonça entrelaça referências da história pernambucana com experiências pessoais, criando uma ficção densa, autoral e impactante - que reforça o papel do Recife como polo criativo no mapa do cinema mundial.

Esta foi a quinta participação de Kleber Mendonça Filho no Festival de Cannes. Em 2019, ele foi premiado com o Prêmio do Júri por Bacurau, codirigido com Juliano Dornelles. Seus filmes anteriores - O Som ao Redor, Aquarius e Retratos Fantasmas - também foram exibidos no festival e aclamados internacionalmente, inclusive pelo "The New York Times", além de terem conquistado grande público no Brasil e no exterior.

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