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"8 de janeiro é prova de que precisamos, sim, falar de 64", diz Marcelo Rubens Paiva, homenageado do Festival RioMar de Literatura

Escritor foi o homenageado do Festival, realizado nesta quinta-feira (24), no Teatro RioMar; Evento também contou com debates e apresentações musicais

Por Pedro Beija Publicado em 24/04/2025 às 22:44 | Atualizado em 24/04/2025 às 23:02

O escritor, dramaturgo e jornalista Marcelo Rubens Paiva foi o homenageado da 11ª edição do Festival RioMar de Literatura, realizado nesta quinta-feira (24), no Teatro RioMar, no Recife.

No evento, Marcelo falou sobre o sucesso de "Ainda Estou Aqui", livro que inspirou o filme vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, e também detalhou o seu novo lançamento, "O Novo Agora", livro lançado na última terça-feira (23).

Em painel apresentado pela jornalista Beatriz Castro, Marcelo detalhou sua trajetória, com foco na trilogia autobiográfica, iniciada com "Feliz Ano Velho" (1982), continuada em "Ainda Estou Aqui" (2015), e concluída com "O Novo Agora" (2025).

"Meu novo livro, O Novo Agora, fala sobre paternidade aos 50 anos, divórcio e isolamento na pandemia. É sobre um ex-boêmio que vira pai e para de beber", contou.

Marcelo relembrou os diálogos que teve com o diretor Walter Salles, anterior à produção do filme. De acordo com o escritor, foi pedido que o filme mantivesse o foco na família.

"O filme mostra como a ditadura afetou famílias comuns. No fundo, numa guerra, quem sofre é a família. É contraditório defender 'pátria e família' e apoiar um regime que as destruía", disse.

"Quando dizem que precisamos 'superar' 1964, na verdade estão pedindo para esquecer. O 8 de janeiro mostrou que as lições da ditadura não foram aprendidas. Minha literatura tenta ser uma resposta a isso - não por panfletagem, mas mostrando como regimes autoritários destroem famílias comuns", apontou.

Marcelo também revelou particularidades do processo criativo para uma escrita autobiográfica. De acordo com Paiva, escrever sobre si "exige uma coragem diferente".

"Não é exposição - é escavação. Quando falo do Alzheimer da minha mãe, não falo só da Eunice Paiva, mas de todos que viram seus pais desaparecerem duas vezes. A literatura tem esse poder de transformar o particular em universal", revelou.

Ao final do evento, Marcelo Rubens Paiva recebeu das mãos da jornalista e curadora do evento, Carmen Peixoto, uma placa comemorativa, simbolizando a homenagem do evento.

Heudes Regis/Especial para o RioMar Recife
Em momento de homenagem, a jornalista e curadora do Festival RioMar de Literatura, Carmen Peixoto, entregou placa comemorativa a Marcelo Rubens Paiva - Heudes Regis/Especial para o RioMar Recife

"8 de janeiro é prova de que precisamos, sim, falar de 1964"

Em entrevista coletiva, Marcelo enfatizou a importância de falar sobre o período da ditadura militar no Brasil. O escritor lembrou que a tentativa de golpe de estado de 8 de janeiro de 2023 é prova de que o país ainda precisa discutir o que aconteceu entre 1964 e 1985. Marcelo também lembrou da anistia dada a militares anteriormente e apontou necessidade de rigor contra "quem ataca a democracia".

"O 8 de janeiro é prova de que precisamos sim falar de 64. Precisamos relembrar e repensar: o Brasil deve ou não perdoar os golpistas? No passado, anistiamos militares que tentaram golpe contra Juscelino e depois derrubaram Jango. Talvez agora devêssemos ser mais rigorosos com quem ataca a democracia. O brasileiro, nas pesquisas, quer democracia e punição aos golpistas", apontou.

Marcelo comparou o desaparecimento de seu pai, o deputado federal Rubens Paiva, com o desaparecimento do ajudante de pedreiro Amarildo de Souza, no Rio de Janeiro, em 2013. 

"As pessoas dizem que o que aconteceu na ditadura não acontece mais, mas ainda acontece. A forma como a polícia aborda pessoas vem da ditadura. A própria ideia da Polícia ser “militar” veio dos militares. Isso não existe em lugar nenhum do mundo. A herança da ditadura é visível", disse.

"Amarildo foi torturado e desapareceu dentro de uma UPP (Unidade de Polícia Pacificadora), uma unidade militar. Igual aconteceu com meu pai. A estrutura é a mesma. Por isso quando se fala em repensar a PM, muita gente reage, sem saber que em todo o mundo civilizado há uma só polícia", complementou.

Heudes Regis/Especial para o RioMar Recife
Homenageado do Festival, Marcelo Rubens Paiva falou sobre trajetória e detalhes de suas obras, em painel no Festival RioMar de Literatura - Heudes Regis/Especial para o RioMar Recife

Marcelo Rubens Paiva também destacou o impacto do Oscar a "Ainda Estou Aqui" em sua carreira literária, destacando que sua obra acabou sendo "redescoberta" e alcançando novos leitores.

"O filme fez com que meus livros fossem redescobertos. Pessoas que nunca tinham me lido passaram a buscar minhas obras, tanto no Brasil quanto no exterior. É curioso como o cinema pode trazer novos olhos para a literatura", disse.

O escritor também falou sobre sua trilogia autobiográfica, agora concluída com o lançamento de "Novo Agora". Para Marcelo, "cada livro representa uma fase distinta" de sua vida. 

"Cada livro representa uma fase distinta. 'Feliz Ano Velho' foi escrito por um jovem de 20 anos que descobria sua voz. 'Ainda Estou Aqui' veio de um homem maduro revisitando sua história familiar. E 'O Novo Agora' mostra esse mesmo homem se descobrindo pai. Não foi um projeto planejado, mas sim um registro orgânico da vida", contou.

Festival contou com apresentações e painel sobre literatura e redes sociais

Além da homenagem a Marcelo Rubens Paiva, a 11ª edição do Festival RioMar de Literatura também contou com um painel sobre literatura e redes sociais. O Festival também contou com uma apresentação do cantor Lirinha, e um pocket show da cantora Isadora Melo, que abriu o evento.

O painel de abertura do evento teve a participação da escritora pernambucana Daniela Arrais e o influenciador literário Pedro Pacífico.

Heudes Regis/Especial para o RioMar Recife
Festival Riomar de Literatura homenageou Marcelo Rubens Paiva e contou com Lirinha, Daniela Arrais e Pedro Pacífico como convidados - Heudes Regis/Especial para o RioMar Recife
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Cantora Isadora Melo fez pocket show de abertura do Festival RioMar de Literatura - Heudes Regis/Especial para o RioMar Recife
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Painel sobre literatura e redes sociais contou com a participação da escritora Daniela Arrais e o influenciador literário Pedro Pacífico - Heudes Regis/Especial para o RioMar Recife
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Escritora pernambucana Daniela Arrais, durante painel sobre literatura e redes sociais - Heudes Regis/Especial para o RioMar Recife
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Influenciador literário Pedro Pacífico, durante painel sobre literatura e redes sociais - Heudes Regis/Especial para o RioMar Recife
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Cantor Lirinha fez apresentação de sucessos de sua carreira no Festival RioMar de Literatura - Heudes Regis/Especial para o RioMar Recife

No painel, Daniela e Pedro falaram sobre os desafios para a literatura nos tempos de redes sociais e "armadilhas" do mundo digital.

Daniela, criadora da página @Content.vc, destacou que a iniciativa provou que o público não estranha textos longos nas redes sociais. Já para Pedro, criador do perfil “Bookster”, onde compartilha suas opiniões sobre livros, a internet pode ser utilizada para aproximar as pessoas dos livros.

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