'Sonho em ver o brega no Rock in Rio’, diz Anderson Neiff
Dono do hit 'Tua Ex É uma Delícia', brega-funk que embalou o Carnaval de Pernambuco em 2025, MC é destaque do festival Recife Capital do Brega

Em Pernambuco, a busca pelo "hit do Carnaval" sempre envolve algum brega-funk: aquele que ecoa nas caixas de som nos principais acessos da folia no Recife e em Olinda.
Neste ano, esse posto ficou com "Tua Ex é uma Delícia", de Anderson Neiff, um dos destaques do Festival Recife Capital do Brega, realizado no Marco Zero da capital nesta sexta-feira (7).
O sucesso foi tão grande que rendeu uma parceria com Henry Freitas, destaque no forró eletrônico no Nordeste. A faixa original acumula 11 milhões de reproduções no Spotify e 23 milhões no YouTube.
"Eu e o Mano Chefe (produtor) fomos montando essa música pouco a pouco. Passamos uma semana para finalizá-la. Isso é muito tempo, pois no brega-funk tudo é feito muito rápido. No refrão, usamos um sample de um viral do Reels nos Estados Unidos: um sax que deu um swing, uma vida. Encaixou perfeito", explica Neiff, ao JC.
Com 23 anos, Anderson Neiff é natural do Ibura, na Zona Sul do Recife. Ele surgiu na internet há cinco anos em páginas de memes, quando decidiu iniciar a carreira musical. Com 4,5 milhões de seguidores, tornou-se milionário pelo marketing de influência e hoje comanda uma produtora artística (Number One) e uma agência de influencers.
"Meu maior sonho hoje é ver o brega no Rock in Rio. Pode parecer algo distante, mas também pode estar mais perto do que imaginamos. Se eu não sonhasse alto, não teria conquistado tudo o que conquistei até aqui. Quero ver o brega ganhando um Grammy, conquistando um Prêmio Multishow, chegando ao topo do Spotify Brasil", diz.
Entrevista - Anderson Neiff
Você acredita que está na melhor fase da sua carreira?
Sim, em vários aspectos: amizades, trabalho, profissionalismo e público. Sinto que estou furando a bolha e alcançando diferentes nichos. Outros ritmos têm me convidado para colaborações, como no caso do forró. Além da parceria com Henry Freitas, Lipe Lucena fez uma versão da minha música.
Eventos que antes me convidavam apenas para participações agora me contratam para shows completos, o que representa um avanço profissionalmente. Já passei por diferentes fases na música: comecei em trio, depois fui dupla e, hoje, sigo minha carreira solo com o apoio da minha produtora e do meu empresário. Estou muito feliz com as conquistas que alcancei e com a possibilidade de desfrutar do meu trabalho.
Venho de uma realidade periférica, onde muitos caminhos poderiam ter dado errado, mas, felizmente, consegui trilhar um caminho de sucesso.
Vamos falar sobre o Neiff empresário: como é o seu trabalho na produtora Number One?
Atualmente, trabalhamos com artistas como Os Tralhas, Arthurzinho Batedeira, MC Troia, MC Fantasma e Leon. Esses dois últimos estão começando a ganhar mais visibilidade agora, e ambos têm muito talento. Já os três primeiros são grandes referências no movimento brega funk. Minha função é gerenciar a carreira deles.
Faço ajustes nos shows, incluo novos elementos, cuido da produção de clipes, organizo ensaios, oriento sobre imagem e até dou alguns conselhos e puxões de orelha quando necessário. Também sou responsável por vender os shows e garantir que eles estejam presentes em grandes eventos.
Ainda sobre negócios: a maior parte da sua renda hoje vem do trabalho como influenciador?
Sim. Hoje, encaro minha carreira musical quase como um hobby, algo que faço porque gosto. Claro, a música me gera renda, mas tenho uma gastos muito grandes. O dinheiro que ganho com shows, na maioria das vezes, serve para cobrir esses custos. O que sobra, eu invisto em outros projetos. Já a renda como influenciador, essa sim, é um valor que arrecado para mim. De toda forma, eu gosto muito do que faço na música.
Anderson Neiff é milionário. Você acha que pode usar esse status para influenciar positivamente a juventude das periferias?
Sim. Acho que exerço uma influência. Algumas pessoas acreditam que posso não ser uma boa influência porque canto isso ou aquilo. Minhas músicas falam sobre o cotidiano, sobre relações e vivências da periferia. Eu nunca incentivei ninguém a traficar, roubar ou cometer crimes. Infelizmente, nossa cultura é muito julgada, especialmente por políticos, que tentam deslegitimar a arte periférica.
Se um garoto olha para mim e decide pegar um microfone para compor em vez de seguir um caminho perigoso, isso já é fascinante. E não sou só eu – outros artistas como Os Tralhas e Dadá Boladão também servem de referência. Recife ganhou muita visibilidade nas redes sociais justamente por meio do brega funk.
Além disso, tenho projetos com companhias de dança que oferecem ensaios à noite para jovens, tirando-os de situações de risco e afastando-os das drogas. Infelizmente, a mídia nunca deu a devida visibilidade para esse tipo de iniciativa. Merecemos mais respeito e muito mais espaço do que temos hoje. No entanto, reconheço que o prefeito João Campos tem apoiado bastante.
No mundo da música, existem altos e baixos. Você se organiza para o futuro?
Desde 2020, meu empresário sempre reforça comigo: um dia pode acabar, pode passar. O essencial é aproveitar ao máximo o momento, fazer acontecer, usar bem os recursos, investir e, no futuro, poder seguir em frente de cabeça erguida.
Ele sempre me incentiva a deixar um legado. O Sheldon tem um legado, o Tróia tem um legado. E hoje eu estou construindo a minha história, estruturando minha vida e conquistando meu espaço. Já tenho minha casa e me organizo financeiramente para o que vier. Sempre penso no futuro, no que pode acontecer quando essa fase acabar.
Mas, enquanto isso, vivo da melhor forma possível. A vida é um sopro – hoje estamos aqui, amanhã não sabemos. Então, sigo aproveitando cada momento ao máximo.
O que você acha que pode melhorar na cena brega?
Acredito que um dos principais pontos a melhorar hoje é a questão das letras. Sempre falo sobre isso com os MCs. É claro que, em vários estilos musicais, como pagode e sertanejo, algumas músicas contêm palavrões ou expressões mais pesadas. Mas, no brega funk e no funk em geral, acabamos exagerando nesse tipo de linguagem. Há um uso excessivo de palavras de baixo calão, e isso acontece na maioria das músicas.
Pessoalmente, prefiro um estilo mais leve. Evito ao máximo o uso de palavrões. No máximo, deixo escapar um "porr*", mas sem exageros. Acho que esse cuidado ajudaria a fortalecer ainda mais o nosso movimento.
Outro ponto é a união dentro da cena do brega funk. Se eu levanto essa bandeira sozinho, não consigo mudar o jogo. No rap e no trap, por exemplo, vejo os artistas se fortalecendo juntos. Filipe Ret, Matuê e tantos outros disputam espaço, mas respeitam uns aos outros.
No brega funk, infelizmente, ainda há muita rivalidade. Sei que alguns MCs falam mal de mim, enquanto outros me abraçam e apoiam meu trabalho. Acredito que, em parte, isso acontece por causa do momento que estou vivendo. Mas, como o nosso movimento ainda é pequeno, deveríamos nos unir mais, colaborar em músicas e fortalecer a cena de Pernambuco e do Recife no Brasil e no mundo. Falta um pouco mais dessa união para crescermos ainda mais.
Tem algum sonho que você ainda não realizou?
Meu maior sonho hoje é ver o brega no Rock in Rio. Pode parecer algo distante, mas também pode estar mais perto do que imaginamos. Se eu não sonhasse alto, não teria conquistado tudo o que conquistei até aqui. Quero ver o brega ganhando um Grammy, conquistando um Prêmio Multishow, chegando ao topo do Spotify Brasil.
Muitos sonhos que tive no passado já consegui realizar: tocar no Marco Zero, ser atração principal em blocos que eu frequentava na infância. Agora, quero gravar um DVD — existem vários fatores para isso acontecer, mas tenho certeza de que acontecerá no momento certo. Também quero viajar para fora, conhecer outros lugares. Quero fazer acontecer.