CINEMA

'O Beco do Pesadelo' mostra reflexões humanas de forma sombria através de um golpista

Novo filme de Guillermo del Toro, 'O Beco do Pesadelo' consegue colocar o melhor e o pior dos sentimentos humanos em filme sobre golpista

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JC

Publicado em 28/01/2022 às 17:46 | Atualizado em 28/01/2022 às 17:49
Análise
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Após ganhar as principais premiações do circuito com o sucesso "A Forma da Água", em 2017, muito se esperava pelo novo filme do mexicano Guillermo del Toro. Quase cinco anos depois, o diretor assina um longa-metragem mais sombrio e com reflexões humanas ainda mais profundas em "O Beco do Pesadelo", que estreou nos cinemas nesta quinta-feira (27). A produção é um remake de "O Beco das Almas Perdidas", que por sua vez foi baseado no livro homônimo de William Lindsay Gresham, em 1947.

A produção, de tão antiga, não está presente na memoria coletiva do cinema e, del Toro aberto à possibilidade, conseguiu fazer uma trama original a partir de um elenco de ponta, estrelado por Bradley Cooper, Cate Blanchett, Rooney Mara, Toni Collette, David Strathairn e Willem Dafoe.

A narrativa acompanha a história do vigarista Stanton Carlisle, interpretado por Cooper, que cai em um parque de diversões após ter sua vida fadada ao fracasso. Ao chegar ao local, conhece a vidente Zeena (Toni Collette) e seu marido Pete (David Strathairn), que vivem aplicando um engenhoso golpe que atrai centenas de pessoas diariamente.

No parque, ele é apresentado às instalações por Clem, interpretado pelo ótimo Willem Dafoe, o qual desempenha a função de administrador e "adestrador" de selvagens - homens com características de animais que cortam pescoço de galinhas frente a uma grande plateia. Por trás dessas criaturas grotescas, há um esquema feito por Clem em atrair bêbados para fazerem os personagens no palco: oferecendo bebidas e um abrigo dentro de uma jaula no circo. Tudo acontece de forma em que o espectador seja induzido dentro do estilo noir, sem muita exposição direta aos acontecimentos.

Essa primeira fase aparece de uma forma nebulosa, em um universo lúdico já proposto em outras obras de del Toro, mostrando ainda uma face misteriosa de Carlisle e suas motivações com o parque de diversões. A partir da morte de Pete, que se torna um mentor para o golpista, del Toro vai revelando quais os verdadeiros objetivos de Carlisle no aprendizado com o professor.

Segunda fase

No parque de diversões, ele conhece Molly, também uma ilusionista, a qual é interpretada por Rooney Mara. Prometendo o amor e uma vida nova à artista órfã do pai, ele a leva junto à Nova Iorque. A partir disso, Carlisle começa a aplicar golpes na elite nova-iorquina dos anos 40, com a ajuda da psiquiatra Lilith Ritter, vivida por Cate Blanchett. 

Na melhor das fases do filme, a dupla planeja golpes de uma forma nada convencional. Lilith, como uma mulher apaixonada, demonstra não ter interesse financeiro nos golpes e passa a conhecer Carlisle através de sessões de terapia. E é justamente nesses momentos que o filme induz a conhecer o personagem do golpista com seus traumas do passado, suas relações com o pai e com a bebida - elemento que é trazido no início do filme com os selvagens.

As transições entre o passado e o presente e as etapas do filme são costuradas a partir da fotografia e o desenvolvimento dos personagens. De um homem de jeito duvidoso, mas dócil, Carlisle vai se transformando num típico vigarista do cinema clássico. Por sua vez, é conduzido de uma maneira natural, segura e até conquistadora que Cooper coloca no personagem. 

Tanto as interações do protagonista com as personagens femininas, sendo colocadas de maneira dócil, quanto as relações com os homens ricos e mais velhos da elite da narrativa são milimetricamente colocadas de forma que o espectador seja levado a entender qual o sentido de O Beco do Pesadelo no final. 

As duas horas e meia podem soar cansativas, tendo em vista a redução do tempo das produções no streaming, mas cada uma das fases trazem novos elementos que vão prendendo o espectador às telonas. A introdução poderia ser mais curta, já que há muitas composições que não agregam à narrativa, entretanto, as partes seguintes ao parque de diversões são colocadas de maneira coesa e construtiva à história.

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