Falta encanto à nova versão de 'Cinderela' estrelada por Camila Cabello
Filme conta com versões de clássicos do pop de cantoras como Janet Jackson e Jennifer Lopez

Dos contos de fada, talvez Cinderela tenha sido um dos mais adaptados para o audiovisual. Da clássica animação da Disney ao remake live-action que a empresa lançou em 2015, ou ainda na roupagem do filme de 1997 em que a heroína foi interpretada por Brandy, uma cantora negra, e a fada madrinha por Whitney Houston, muitas foram as versões para a história da Gata Borralheira. Hoje, mais uma dela chega às telas, desta vez através do streaming do Amazon Prime Video. Protagonizado pela estrela pop Camila Cabello, o filme tem formato musical e busca aproximar a história de uma estética e ritmo mais contemporâneos.
Assim como tem acontecido com novas roupagens de obras de outras décadas (ou, nesse caso, outro século), esta nova Cinderela apresenta características opostas à personagem que permeia o imaginário coletivo. Mais empoderada e assertiva, ela tenta subverter a narrativa machista que coloca a mulher em uma posição de vulnerabilidade que só pode ser revertida com a intervenção do príncipe encantado. Esta Cinderela não sonha com o casamento, mas com a conquista de seus sonhos e de sua independência.
Como obstáculo, ela continua atormentada por sua madrasta, interpretada por Idina Mezel, e as filhas, Anastacia (Maddie Baillio) e Drisella (Charlotte Spencer). Cinderela deseja criar roupas e pensar as vestimentas é seu escape emocional quando não precisa lidar com as várias demandas impostas sobre ela pelas outras habitantes da casa desde a morte de seu pai.
No reino onde Cinderela vive, a vida das pessoas comuns não é fácil — e, no palácio, a insatisfação também faz parte da dinâmica de alguns membros, como o príncipe Robert (Nicholas Galitzine), que encontra a Gata Borralheira pela primeira vez disfarçado como um plebeu. Essa nova dinâmica proposta pelo filme poderia oferecer formas criativas de renovar o clássico, mas falta consistência ao filme.
MÚSICA
Com direção de Kay Cannon, produtora e roteirista de A Escolha Perfeita, o filme parece perdido sobre o que realmente deseja ser. Com muitos números musicais, que inserem clássicos da música pop, como Rhythm Nation, de Janet Jackson, e Let's Get Loud, de Jennifer Lopez, em números coreografados, a obra parece sem alma. Além dessas versões — que parecem ter sido pensadas como números isolados, sem contribuírem muito com o andamento da história —, há ainda uma composição original, intitulada Million To One, que tem Camila Cabello como uma das compositoras.
Camila Cabello se esforça para dar nuances para a sua Cinderela, mas o roteiro, apesar de inserir algumas piadas que funciona, não cria uma estrutura atraente para o espectador. O elenco de apoio também tenta inserir vida ao projeto e conta com participações especiais, como a do sempre ótimo Billy Potter (Pose), como uma versão LGBT da fada madrinha. Participam da produção também Pierce Brosnan, como o rei Rowan; Minnie Driver, como a rainha Beatrice, e James Corden, como a versão humana do rato James.
Corden, conhecido por apresentar um programa televisivo nos EUA, onde tem o quadro Carpool Karaokê, em que canta com celebridades enquanto dirige, não tem tido sorte no cinema. Ele esteve em dois longas muito criticados: Cats (2019) e A Festa de Formatura (2020), ambos musicais. Apesar do esforço dos envolvidos, Cinderela é uma versão que, no final das contas, não tem muito a acrescentar.