MC Carol experimenta com o brega-funk em 'Borogodó', seu novo álbum
Artista de Niterói mistura ritmos periféricos em trabalho que ressalta a força de suas composições

MC Carol é uma das vozes mais vibrantes do funk nacional contemporâneo e dá continuidade a uma tradição de artistas mulheres que utilizam o gênero musical para compartilhar suas experiências de vida, expressar visões sobre questões sociais, sexuais e de gênero, entre outros assuntos. Prazer, dor, alegria e revolta se misturam em um discurso complexo, ao contrário do que alguns setores de crítica e do público comumemnte sugerem, associando seu trabalho e o de suas contemporâneas a uma esfera de superficialidade. Em seu novo álbum, Borogodó, a artista natural de Niterói reforça suas posições e volta ainda mais afiada, experimentando com outros gêneros periféricos, como o brega-funk.
O novo trabalho, que chega às plataformas de streaming nesta quinta-feira (22), é resultado de anos de dedicação e pesquisas da artista, que é uma perfeccionista com seu processo criativo. As canções são crônicas de suas vivências e a artista se permite tomar o tempo necessário para chegar na versão ideal, da letra à produção. E não se prende a estilos musicais: com o funk como o base, dialoga com vários ritmos periféricos brasileiros. Sua visão para uma música pode incluir desde um batidão até a inserção de uma orquestra e elementos da música flamenca, por exemplo.
"Eu sou bem eclética, queria até trazer mais misturas [para o disco]. Estava demorando muito para lançar este álbum, mas nos próximos vou fazer mais [experimentações]. O processo de escrever às vezes é demorado, você escreve 20 músicas e só lança dez. Mas, são 20 histórias. Algumas saem rápido, tipo Bateu Uma Onda Forte, mas outras, como 100% Feminista, levei mais de um ano para terminar. A gente pensa que a galera não vai gostar, para, pensa em arrumar alguém para vir junto e fazer esse feat (parceria), porque se der merda, ninguém gostar, tem alguém para dividir o hate com a gente (risos)", contou Carol.
Em seu Instagram, Carol publicou um texto refletindo sobre seu trabalho e a recepção das manifestações culturais criadas na periferia. "Mano, na moral... quem dita o que é música? O que é cultura? Tô cansada de ouvir que minha música não é arte, que eu não canto de verdade... Engraçado porque tudo que a favela faz BOMBA! O samba, depois rap e funk, agora o brega-funk e pagodão. Os números não mentem", refletiu.
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Uma realização da Ubuntu Produções, o novo disco sucede o ótimo Bandida (2016) e foi precedido pelo single Levanta Mina, uma música com letra engajada que reflete sobre a opressão dos padrões de beleza e se rebela contra eles. A canção, como Carol, é multifacetada e mostra que ser empoderada não significa estar imune às dores do preconceito.
Lançada em 2020, consolidou o nome de MC Carol como uma das integrantes do artistas do #YouTubeBlack Voices/Fundo Vozes Negras, iniciativa idealizada pelo YouTube para potencializar artistas e criadores negros ao redor do mundo. Nos últimos anos, Carol também fez shows nos EUA, Reino Unido, Alemanha, e Portugal e palestrou na Brown University.
Com doze faixas, sendo duas delas remixes, Borogodó mostra várias facetas de MC Carol. O público já conhece algumas das canções, como Mulher de Negócios e Novinho de 17, um brega-funk em parceria com os pernambucanos Cleytinho Paz e CL No Beat.
Para este novo trabalho, Carol criou um perfil na plataforma de conteúdo adulto OnlyFans, onde irá divulgar suas músicas mais explícitas em primeira mão para os seguidores. Para o público geral, ela também prepara algumas novidades, como o lançamento de clipes e um pocket show com canções do novo álbum e canções antigas.
PROJETOS
Além da música, Carol tem ocupado também espaços em outras mídias. Em janeiro, ela foi capa da revista Elle, angariando vários elogios de famosos e admiradores na internet. A representatividade trazida por ela também aparece em reality shows, como Lucky Ladies, da Fox, e Soltos em Floripa, do Amazon Prime Video. E ela quer mais.
"Tenho muita coisa [que quero conquistar]. Quero atuar, fazer novela, filme, quero fazer vários eventos, festivais, rodar em vários países, cantar em navio (risos). Quero cantar até com banda, quero um programa", disse, adiantando que já tem feito uma série de testes de elenco para futuros projetos no audivisual.