'Halston', da Netflix, mostra a conturbada vida de um ícone da moda

O milionário acordo de Ryan Murphy com a Netflix para desenvolver várias produções originiais para a gigante do streaming gerou mais um comentado fruto: a minissérie Halston. Baseada na vida de um dos maiores ícones da moda estadunidense, o designer Roy Halston, a obra é protagonizada por Ewan McGregor, que brilha ao criar um personagem complexo e com quem o público se conecta, mesmo em seus momentos mais problemáticos.

Com apenas cinco episódios, a missérie faz um recorte do início dos anos 1960, quando Halston ganha notoriedade por ter um de seus chapéus usados pela então primeira-dama Jackie Kennedy, até a sua morte. Mas, através de flashbacks, tem-se vislumbres da infância na conservadora Iowa, onde presencia as violências físicas e psicológicas sofridas pela mãe e o preconceito do seu pai com sua sensibilidade artística e trejeitos fora da heteronormatividade.

Esse arcabouço emocional é bem construído e ajuda a entender o complexo universo desse gênio criativo que, mesmo diante da aclamação mundial e ganhando milhões de dólares, continuava frágil e buscando amor e legitimação constantemente. A transição de um designer autoral para uma marca que passa a ser vendida em milhares de lojas de departamento, transformando-o em uma celebridade, é bem trabalhada e cria paralelos com o próprio processo de fragmentação emocional de Halston.

Com uma reconstituição de época impecável (a direção de arte e os figurinos são um espetáculo), a série dirigida por Daniel Minahan (Ryan Murphy é o produtor executivo) é baseada na biografia escrita por Steven Gaines. A relação com sexo, drogas, o amor e o poder, além de sua amizade com Liza Minelli (Krysta Rodriguez, ótima no papel) são abordadas com profundidade.

A minissérie é bem sucedida ao capturar a atmosfera de glamour do mundo da alta costuma, mas sem deixar de abordar os bastidores dessa ilusão criada pela beleza. O medo e a insegurança de Halston não são uma contradição às maravilhas que ele criou na moda — são, talvez, algumas das forças-motrizes de seu trabalho.