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Dia da Visibilidade Trans: Nick Cruz utiliza sua música para romper padrões

Cantor desponta na cena pop e fala sobre representatividade, carreira e expectativas

Márcio Bastos
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Márcio Bastos
Publicado em 29/01/2021 às 10:34 | Atualizado em 09/03/2021 às 21:06
BLEIA CAMPOS/DIVULGAÇÃO
VOZ Nick CRUZ luta, com sua música, para que outros possam ser quem realmente são - FOTO: BLEIA CAMPOS/DIVULGAÇÃO
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A música é uma parte significativa da vida de Nick Cruz desde a infância. Das sessões de karaokê com a mãe aos shows em bares, o cantor de 22 anos agora chega a uma nova fase da carreira, alçando voos importantes. Contratado pela Warner Music, lançou recentemente a canção Então Deixa e desponta como uma promessa do pop nacional, abrindo também caminhos para outros homens trans.

Antes de se dedicar por completo à música, Nick fez de tudo um pouco: ao lado do melhor amigo e grande incentivador de sua carreira, Jefferson Mulford, foi ajudante de obras, servente, pintor, entre outros serviços. Aos 17 anos, com um microfone e uma caixa de som, começou a fazer shows em bares do Espírito Santo. Seu primeiro lançamento independente, Me Sinto Bem (2019), já soma 1,5 milhão de visualizações.

Pela Warner, lançou Até de Manhã e a recente Então Deixa, ambas com pegada pop e elementos de r&b, e capitaneadas por sua interpretação versátil. Ao longo do ano, ele pretende divulgar mais faixas, explorando sonoridades.

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"Não tenho muitas referências de homens trans na música, e isso me deixa um pouco triste. Apenas com esse ponto já podemos ver como é importante ocupar esse espaço e levar uma mensagem de mais inclusão para a sociedade cis normativa", afirma.

Confira a entrevista com Nick Cruz:

Jornal do Commercio: Gostaria que falasse um pouco sobre "Então Deixa", que você classifica como uma de suas melhores composições. Como é seu processo criativo?

Nick Cruz: Então Deixa foi fruto de um encontro com a cantora Budah e o beatmaker Martinz aqui no Rio de janeiro. Fizemos uma tarde de composição muito gostosa no estúdio Rockit e, entre brincadeiras e improvisos, a música nasceu. Tento trazer nessa música uma mensagem de liberdade, de um amor sem fronteiras. Me inspirei em situações que já vivi e precisei deixar de me importar pra ser mais feliz! Mas, geralmente, o processo criativo das minhas canções surgem no meu íntimo mesmo, quando estou sozinho.

JC: Como tem sido contar com o suporte de uma gravadora e como você enxerga a questão da abertura de espaços para artistas trans nesses espaços?

Nick: Tem sido incrível! Com certeza me sinto muito privilegiado em estar recebendo esse suporte e tendo a oportunidade de me desenvolver enquanto artista e trabalhar no meu sonho. Eu não tenho muitas referências de homens trans na música e isso me deixa um pouco triste. Apenas com esse ponto já podemos ver como é importante ocupar esse espaço e levar uma mensagem de mais inclusão para a sociedade cis normativa. Todes nós precisamos nos sentir representades.

JC: Imagino que você já receba um retorno caloroso do público em relação à importância do espaço que você está ocupando e as barreiras que ajuda a quebrar. Como tem sido essa troca com os fãs e como você enxerga a responsabilidade de ser um modelo para outros?

Nick: Sim! Recebo muito carinho dos menines via instagram e outras redes. Isso é impagável! Carrego a responsabilidade de sempre estar me atualizando sobre tudo, até por que a comunidade é grande e precisamos incluir e alcançar todes. Não pretendo ser um modelo para ninguém, mas, sim, inspirar para que cada um tenha forças para ser o que é, assim como eu luto.

JC: Como se desenvolveu sua relação com a música e a partir de que momento decidiu focar na carreira artística? E, nesse processo, quais foram as maiores dificuldades?

Nick: Me desenvolvi cantando pra minha família, pra amigos, concursos, boates, casas de show, bares... nessa minha caminhada, conheci o Jefferson Mulford, que se tornou o meu melhor amigo e me apoiou em tudo que precisava. Trabalhamos juntos em tudo o que você possa imaginar, mas foi ele que me deu o meu primeiro violão e a primeira caixa de som para me apresentar nos lugares. Depois, quando conheci o Edu Donna, ele me fez perceber o quão grande eu poderia ser e acreditou em mim. E a minha maior dificuldade foi sobreviver a isso tudo como trans até chegar aqui.

JC: Quem são principais influências, tanto em relação a artistas quanto a estilos musicais?

Nick: Nesse exato momento, eu estou me inspirando muito em artistas drags e trans do meio, como a Liniker, a Glória Groove, a Linn da Quebrada.. e por aí vai! O pop é onde me encaixo porque nele não existe caixinhas. Amo o pop porque posso explorar diversos ritmos e me aventurar neles!

JC: Em relação ao seu primeiro álbum, há previsão de lançamento e que direção você pretende dar ao trabalho em termos de sonoridade e composição?

Nick: Não sei se agora é a melhor hora pra lançar um álbum. Pretendo soltar single por single e ir brincando em relação à sonoridade de cada um. Já em quesitos de composições, estou trabalhando em algo que expresse mais a minha luta no cotidiano enquanto pessoa trans.

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