
O estadunidense Mike Flanagan tem se destacado como um dos principais diretores de obras inspiradas no terror e seus subgêneros, a exemplo dos filmes Hush e Ouija - Origem do Mal, ambos de 2016, e Doutor Sono (2019), adaptado do livro de Stephen King. Também de sua autoria, o projeto A Maldição (The Hauting), que já havia chamado a atenção com a ótima primeira temporada, intitulada Residência Hill, retorna igualmente afiado em novos episódios, desta vez em um novo cenário e com novos personagens em A Maldição da Mansão Bly.
Nestes novos episódios, Dani (Victoria Pedretti, que também participou da primeira temporada), uma professora americana que está em Londres para tentar fugir de um acidente do passado que ainda a atormente, aceita o emprego de babá de duas crianças órfãs residentes em uma mansão no interior britânico. Ela chega para substituir a antiga cuidadora, Rebecca Jessel (Tahirah Sharif), que suicidou-se no lago da propriedade.
Os irmãos Flora (Amelie Bea Smith) e Miles (Benjamin Evan Ainsworth) recebem a nova tutora de braços abertos, assim como os funcionários da mansão: a governanta Hannah Grose (T'Nia Miller), o cozinheiro Owen (Rahul Kohli) e a jardineira Jamie (Amelia Eve). Logo, no entanto, ela começa a perceber movimentações estranhas na casa, entre elas comportamentos adultizados do garoto e eventuais aparições de Peter (Oliver Jackson-Cohen), ex-funcionário acusado de roubar uma fortuna do tio das crianças, Henry (Henry Thomas), e que até então era dado como desaparecido.
Segue, portanto, uma tendência que ganha força nos últimos anos, a de um terror mais psicológico, em que o sobrenatural é usado como instrumento para falar de questões profundamente humanas e materiais, como os traumas e as relações interpessoais.
O roteiro, assim como na primeira temporada, é livremente inspirado em clássicos da literatura, neste caso, as obras de Henry James. Sem pressa em desvendar as questões de seus protagonistas, o diretor permite que todos, incluindo os coadjuvantes, brilhem e acrescentem nuances à trama, o que gera uma gradual afeição do público.
HISTÓRIA DE AMOR
Com exceção das assombrações presenciadas por Dani nos primeiros episódios (que a partir de certo momento ficam um pouco cansativas e, por sorte, são resolvidas ainda na metade da temporada), a presença dos fantasmas produz mais reflexões do que medo. Essas criaturas sobrenaturais não são necessariamente sinônimo de maldade e possuem profunda relação com as questões dos vivos.
O elenco afiado, incluindo as crianças, consegue criar momentos de profunda delicadeza, com destaque para as tramas envolvendo Dani e Jamie e Hannah e Owen. A história da governanta, inclusive, é responsável por um dos episódios mais instigantes e surpreendentes da temporada. Outro destaque é a trama envolvendo o grande mistério da temporada, relacionado à figura feminina que assombra a mansão, que é esclarecido em um episódio excelente, digno de ser lembrado nas premiações do ano que vem.
Como aponta uma das personagens, mais do que uma história de terror, a trama de A Maldição da Mansão Bly pode ser lida a partir de diferentes chaves, entre elas como uma história de amor, de família, pertencimento, (auto)aceitação e amizade.
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