
Fayga Ostrower (1920-2001) é um dos nomes fundamentais da arte brasileira do século 20, ainda que sua obra não seja tão conhecida pelo grande público. Já na Academia, onde teve forte atuação, e no campo das artes visuais, é uma referência incontornável. Ampliar o alcance da obra da artista, cujo centenário é comemorado este ano, aproximando-a de novas gerações, tem sido um dos objetivos do instituto que leva seu nome e tem doado obras de seu acervo para instituições públicas ao redor do país. Uma delas é a Universidade Federal de Pernambuco, que exibirá a coleção recebida na exposição virtual Fayga Ostrower: Interfaces, a partir de desta segunda-feira (19), às 14h.
Na live de lançamento, que acontece no canal do Youtube da Pró-Reitoria de Extensão e Cultura da UFPE, estarão presentes os professores do departamento de Artes à frente do projeto, Luciana Borre, Ana Lisboa e Wilson Chiarelli, a filha de Fayga, Noni Ostrower, e alunos do curso de Licenciatura em Artes Visuais.
"A família da artista entende as universidades públicas como espaços de democratização do conhecimento e por isso se aproximou de instituições como a UFPE. Desde o ano passado estamos nas tratativas para trazer esse acervo e a ideia era fazer uma exposição presencial para celebrar o centenário de Fayga. Infelizmente, com a pandemia, isso não foi possível, mas adaptamos as atividades para o campo virtual e, ainda mais importante, essas obras estarão bem salvaguardadas e o público e pesquisadores poderão ter acesso a elas, posteriormente, mediante solicitação", explica Luciana Borre, coordenadora do projeto.
A artista, nascida na Polônia e naturalizada brasileira após sua família, que era judia, fugir do regime nazista, é autora de uma obra múltipla. Ao todo, a coleção recebida pela UFPE é composta por 44 peças, sendo 41 obras impressas e 3 matrizes de madeira. Os trabalhos serão organizados e expostos a partir das suas linguagens, evidenciando a diversidade da produção de Fayga, que trabalhou com aquarela, serigrafia, litografia e calcogravura, entre outras técnicas.
"De início, sua obra é muito influenciada pela fuga da Europa, a repercussão dessa jornada, e tem um caráter mais figurativo. Foi uma artista que retratou várias cenas do Brasil, em um momento importante do nosso modernismo.Ela também é marcan te porque desafia a invisibilização história das mulheres na história da arte. Depois, começa a se tornar uma artista abstrata, interessada em seligrafia e litogravura, o que não era comum a uma mulher em meados do século 20 e, com essa produção, teve muito reconhecimento, participou de bienais, exposições e foi bastante premiada", pontua Luciana.
Em sua trajetória, foi presidente da Associação Brasileira de Artes Plásticas, entre 1963 e 1966, e da comissão brasileira da International Society of Education through Art, INSEA, da Unesco, de 1979 a 1982. Entre os vários louros recebidos em vida estão a condecoração Ordem do Rio Branco, em 1972; o Prêmio do Mérito Cultural pelo Presidente da República do Brasil, em 1998 e o Grande Prêmio de Artes Plásticas do Ministério da Cultura, em 1999.
ARTE-EDUCADORA
Outro eixo essencial da obra de Fayga é seu empenho na arte-educação. Entre os anos de 1954 e 1970, desenvolveu atividades docentes na disciplina de Composição e Análise Crítica no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, lecionou nos EUA e na Inglaterra, além de atuar como professora de pós-graduação de várias universidades brasileiras. Nesse período, esteve à frente de cursos para operários e centros comunitários com o intuito de difundir a arte.
Referência nos estudos do campo das artes visuais, é autora de livros seminais, como Criatividade e Processos de Criação; Acasos e Criação Artística e A Sensibilidade do Intelecto.
"Fayga acreditava muito na democratização do conhecimento e do acesso à arte. Ela defendia ela defende que a arte é energia vital e que todos podemos exercer nossa criatividade e este pensamento não é inerente apenas às artes visuais. Com seu exemplo de ousadia, de ir contra as expectativas sobre a produção de uma artista mulher, e dedicação à produção intelectual, ela se tornou uma referência até hoje essencial", reforça Luciana.
Esse eixo, inclusive, terá destaque na mostra, que além da exposição contará com curiosidades sobre a vida da artista e atividades interativas de mediação cultural em formato virtual, desenvolvida por alunos de Licenciatura em Artes Visuais. Em paralelo, acontece o minicurso ofertado para a comunidade interna e externa à UFPE, ministrado por Luciana, Ana Lisboa e Wilson Chiarelli.
A mostra segue até o dia 10 de novembro nos perfis do Instagram do IAC (@iacbenfica) e da Galeria Capibaribe (@galeriacapibaribe.



Comentários