
Primeira série original brasileira lançada pela Netflix, 3% chegou à sua quarta e última temporada. A produção criada por Pedro Aguilera e protagonizada por Bianca Comparato apresentou em sete novos episódios o desfecho do thriller ambientado num mundo apocalíptico.
Na sinopse do último ciclo, o conflito entre a Concha — uma sociedade alternativa — e o Maralto - uma terra elitista e excludente — está escancarado e uma guerra é iminente. Mas, enquanto a seleção de quem pode entrar no Maralto se inicia sob uma liderança nova e ainda mais agressiva, os integrantes da Concha são convidados para uma visita "diplomática" ao Maralto. A proposta de paz acaba sendo o pretexto para a destruição desse mundo dividido.
A narrativa da quarta temporada de 3% ainda foca no grupo de liderança da Concha, que além da líder Michele (Comparato), se destaca pelas presenças e histórias de Marco (Rafael Lozano), Rafael (Rodolfo Valente), Joana (Vaneza Oliveira), Elisa (Thais Lago), Glória (Cynthia Senek) e Marcela (Laila Garin). Crescem as histórias e importância de Natália (Amanda Magalhães) e Xavier (Fernando Rubro) na trama, bem como a do fanático André (Bruno Fagundes), o novo líder do Maralto.
Escrito a seis mãos - Teodoro Poppovic, Natalia Maeda, Carol Rodrigues, Ivan Nakamura, Denis Nielsen e o próprio Pedro Aguilera - 3% tem um texto cirúrgico.
No episódio 4, a sequência da votação sobre a execução do plano de destruição do Maralto tem diálogos certeiros. E, assim como em muitas situações da série, eles funcionam como metáforas que podem, perfeitamente, serem aplicadas num contexto qualquer de 2020.
As direções de Daina Gianecchini, Jotagá Crema e Dani Libardi resultam em várias situações de suspense, de prender o fôlego (como o episódio 6, Botões) e, claro, de boas viradas na história.
A estética de 3% também se despede como algo positivo. Com cenas gravadas em São Paulo e Inhotim, Minas Gerais, impressiona o caráter futurista, porém descomplicado, dos cenários, bem como dos figurinos. As participações especiais de Fernanda Vasconcellos, Silvio Guindane, Zezé Motta e Ney Matogrosso (principalmente a atuação dele no episódio 5, Pintura) são decisivas para o enredo.
Na parte musical, assinada por André Mehmari - junto à supervisão musical de Submarino Fantástico - a dramaticidade, principalmente nas trilhas instrumentais, ganha força com solos de violino e rabeca, dando mais impacto a sequências importantes da série.
No último episódio, o cantor Chico César brilha em cena ao revisitar o clássico Velha Roupa Colorida, de Belchior, num momento crucial para o desfecho.
Cumprindo sua missão como a primeira produção nacional da Netflix, 3% fecha seu ciclo como uma obra de qualidade que merece um maior reconhecimento, principalmente no território brasileiro, já que, lá fora, a série tem bastante sucesso na plataforma.
E o modo como a história termina, que não é exatamente um "happy end", mas uma utopia subjetiva, deixa uma leve mensagem de esperança diante de um mundo contemporâneo, que também anda dividido. Pois, no fim de tudo, é preciso reconhecer que somos todos iguais e estamos todos no mesmo barco. Ou ao menos, precisamos estar.
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