
O músico Renato Barros faleceu na manhã desta terça-feira, no Hospital das Clínicas de Jacarepaguá, Zona Oeste do Rio. Ele iria completar 77 anos em setembro. Renato foi vocalista, guitarrista e compositor do grupo Renato e seus Blue Caps, que fundou com os irmãos Ed Wilson e Paulo Sérgio Barros, em 1959, no bairro da Piedade, Zona Norte carioca.
O músico foi internado às pressas no dia 17 de julho, se submeteu a uma delicada operação da aorta, que durou sete horas, na semana passada, apresentou melhoras, mas seu estado piorou na sexta, 24, quando surgiram complicações pulmonares.
No primórdios do rock brasileiro, formar um conjunto era o sonho de todo garoto suburbano. Os três irmãos Barros, mais os vizinhos Gelson e Euclides de Paula, passaram a tocar ainda adolescentes.
Na primeira apresentação no programa Hoje É Dia de Rock, de Jair de Taumaturgo, na TV Rio, ainda não tinham batizado o conjunto. O apresentador perguntou de onde eram. Quando lhe disseram o nome do bairro, passou a chamá-los de Os Bacaninhas da Piedade. O batismo durou muito pouco. Acabaram tomando emprestado o nome do grupo do roqueiro americano Gene Vincent, os Blue Caps.
Renato e seus Blue Caps, que chegou a ter Erasmo Carlos nos vocais (entrou no lugar de Ed Wilson, que iniciou carreira solo), foi contratado para o programa Jovem Guarda da TV Record, e tornou-se o mais popular conjunto (como então se chamava) da era do iê-iê-iê, principalmente pela versões de canções dos Beatles.
Muitos dos discos de Roberto Carlos nos anos 60 têm acompanhamento de Renato e seus Blue Caps e composições de Renato Barros gravadas pelo Rei. Com mudanças na formação, o grupo continuou na estrada todos esses anos. No Nordeste, tinha como base o Recife. Eram tão frequentes as vindas da banda à cidade, que era aqui que Renato Barros cortava o cabelo.
O programa Jovem Guarda, gravado em São Paulo (1965 a 1968), tinha o ponto alto na apresentação de Renato e seus Blue Caps, quase sempre a última atração. Mas Renato, numa entrevista ao JC, revelou que não se tratava de uma deferência do produtor do programa, Carlos Manga, ao grupo: "A gente saía direto da praia de Copacabana pra pegar a ponte aérea. Chegava ao teatro em cima da hora. De jeans, às vezes de cabelos num rabo-de-cavalo. Uma vez eu estava encostado na parede, lá no backstage, esperando Wanderléa terminar para a banda entrar. Roberto Carlos chegou perto de mim, olhou para os tamancos que eu usava e perguntou por que eu não tinha calçado sapatos, e deu o esporro: 'Quer f... meu programa, bicho?"
A onda do iê-iê-iê passou, o grupo foi bem-sucedido em vendas de disco até os primeiros anos da década de 70. Daí em diante, conseguiu hits esporádicos. Mas nunca abandonou os palcos. Era o artista em sua essência mais pura, como canta Milton Nascimento em Nos Bailes da Vida (letra de Fernando Brant): "Todo artista tem de ir aonde o povo está". Renato Barros era este tipo de artista, cuja vida era a estrada e os bailes da vida. Provavelmente, só Luiz Gonzaga viajou tanto pelo Brasil.
Renato Barros só interrompeu as viagens com o grupo país afora quando foi obrigado a permanecer casa, no Rio, respeitando o isolamento social. O Renato e seus Blue Caps teve muitos shows cancelados. Mas deixou parte da agenda em aberto. O próximo show, conforme a agenda do grupo no Facebook, estava marcado para 12 de setembro em Caxias do Sul (RS).
Felizmente, sua história ficou registrada em livro. Em outubro de 2019, foi publicada a biografia Renato Barros: Um Mito, Uma Lenda, pela escritora paulista Lucinha Zanetti, que acompanhava a banda desde 1965, como fã. "Em 2013, conheci Renato, ficamos amigos. Comecei a gravar com ele em 2016. Tenho ainda várias conversas inéditas com Renato. Passei um ano e seis meses escrevendo o livro. Entreguei um exemplar em mãos a ele, em outubro de 2019, quando a banda completou 60 anos", diz a biógrafa.

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