Damião Experiença (1935/2016)

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JC

Publicado em 14/12/2016 às 12:35 | Atualizado em 13/11/2023 às 16:57
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14817285106431c3d87a87e425bbcba9c102e480fd Uns quatro anos atrás, num final de tarde, passava entre a Visconde de Pirajá e a Farme de Amoedo, em Ipanema, encontrei Damião Experiença, vindo da praia. Tinha um gravadorzinho comigo, pensei em descolar uma entrevista com o cara. Damião tornara-se conhecido em todo país, graças a divulgação feito por blogs especializados em música sobre sua obra. Seria interessante saber o que achava desta "popularidade". Perguntei se ele era Damião Experiença. Me disse que não, e foi em frente. Nos anos 80 era comum encontrá-lo em Ipanema. Comercializava seus discos, num pequeno tabuleiro, na Visconde de Pirajá Comprei dois LPs do cara. Não sei que fim levaram. Não fazia música psicodélica, nem experimental. Lembrava o pernambucano Mauro, da dupla com Quitéria, de 15 minutos de fama pela participação no álbum Õ Blésq Blom (1989), dos Titãs. Mauro cantava num idioma particular, mistura de línguas que escutou no tempo em que trabalhou no porto como estivador. Coincidentemente, Damião foi da Marinha, operador de radar, segundo se diz, e cantava parte de suas canções no idioma inventado por ele, o “lamma”. Ele e Mauro, criaram seus próprios códigos musicais, que nasceriam e morreriam com um e outro. Irrotuláveis e indecifráveis, pessoais e intransferíveis. Damião Experiença, Daminhão (ou Damenhão) Experyença ( experiença supostamente vindo do Jimi Hendrix Experience). Assim como o nome é controverso, é confusa a biografia do músico, Damião Ferreira da Cruz, nascido em 1935, em Lauro de Freitas (BA), falecido sábado, e sepultado na segunda-feira, no Rio de Janeiro, onde era uma figura folclórica da cidade (mais da Zona Sul). Ele se aposentou da Marinha em 1963, diz-se que foi por algum tempo gigolô. Em 1974, lançou o primeiro disco, Planeta Lamma. Mas sua primeira gravação foi a participação numa faixa do álbum de estreia de Luis Melodia, em 1973, Pérola Negra, em Forró de Janeiro. Damião gravou cerca de 30 discos, quase todos em vinil. Uns o consideravam gênio, outros um gênio louco, a maioria apenas um louco. Era esquizofrênico, sofreu de epilepsia, mas revelava que ficou curado desde que parou de cortar os cabelos.  Os dreadlocks (tranças rasta) da cabeleira de Damião Experiença foram cultivados sem cortes por mais de 30 anos. Baixo, encorpado era uma das figuras mais exóticas de Ipanema, um bairro fartos  em exotismos. Produzia os discos às próprias custas, e vendia na rua, entre a praça General Osório e a Visconde de Pirajá, a mais movimentada do bairro onde morava. A ficha técnica na contracapa do seu segundo álbum : “Obs a todas as músicas de Damião Ferreira da Cruz, Regência, produção e capa: Damião Experiença. Único participante desde disco do selo Lamma: Damião Experiença”. De poucas palavras, assim Damião definia o ser humano: “Somos insetos da terra, e o que vai ficar é só nossa obra” Damião Experienca no áudio de Eu Gosto de Apanhar de Mulher: https://www.youtube.com/watch?v=BnzGFIgVUFY

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