Leonard Cohen (1934/2016)

Publicado em 11/11/2016 às 0:21
Leonard Cohen, em 1974
FOTO: Leonard Cohen, em 1974
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Leonard Cohen, em 1974 Leonard Cohen, em 1974 “Estou pronto para a morte. Espero que não seja muito desconfortável. É o que me importa”. A frase é do poeta, romancista, cantor e compositor canadense, Leonard Cohen, cuja morte, os 82 anos, em Los Angeles, Califórnia,  foi confirmada na noite desta quinta-feira, em seu site oficial. Nascido em Westmount, Quebec, Coehn foi um dos mais celebrados e influentes nomes da música popular nos últimos 50 anos (embora fosse um ilustre desconhecido no Brasil), e um escritor que ganhou alguns dos mais importantes prêmios de literatura no seu e em outros países. Leonard Cohen lançou no final de outubro seu 14º disco, You Want it Darker, insinuando que seria o último. Ninguém levou a sério o que ele falou. Esquecemos todos que Cohen não era de desperdiçar palavras, nem em entrevistas, nem em sua literatura. No dia 25 de outubro, o titular deste blog publicou, no Jornal do Commercio, uma matéria sobre o novo disco, e deu uma geral na trajetória de Leonard Cohen. Abaixo a reprodução do texto:

leonard cohen you want it Em janeiro de 1966, numa reunião de poetas canadenses, entre os quais F.R. Scott, A.J.M. Smith, Layton Irving, Al Purdy, e Ralph Gustafson, Leonard Cohen tocou para eles um álbum de Bob Dylan, Bringing All Back Home, pedindo que prestassem atenção nas letras, porque o cantor era também um grande poeta. Al Purdy (1918/2000), um dos maiores poetas do Canadá, saiu da sala, reclamando: “Isto é um saco. Não suporto mais ouvir”. Cohen, ele próprio já um poeta e romancista celebrado na época, disse, de brincadeira, que seria o “Bob Dylan do Canadá”. Não imaginaria que ao longo de décadas teria que conviver com o epíteto: “Caiu na imprensa. Nunca diria isto, da mesma forma que não diria que seria o próximo William Yeats ou o próximo Bliss Carman (outro poeta nascido no Canadá). Coincidentemente, no dia em que o Bob Dylan americano ganhou o prêmio Nobel de Literatura, O “Bob Dylan Canadense” concedeu uma coletiva, para lançar seu 14º álbum, You Want it Darker (Sony Music), e teceu um sarcástico comentário sobre o Nobel para Dylan: “É feito dar uma medalha ao Monte Everest por ser a maior montanha do mundo”. Os dois são amigos, não escondem a admiração mútua. E é irônico que Dylan tenha sido o laureado, enquanto Cohen é um dos mais premiados escritores da literatura contemporânea no Canadá, com dezenas de livros, há muito tempo citado como um dos prováveis ganhadores do Nobel de Literatura. Com exceção do Nobel, ele já arrebatou os mais prestigiados prêmios literários, incluindo o espanhol Príncipe das Astúrias, também recebido por Bob Dylan, porém na mais genérica categoria de “Arte”, enquanto Cohen levou o seu em Literatura. Claro, não há possibilidades de compará-los, são dois poetas donos de estilos muito particulares. Cohen tem muito mais estrada na literatura e de vida (é oito anos mais velho). Em 1956, quando Bob Dylan idolatrava Elvis Presley, Leonard Cohen já era suficientemente reconhecido como um como um dos principais poetas da nova geração canadense.  Em compensação, quando ele lançou o álbum de estreia, Songs of Leonard Cohen, em 1967, Bob Dylan já tinha feito sua revolução, afastara-se dos palcos, e enfurnara-se em Woodstock, no interior do estado de New York. Aos 82 anos, Leonard Cohen lança um disco que até agora é unanimidade de crítica, assim como foi o anterior, Popular Problem (2014). Em You Want it Darker, ele volta enfatizando cada vez mais a poesia. Canta pausado, com voz de lixa, porém de boa dicção, como se tivesse fazendo um confissão, a canção emoldurada por sutilezas sonoras, de guitarras, sintetizadores, pianos, órgãos. A morte é um tema repetido no álbum, e onipresente em sua obra musical e literária. Provavelmente se fosse americano, Leonard Cohen teria se destacado mais como escritor. Seu segundo romance Beautiful Losers (1963) suscitou polêmica no Canadá. Livrarias não queriam aceita-lo, a editora o divulgou discretamente. O livro seguinte, de poemas, não foi menos discutido, muito mais pelo título, Flowers for Hitler. Lembrando que Leonard Cohen é judeu, de origem polonesa. DOS LIVROS AO DISCO A inclinação de Cohen para a música correu paralela à literatura, Geralmente lia os poemas em público munido de um violão. Em 1965, porém, com o fracasso comercial de Beautiful Losers, ele decidiu tentar a música como profissão. Iria à Nashville gravar um disco country, mas como sempre havia uma mulher no meio do caminho. No Inicio de 1966, ele foi à Nova Iorque encontrar Mary Martins, uma canadense, que vivia há anos na cidade, e conhecia todo mundo da cena folk. Foi ela que o levou a Judy Collins, bela, aristocrata, e uma das estrelas desta cena. Judy Collins, imortalizada por Stephen Stills em Judy’s Blue Eyes, gravada por Crosby, Stills, Nash & Young, estava gravando o quarto disco, e incluiu nele duas canções de Cohen, Suzanne, e Dress Rehearsal Rag. Daí em diante passou a gravá-lo em quase todos seus álbuns. Leonard entrou no círculo do Factory, de Andy Warhol, apaixonou-se pela chanteuse alemã Nico (que não escondia sua admiração pelo nazismo), musa inspiradora de várias canções nesta época, tocou com Jimi Hendrix, Jim Morrsion, Lou Reed (que o admirava como escritor) Leonard Cohen gravou sua primeira demo no banheiro do quarto do célebre hotel Chelsea, em Nova Iorque. Os executivos da CBS, assim como acontecera com Bob Dylan, cinco anos antes, acharam que John Hammond, que sugeriu a contratação de Coehn, estava mais uma vez equivocado. O canadense era um escritor, um poeta, não um músico. O produtor foi em frente. Em 19 de maio de 1967, Leonard Cohen entrava oficialmente no mundo da música. Neste dia ele assinou contrato com a CBS, e começou a gravar o álbum de estreia Songs of Leonard Cohen. DISCO Nos dois últimos discos que fez Leonard Cohen volta a ser o poeta que, na juventude, declamava seus versos em Montreal. Ele sussurra as palavras, dá-lhes um tom dramático, sobre a base instrumental montada pelo seu filho Adam Cohen, com guitarra, órgão, piano, violino, e um coro gospel feminino, tem ainda a participação do coro sinagoga Shaar Hashomayim da sinagoga, frequentada por Cohen na infância. A melodias são simples, básicas, como um blues, ou baladas rhythm and blues de poucos acordes, a exemplo de Leaving on the Table: “Abaixe a arma/ não vou dar o bote/não preciso de uma amante/a fera se acalmou”, canta o poeta que elegeu a morte e o sexo como temas recorrentes, que passou a vida à procura de respostas, seja em Hydra, na Grécia, enclausurado num mosteiro, ou nas viagens de ácido, mescalina, no começo dos anos 60. Confiram Leonard Cohen no áudio de Travelling Light: https://www.youtube.com/watch?v=okaqXB6Ns5s

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