João Gilberto e Stan Getz em gravações inéditas de 1976

O álbum Getz/Gilberto, de 1964, do saxofonista Stan Getz e João Gilberto, abriu as portas para a bossa nova não apenas nos EUA, como no resto do planeta. A participação involuntária de Astrud Gilberto em Garota de Ipanema (The Girl From Ipanema) escalou as paradas do mundo inteiro, competiu com os Beatles em popularidade, e fez dela um mito da música popular internacional. Em 1966, foi lançado Getz/Gilberto #2, uma versão ao vivo, gravada no Carnegie Hall. Dez anos mais tarde, Stan Getz e João Gilberto voltaram a gravar juntos, no álbum Best Of Two Worlds, com nomes de peso do jazz da Costa Oeste, e participação de Miúcha, então mulher de João Gilberto. Os dois fizeram uma série de shows juntos daquele disco, em maio de 1976, no Keystone Korner, lendário clube de jazz de San Francisco, na Califórnia. O registro dos concertos foram devidamente preservados pelo dono da casa, Todd Barkan. 40 anos depois, com Zev Feldman, do selo Resonance Records, Barkan assina a produção do álbum Getz/Gilberto 76, recém-lançado, em edição de CD Deluxe, digital (com direito a três faixas extras), e em vinil, limitados à duas mil cópias. Entre 1972 e 1983, o supra-sumo do jazz passou pelo palco do Keystone Korner, todos gravados em fita por Todd Barkan, que lançou discos de Freddie Hubbard, Tommy Flanagan, e do próprio Stan Getz. O filé destes tapes, no entanto, para Todd Barkan eram as gravações de Stan Getz e João Gilberto. Uma temporada realmente especial. Há quatro anos João Gilberto estava longe dos palcos e voltou em forma exuberante. Na abertura do disco, Todd Barkan, ao apresentaro baiano dá uma ideia do que ele representava: “João Gilberto ao meu ver é o mais importante cantor do nosso tempo”, em seguida elogia o canto sem vibrato, o violão, e diz que é um mistério o fato de João não gostar de fazer shows. E João faz mais que jus aos adjetivos. A abertura do show com É Preciso Perdoar (Carlos Coquejo/Alcyvando Luz), é um momento em que a música aproxima-se do sublime (é repetida no bis). Os dois são acompanhados pela pianista Joanne Brackeen, o baixista Clint Houston e o baterista Billy Hart, que tocam com a sutileza exigida pelo estilo de João. A gravação original tem leves alterações no volume, as vezes a voz e o violão estão mais à frente, as palmas incomodam quando irrompem no meio da música. O repertório privilegia canções do The Best of Two Worlds, com João Gilberto tocando compositores que foram influenciados pela bossa nova, como Gilberto Gil (Eu Vim Da Bahia), ou Chico Buarque (Retrato Em Branco E Preto, parceria com Tom Jobim),, Canta clássicos do começo de carreira, Chega De Saudade (Tom e Vinicius), Rosa Morena (Dorival Caymmi), e o instrumental Um Abraço No Bonfá. Sorte de quem viu ao vivo, os dois recriarem Doralice (Dorival Caymmi), com Stan Getz improvisando em cima do solo que criou para o álbum Getz/Gilberto 12 anos antes. Acompanha o disco, um detalhado libreto, com 32 páginas, com textos de Steve Getz (filho de Stan Getz), Carlos Lyra, dos músicos Joanne Brackeen e Billy Hart, e dos produtores Zev Feldman & Todd Barkan. E ainda, fotografias raras e inéditas. A capa da pintora porto-riquenh Olga Albizu (falecida em 2005), que assinou a capa do álbum Getz/Gilberto. João Gilberto e Stan Getz numa versão alternativa de Eu Vim da Bahia: https://www.youtube.com/watch?v=nnqrjWeR3bw