Mestre Camarão (1940/2015)
Mestre Camarão, na capa do seu primeiro LP, pela Mocambo Foi confirmado o falecimento o sanfoneiro mestre Camarão, hoje, em consequência de complicações cardíacas e renais. Ele se encontrava internado há uma semana no Santa Joana. Com a morte de Camarão, o forró não fica apenas mais pobre. Perde um dos últimos remanescentes da geração que veio logo em seguida a Luiz Gonzaga. Ele foi também um dos músicos que consolidou a sanfona como instrumento do forró, que tocou com todos os grandes, e marcou época com a Bandinha do Camarão, uma formação pioneira no forró. Camarão também é uma prova do descaso e preconceito de que são vítimas os forrozeiros. Pior, os discos que lançou ao longo de mais de 50 anos de carreira estão todos (sic) fora de catálogo. O sanfoneiro nasceu em Brejo da Madre de Deus, há 75 anos, e começou a tocar sanfona ainda criança. Numa entrevista ao JC, em 2003, ele relembrou a música que nordestina antes mesmo do advento de Luiz Gonzaga: “O forró como a gente chama hoje era conhecido por samba. Os sanfoneiros tocavam valsas, polcas, vi muitas vezes Zé Tatu tocando estes estilos. Estas músicas nordestinas, a não ser nos sítios, só tocavam no período junino. Só depois é que vieram as músicas de Luiz Gonzaga”. Camarão começou a ganhar a vida como músico tocando nos cabarés, em Caruaru, Serra Talhada, nas cidades do interior que tivessem cabarés animados. Foi em Caruaru, aos 20 anos, que ele pegou seu primeiro fixo, na Rádio Difusora: “Na vaga do sanfoneiro Zé Vaqueiro. Quem tocava antes de Zé Vaqueiro era Hermeto Pascoal, que o pessoal chamava de Sivuquinha”. O apelido Camarão veio, obviamente, por ele ser muito louro, de bochechas avermelhadas, e foi invenção de Jacinto Silva: “Um dia cheguei atrasado na rádio. No que entrei com a introdução, avexado, Jacinto não acertou e gritou: ‘De novo, Camarão’. O pessoal caiu no riso e a coisa pegou Camarão, recebia pensão vitalícia, por ter sido contemplado como Patrimônio Vivo da cultura pernambucana, mas não pensava em se aposentar. Porém, paradoxalmente, não demonstrava interesse em continuar com sua banda ou voltar a lançar disco: “Gravar para quê? Para presentear os amigos? Ninguém compra, não toca no rádio, e quando acontece de vender bem, no outro dia está no camelô pirateado”. O forró, este Camarão acha que não acaba nunca: “Na verdade, o forró nunca foi muito considerado, mas é feito aquele programa, Balança Mas Não Cai: balança, balança, mas não cai, vai continuar sempre”. Como irá continuar arte deste sanfoneiro de Brejo da Madre de Deus. Confiram mestre Camarão, ao vivo, no 14° de Sanfoneiros do Recife, em