Marlene (1922/2014)

Publicado em 14/06/2014 às 14:08
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A eterna Rainha do Rádio A eterna Rainha do Rádio "Acabei ultimamente Noite de Copacabana, que será em breve apresentado ao público, e considero este o meu último trabalho. Já tive oportunidade de ver algumas cenas desta película e ficaria muto contente se não fosse exibida, poupando-nos assim de mais uma decepção", a crítica ferina ao cinema nacional é de uma paulista, então com 27 anos, atriz e cantora, em entrevista à Revista do Rádio, no início de 1949. Chamava-se Vitória Bonaiutti De Martino, Marlene, o nome artístico (pela admiração por Marlene Dietrich), "A sambista diferente", uma das rainhas da era do rádio, falecida, ontem, sexta-feira, 13, no Hospital Casa Portuguesa, no Rio Comprido, Rio. Estava com 91 anos. Até os anos 60, Marlene via-se obrigada a ter um "Rainha do Rádio", atado ao seu nome, ou ser ligada, por associação à "rival "Emilinha Borba (1923/2005), o que lhe acontecia desde abril de 1949, quando foi eleita Raínha do Rádio, num concurso promovido pela ABR (Associação Brasileira de Rádio): "A princípio julgou-se que Emilinha venceria com facilidade já que, aparentemente, não havia outras candidatas com tanta projeção. Foi quando, de surpresa, surgiu o nome de Marlene, como verdadeira ameaça. Sustentada por um grupo de bons cabos eleitorais, Marlene foi ganhando terreno até conseguir uma liderança que não mais deixou, mercê de uma votação altíssima" (trecho da matéria da Revista do Rádio sobre o concurso). Emilinha não cumprimentou a vencedora, até porque ficou em humilhante terceiro lugar na votação, abaixo de Ademilde Fonseca. Começaria ai a rivalidade que se tornou lenda da Era do Rádio, e que na prática arrebatava facções de fãs, que se engalfinhavam nas ruas, na calçada Rádio Nacional, da qual Marlene e Emilinha eram contratadas. Porém, enquanto a segunda assumia o papel que lhe foi reservado e o representou até o fim, como artista e dona de casa exemplar, Marlene nos anos 60 transcendeu à cantora popular e virou intérprete de prestígio. E 1963, já gravava um LP que ia na contramão do sucesso fácil, Sa- sa, ruê - Marlene Pernambuco e sua Orquestra (Continental), lançando uma nova dança (a Sa-sa-ruê),e cantando um repertório inteiro de composições de Marino Pinto e Pernambuco, trompetista, pianista e maestro. Mesmo antes, Marlene já ia além dos sambas de meio de ano e marchinhas carnavalescas ou baiões. Mas daria a guinada na carreira em 1970, com o álbum É a maior (Fermata), registro do musical homônimo em que trabalhou com Fauzi Arap  (o título vem do grito de guerra das fanzocas, as famosas "macacas de auditório", dos anos 50) Um repertório de inspirações tropicalistas, trazendo no repertório dos sambas clássicos, alguns lançados pela própria cantora (a exemplo de Lata d'água, de Luiz Antonio e Jota Júnior), à música manifesto Tropicália (de Caetano Veloso, de quem canta mais duas composições no show). Milton Nascimento, Assis Valente, Monsueto e Wilson Batista, numa seleção irretocável. "Acho mais importante a letra dizer alguma coisa e ter um fundo musical. E essa rapaziada de hoje está dizendo exatamente o que eu queria dizer e não conseguia", comentou Marlene à jornalista Ana Maria Bahaia, em 1974, sobre o seu novo espetáculo Te pego pela palavra, em que foi acompanhada por Sivuca e o grupo Ré- Lax, e dirigda por Hermínio Bello de Caravalho.  Considerado um marco na obra de Marlene. Ela continuaria nos palcos, claro. Em 1976, fez o projeto Pixinguinha com Gonzaguinha (que teve apresentações no Recife, no Teatro do Parque). Esquivou-se até o final da vida a virar uma curiosidade ou fóssil musical. Seu ultimo disco de estúdio foi de 1998, Estrela da vida (Leblon Records), em que gravou de Chico Buarque (Geni e o Zeppelin, e Uma canção desnaturada), a Lulu Santos e Nelson Motta (Como uma onda), abrindo o disco com Apito no samba (Luiz Bandeira). A música que dá nome ao disco é de Marlene (com Paulo Baiano e Zé Carlos Asbeg) . Em 2007, foi lançado o DVD,  Marlene e os artistas do rádio, documentário, com show gravado no auditório da Rádio Nacional, , com partipações de jovens cantores (Chris Delano, Mariana Belém), e contemporâneos, como Bob Nelson, Carmélia Alves, Ademilde Fonseca e Ellen de Lima. Certamente, Emilinha Borba, falecida dois anos antes, seria convidada, e aceitaria participar da homenagem. As duas continuarão eternamente rainhas e rivais da Era do Rádio. Rivais também na era da Internet. As pesquisas por Emilinha Borba no google surgem sempre associadas ao nome de Marlene. Confiram Marlene no samba Lata d'água : https://www.youtube.com/watch?v=XNskWy9aIFs

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