INVESTIGAÇÃO | Notícia

Em presídio federal, líder de facção continuou dando ordens para tráfico de drogas e homicídios em Pernambuco

Operação cumpriu mais de 100 mandados de prisão e de busca e apreensão para desarticular grupo que atua fortemente na praia de Porto de Galinhas

Por Raphael Guerra Publicado em 15/04/2025 às 12:51 | Atualizado em 15/04/2025 às 14:23

Nem mesmo a transferência para a Penitenciária Federal de Porto Velho, em Rondônia, impediu o presidiário Osnir Cândido Urbano, o Osnir Cabeça, de continuar dando ordens para o tráfico de drogas e os homicídios em Pernambuco. Líder do Comando Litoral Sul (CLS), antigo Trem Bala, ele foi um dos alvos da operação Kéfale, deflagrada nesta terça-feira (15) para desarticular a facção que atua sobretudo na praia de Porto de Galinhas, Litoral Sul do Estado. 

A operação é resultado de uma investigação conduzida há mais de dois anos pela Força Integrada de Combate ao Crime Organizado em Pernambuco (Ficco/PE), coordenada pela Polícia Federal e que conta com membros de todas as polícias. Ao todo foram cumpridos, até agora, 53 mandados de prisão preventiva - sendo 14 em presídios federais e estaduais -, além de 49 mandados de busca e apreensão. Sete alvos seguiam foragidos. 

Os mandados foram cumpridos em Pernambuco e mais 10 estados: Paraíba, Rio Grande do Norte, Sergipe, Piauí, São Paulo, Mato grosso, Mato Grosso do Sul, Paraná, Tocantins e Rondônia.

O delegado federal Márcio Tenório, coordenador da Ficco/PE, explicou que a operação foi possível a partir da apreensão do celular do líder do grupo criminoso. Trocas de mensagens serviram de prova para identificar os integrantes e a forma como eles agiam no crime organizado. 

Osnir foi capturado em 2023, em outra operação. "Ele continuou dando ordens ao grupo por meio de recados repassados durante as visitas familiares. A mulher dele, inclusive, passou a morar em Rondônia. Ele foi presa nesta operação", afirmou Tenório. 

Conhecida pela extrema violência com que age com os rivais, a CLS é apadrinhada pelo Comando Vermelho (CV), do Rio de Janeiro, uma das maiores facções do País e que teve origem também no sistema prisional. 

O laboratório de lavagem de dinheiro da Polícia Civil de Pernambuco identificou que o CLS movimentou mais de R$ 49 milhões em apenas três anos. 

A facção tinha como base Porto de Galinhas, mas já atuava em vários municípios dos litorais Sul e Norte e na Região Metropolitana do Recife. 

NÚCLEOS IDENTIFICADOS NA FACÇÃO CLS

PF/DIVULGAÇÃO
Operação apreendeu armas de fogo com investigados - PF/DIVULGAÇÃO

"Existiam três núcleos. O primeiro era ligado ao tráfico de drogas, com criminosos cuidando da logística, transporte e venda. Há pessoas que foram presas nesta operação que estão em outros estados, mas atuavam nesse núcleo. O segundo é de segurança para o tráfico e para os integrantes do grupo. O terceiro núcleo é o da lavagem de dinheiro", contou Márcio Tenório.

Segundo ele, empresas de fachada - nos ramos do transporte, alimentos, ensino e treinamento - eram criadas para a lavagem do dinheiro adquirido pelo tráfico de drogas. "Havia uma movimentação formal, com emissão de notas fiscais, para que o dinheiro circulasse."

A cocaína e o crack comercializados pelo grupo criminoso chegavam ao País por meio das fronteiras, sobretudo da Bolívia. 

MANDADOS CUMPRIDOS NO SISTEMA PRISIONAL

De acordo com o secretário de Administração Penitenciária e Ressocialização de Pernambuco, Paulo Paes, 14 mandados de prisão preventiva foram cumpridos no sistema prisional, dois deles nas unidades federais. 

Em Pernambuco, também foram cumpridos mandados no Presídio de Tacaimbó, Presídio de Igarassu, Complexo Prisional do Curado (detento que antes estava na Penitenciária Barreto Campelo) e no Centro de Observação e Triagem (Cotel). 

SECRETÁRIO PROMETE MAIOR PRESENÇA DA POLÍCIA EM PORTO DE GALINHAS

O secretário de Defesa Social, Alessandro Carvalho, declarou que ações estão sendo adotadas nas áreas onde a CLS atuava para evitar a ocupação por novos grupos criminosos. 

"Sempre que há uma operação semelhante, nós imediatamente fazemos a saturação da área. Haverá uma maior presença da Polícia Militar, com acompanhamento para que outros grupos não tomem a área. O território de Porto de Galinhas tem uma demanda grande por drogas. Isso já é monitorado", disse Carvalho. 

 

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