EXCLUSIVO | Notícia

Casal de turistas denuncia extorsão em posto policial, em Porto de Galinhas: 'Pesadelo'

Em abordagem, militares teriam cobrado dinheiro em espécie para liberar motorista e a esposa, que passavam férias no Litoral Sul de Pernambuco

Por Raphael Guerra Publicado em 12/02/2025 às 15:03

Um casal de turistas denuncia que foi vítima de extorsão em um posto do Batalhão da Polícia Rodoviária Estadual (BPRv) localizado em Porto de Galinhas, Ipojuca, cartão-postal do Litoral Sul de Pernambuco. Dois policiais militares teriam cobrado dinheiro em espécie para liberar o casal, que passava férias pela primeira vez no Estado.

A abordagem aconteceu no dia 7 de fevereiro, quando o casal do Rio Grande do Sul seguia de carro perto da unidade policial, que fica às margens da PE-009. A coluna Segurança teve acesso com exclusividade ao boletim de ocorrência registrado na Delegacia de Porto de Galinhas. 

Segundo o motorista Fabrício Martins, a dupla de PMs ordenou que o carro fosse parado e pediu que ele apresentasse a carteira de habilitação. Em seguida, mandou que somente ele entrasse no posto do BPRv para realizar o teste do bafômetro.

O exame teria apresentado um resultado positivo para consumo de álcool, o que chamou a atenção do turista. Ele relatou, na queixa, não ter consumido bebidas naquele dia. Apenas tomado café da manhã com a esposa. 

Um dos policiais, segundo o turista, teria pedido R$ 3 mil em espécie para liberá-lo com a carteira de habilitação. Fabrício disse que não tinha o valor, mas que poderia fazer um PIX.

Os policiais não teriam aceitado. Em meio às "negociações", um militar teria mandado o motorista ir até um posto de combustíveis próximo para sacar R$ 400, que seria dividido entre os dois PMs. Ainda determinou, segundo a vítima, que o dinheiro fosse entregue no posto do BPRv, onde não há câmeras. 

Os policiais prometeram que um deles faria um "segundo teste do bafômetro" para que o resultado não indicasse o consumo de álcool. Depois que a quantia foi repassada, o casal foi liberado. 

"VIAGEM SE TORNOU UM PESADELO"

Em entrevista à coluna, nesta quarta-feira (12), Fabrício contou que estava com a esposa passando sete dias na praia de Maracaípe. Mas que, após o episódio, ambos ficaram assustados e não conseguiram mais aproveitar os dias de descanso.

"A viagem se tornou um pesadelo. Decidimos fazer a denúncia na delegacia após sabermos por moradores que essas abordagens policiais eram muito comuns na área. Nos sentimos muito inseguros", contou.

Segundo ele, os policiais estavam fardados, mas não exibiam a identificação.

"O posto também não tinha câmera e os vidros das janelas eram escuros. Minha mulher ficou do lado de fora e tentou observar a movimentação. Ficou muito preocupada. Foram cerca de 20 minutos", disse.

O turista disse que não pretende voltar a Pernambuco após o episódio. "Nunca imaginei passar por isso. E pretendemos processar o Estado."

INVESTIGAÇÃO

O boletim de ocorrência foi registrado no dia seguinte à abordagem policial. Em nota, a Corregedoria da Secretaria de Defesa Social (SDS) informou que, por se tratar de um crime militar, "instaurou uma Investigação Preliminar (IP) para verificar os fatos ocorridos".

Disse ainda que "não compactua com qualquer de desvio de conduta e reafirma seu compromisso com a segurança e o bem-estar da sociedade pernambucana".

CASO SEMELHANTE

Em outubro do ano passado, um turista procurou a Delegacia de Porto de Galinhas para denunciar que PMs o abordaram e cobraram dinheiro para que ele não fosse multado.

Segundo o relato, o turista e a esposa seguiam da praia de Maragogi, em Alagoas, com destino a Posto de Galinhas. A abordagem também aconteceu na PE-009.

Os PMs teriam cobrado dinheiro após o motorista confessar que havia consumido bebida alcoólica nas últimas horas.

Os celulares do casal descarregaram, e a transferência não foi feita. Os PMs passaram um número de CNPJ, dizendo ser a chave do PIX, e determinaram que o pagamento fosse realizado até as 19h daquele dia, caso contrário o motorista seria multado. 

O casal foi embora do local e procurou a ajuda de um advogado. A quantia não foi repassada. 

COMO DENUNCIAR?

As vítimas de crimes cometidos por policiais em Pernambuco podem procurar a Corregedoria da SDS para o registro da queixa. O prédio fica na Avenida Conde da Boa Vista, nº 428, no bairro da Boa Vista, área central do Recife. O funcionamento é 24 horas.

As denúncias também podem ser feitas por e-mail: denuncia@corregedoria.sds.pe.gov.br. Outra opção é por  telefone: (81) 3184-2772.

Já a Ouvidoria da SDS está disponível pelo telefone 181 ou 0800-081-5001, de segunda a sábado, das 7h às 19h.

Compartilhe