Câncer de pele: tipos, riscos e tratamento; entenda o diagnóstico de Bolsonaro
Oncologista explica diferenças entre os tumores cutâneos, quando há risco de metástase, avanços nos tratamentos e importância do diagnóstico precoce
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O diagnóstico de câncer de pele do ex-presidente Jair Bolsonaro, divulgado em boletim médico nesta semana, reacendeu o debate sobre o tipo de tumor mais incidente no Brasil. De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca), os tumores cutâneos representam 31,3% do total de casos de câncer no País.
O oncologista Guilherme Roeder, professor do IDOMED, explica que os tumores cutâneos se dividem em dois grandes grupos: os não melanoma — carcinoma basocelular e espinocelular, caso do ex-presidente — e o melanoma, considerado o mais agressivo.
Segundo o especialista, os cânceres de pele não melanoma são os mais comuns em humanos e, na maioria dos casos, têm evolução lenta e baixo risco de complicações graves.
“São cânceres curáveis em praticamente 100% dos casos, com uma ressecção cirúrgica, com um tratamento simples local. O grande ponto desses carcinomas de pele é que eles costumam acometer áreas que têm maior impacto estético, como face, couro cabeludo, dorso das mãos e antebraço”, afirmou.
Já o melanoma preocupa pela capacidade de disseminação. “Esse sim é um tipo de câncer que pode mandar metástases para outros lugares. Clinicamente costuma se manifestar por lesões pigmentadas, pintas azuladas, violáceas, com vários tons coloridos e aspecto irregular”, explicou.
Quando há risco de metástase?
O oncologista reforça que, nos carcinomas não melanoma, a possibilidade de metástase é muito remota. “O carcinoma espinocelular, quando mais avançado, num grau histológico maior, pode mandar metástase para linfonodos, ossos, pulmão e fígado. Mas a esmagadora maioria dos carcinomas de pele não melanoma não tem essa capacidade”, detalhou.
No caso do melanoma, o risco depende da profundidade da infiltração na pele. “Se houver acometimento de vasos sanguíneos ou linfáticos, aí sim existe chance de disseminação. Por isso, a forma correta da biópsia é fundamental para estimar o risco da doença voltar em algum momento”, acrescentou.
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Tratamento e avanços recentes
O tratamento inicial mais comum é a cirurgia para retirada da lesão. Roeder ressalta que a maioria dos carcinomas não melanoma é curada com o procedimento. “São tumores indolentes, em que risco iminente de vida é muito raro. Detectados precocemente, a perspectiva curativa é praticamente 100%”, disse.
Nos casos de melanoma, os avanços têm mudado o prognóstico. “A imunoterapia foi um divisor de águas. Pacientes graves, metastáticos, que tinham perspectivas ruins com as medicações antigas, passaram a ter possibilidades de ganho de sobrevida muito amplo, inclusive perspectivas curativas em estágios antes considerados impossíveis de cura”, destacou.
O caso de Jair Bolsonaro
De acordo com informações extraoficiais, Bolsonaro teria tido um carcinoma espinocelular, do grupo dos não melanomas, afirma o médico.
“É um tipo de câncer de pele extremamente comum, no qual a esmagadora maioria dos pacientes vai ser curada somente com a ressecção cirúrgica. É bem provável que, não sendo lesões grandes, a própria cirurgia tenha sido curativa e que não haja demanda de outros tratamentos como quimioterapia ou radioterapia”, avaliou o oncologista.
O impacto, nesses casos, tende a ser mais estético do que clínico.
Quando procurar um médico?
Roeder reforça que o diagnóstico precoce é decisivo. “Qualquer ferida que não cicatrizar em 30 a 45 dias, que forma casquinha, cai e continua, ou que sangre com frequência, deve suscitar a necessidade de investigação. E qualquer pinta escurecida, violácea, de crescimento rápido ou de aparecimento recente, também deve ser avaliada”, orientou.
Além disso, pessoas com pele, olhos e cabelos claros, ou com alta exposição solar sem proteção, devem realizar avaliação dermatológica anual ou a cada dois anos.
“Resumindo, os cânceres de pele não melanoma costumam ser de prognóstico excepcional, com pequenos procedimentos locais. Já os melanomas são mais graves, mas quando diagnosticados cedo também têm um prognóstico razoável”, concluiu Roeder.