Falta de pré-natal e desigualdades aumentam risco de anomalias congênitas, aponta estudo da Fiocruz

Pesquisa analisou dados de 26 milhões de nascimentos no Brasil e concluiu que fatores como a ausência de pré-natal influenciam em malformações

Por Maria Clara Trajano Publicado em 22/07/2025 às 17:55

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Um estudo realizado pela Fiocruz Bahia, com base em dados de mais de 26 milhões de nascimentos no Brasil entre 2012 e 2020, revelou que mulheres que não fazem o pré-natal têm 47% mais chances de ter um bebê com anomalias congênitas.

A análise identificou ainda que questões socioeconômicas e biológicas influenciam diretamente na ocorrência dessas alterações, como raça, idade materna e escolaridade.

A pesquisa foi publicada no periódico científico BMC Pregnancy and Childbirth e teve como autora a pesquisadora Qeren Hapuk, associada ao Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde (Cidacs/Fiocruz Bahia).

O objetivo foi compreender como fatores evitáveis podem contribuir para o nascimento de crianças com malformações como defeitos cardíacos, de membros, do tubo neural, fenda oral, genitais, microcefalia, entre outros.

Fatores de risco e desigualdades sociais

Segundo o estudo, além da ausência de consultas pré-natais no início da gestação, mulheres pretas apresentaram 16% mais risco de ter filhos com anomalias em comparação com mães brancas.

A idade materna também foi determinante: mulheres acima dos 40 anos tinham quase 2,5 vezes mais risco, enquanto mães com menos de 20 anos apresentaram 13% a mais de chance do que mulheres entre 20 e 34 anos.

A escolaridade também pesou: mães com até três anos de estudo tinham 8% mais chance de ter filhos com anomalias do que aquelas com 12 anos ou mais de educação formal.

“Esses dados nos mostram que a desigualdade socioeconômica em conjunto com fatores biológicos impactam diretamente na saúde e desenvolvimento do bebê”, destaca a pesquisadora Qeren Hapuk.

Ela reforça que os fatores de risco identificados são, em grande parte, evitáveis ou modificáveis. “Intervenções em educação materna, planejamento reprodutivo, nutrição e, principalmente, acesso ao pré-natal são fundamentais para a prevenção de anomalias congênitas”, afirma.

Defeitos mais frequentes e associação com fatores

A pesquisa detalhou que defeitos do tubo neural, como a espinha bífida, foram fortemente ligados à baixa escolaridade, ausência de pré-natal e gestação múltipla.

Já os defeitos cardíacos apresentaram relação com idade materna avançada, histórico de perda fetal e pré-natal inadequado. Casos de Síndrome de Down foram majoritariamente associados a gestantes com mais de 40 anos.

Diferenças regionais e impacto da epidemia de zika

O estudo também apontou diferenças regionais significativas na notificação e ocorrência das anomalias. A região Sudeste foi a que apresentou melhor sistema de notificação, enquanto o Nordeste, com alta concentração de população em situação de pobreza, registrou maior proporção de defeitos do tubo neural.

A má alimentação e o baixo acesso a suplementação com ácido fólico, por exemplo, são elementos associados a esse tipo de malformação.

A pesquisa também considerou o impacto da epidemia do vírus zika, entre 2015 e 2016, que resultou no aumento de casos de microcefalia e outras anomalias neurológicas, especialmente no Nordeste, influenciando os dados do período analisado.

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