Frenectomia: entenda quando é indicada a cirurgia para remover o freio lingual ou labial
Cirurgia simples corrige alterações no freio lingual ou labial que podem afetar amamentação, fala, mastigação e saúde bucal

A frenectomia, cirurgia para remover ou corrigir o freio lingual ou labial, tem se tornado cada vez mais comum no Brasil. O procedimento, que pode parecer simples, tem um impacto direto na fala, na alimentação, na amamentação e até na estética bucal.
Segundo a cirurgiã-dentista Patrícia Georgevich, presidente da Câmara Técnica de Odontopediatria do Conselho Regional de Odontologia de São Paulo (CROSP), cerca de uma em cada cinco crianças nasce com a chamada “língua presa”, condição que pode exigir a cirurgia.
Dados do Ministério da Saúde apontam um crescimento de mais de 65% na realização de frenectomias entre 2021 e 2023.
O que é e quando é indicada a frenectomia?
O freio é uma pequena faixa de tecido que fica sob a língua (freio lingual) ou entre o lábio superior e a gengiva (freio labial). Quando ele é muito curto, espesso ou está mal posicionado, pode causar diversos problemas:
- Freio lingual curto: atrapalha a amamentação, a mastigação, a fala e, em alguns casos, até o desenvolvimento da arcada dentária;
- Freio labial: pode provocar espaçamento entre os dentes da frente (diastema), sorriso gengival, dificuldades na escovação, problemas com próteses e até retração gengival.
A indicação da frenectomia depende de avaliação conjunta de profissionais como odontopediatras, cirurgiões-dentistas, pediatras, fonoaudiólogos e otorrinolaringologistas. A cirurgia é recomendada quando o freio compromete funções essenciais, como alimentação, fala, respiração e higiene bucal.
Quais são as causas?
A alteração geralmente é congênita, associada a fatores genéticos ou a alterações no desenvolvimento do bebê durante a gestação. Em alguns casos, surge sem histórico familiar. Nascimentos prematuros também podem estar relacionados.
Como é feito o procedimento?
Existem duas técnicas principais:
- Cirurgia convencional: feita com bisturi, tesoura ou bisturi elétrico. Envolve cortes no tecido e, geralmente, pontos que podem ser absorvidos ou retirados posteriormente;
- Cirurgia a laser: mais moderna, praticamente sem sangramento e, na maioria das vezes, dispensa pontos. A recuperação costuma ser mais rápida e confortável.
Ambas são realizadas com anestesia local e devem ser feitas por profissionais habilitados. "É fundamental que quem execute o procedimento tenha capacitação específica e que o paciente faça acompanhamento no pós-operatório, a curto, médio e longo prazo", reforça Patrícia.
Riscos e cuidados no pós-operatório
Apesar de ser um procedimento seguro, a frenectomia, como qualquer cirurgia, envolve alguns riscos:
- Sangramento, mais comum na região da língua;
- Dor e inchaço, geralmente leves e controláveis com medicamentos;
- Risco de infecção, principalmente se a higiene bucal não for adequada;
- Cicatrização inadequada, podendo levar à necessidade de nova intervenção.
Cuidados essenciais:
- Optar por alimentos líquidos, pastosos e frios nos primeiros dias;
- Evitar comidas quentes, duras, ácidas e apimentadas;
- Fazer compressas frias para aliviar o inchaço;
- Evitar esforço físico, sol e bebidas alcoólicas;
- Manter boa higiene bucal, com escova macia e sem bochechos vigorosos.
No caso de bebês, podem ser necessários exercícios específicos para evitar a readesão do freio, sempre com orientação fonoaudiológica.
Cautela com recém-nascidos
O conselheiro do CROSP, José Carlos Imparato, faz um alerta: é preciso evitar o excesso de indicações cirúrgicas, especialmente em recém-nascidos.
“É necessário muito cuidado para não gerar efeitos indesejados, como aversão oral ou até desmame precoce, o que tem sido observado em alguns casos após procedimentos feitos de forma inadequada", afirma.
Recuperação e prognóstico
Com indicação correta, técnica adequada e acompanhamento profissional, a frenectomia tem alto índice de sucesso e promove melhorias significativas na qualidade de vida dos pacientes.