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Todo ano o mesmo colapso: Pernambuco atinge 100% de ocupação em UTI neonatal; mais de 60 crianças esperam por vaga

Há sobrecarga de demanda nas unidades de saúde: há mais crianças precisando de assistência em UTI do que a capacidade que o governo tem para atender

Por Cinthya Leite Publicado em 28/05/2025 às 18:31

Por mais um ano, o ciclo se repete em Pernambuco: a chegada do período sazonal de doenças respiratórias graves (iniciado em março, com previsão de terminar em agosto) desencadeia uma crise anunciada no sistema público de saúde.

Apesar dos reiterados discursos de preparo por parte do governo estadual, o cenário familiar mostra um sistema colapsado: hospitais lotados, unidades de terapia intensiva (UTIs) sem vagas e crianças à espera de leitos intensivos em situação de risco. Hoje, em Pernambuco, todas as UTIs neonatais da rede pública estadual estão com bebês que apresentam quadro respiratório grave. Ou seja, a ocupação chegou a 100%.

A situação de colapso demonstra uma sobrecarga de demanda nas unidades de saúde: há mais crianças precisando de assistência em UTI do que a capacidade que o governo de Pernambuco tem para atender. 

Segundo dados da Secretaria Estadual de Saúde (SES-PE), já foram abertos 253 novos leitos pediátricos em 2025, o que elevou para 483 o total de vagas do tipo disponíveis para síndrome respiratória aguda grave (srag). Mas os números não escondem a realidade mais dura: 61 crianças seguem na fila por uma vaga em UTI e aguardam uma estrutura que insiste em não acompanhar a previsibilidade da sazonalidade.

"A Secretaria Estadual de Saúde de Pernambuco (SES-PE) reforça que todos os pacientes em espera continuam recebendo assistência especializada, com o acompanhamento de equipes multidisciplinares e suporte respiratório, conforme a necessidade individual de cada caso", garante a pasta.  

Nesta quarta-feira (28), o governo de Pernambuco decretou situação de emergência em saúde pública por 90 dias, prorrogáveis, diante do aumento expressivo de casos de srag, especialmente em crianças.

O decreto, publicado no Diário Oficial, concede ao Estado poderes para adotar medidas administrativas emergenciais. A justificativa oficial: a pressão sobre a rede de UTIs pediátricas e neonatais, que opera com taxas alarmantes: 93% de ocupação nas UTIs pediátricas e 100% nas neonatais.

O argumento da SES-PE é conhecido: o sistema de regulação é "dinâmico", dependente do "giro de leito" e das complexidades envolvidas nas transferências. Ainda assim, a gestão falha em responder de forma estruturada a um fenômeno que se repete anualmente, com implicações diretas e graves na vida de dezenas de famílias.

Sempre nos perguntamos: se o Estado reconhece antecipadamente o período crítico, por que não consegue estruturar com eficácia a ampliação da rede assistencial antes que o colapso se instale?  

Outro ponto que precisamos analisar é o fato de o governo divulgar números sobre a abertura de leitos. Isso não apaga a imagem recorrente de crianças em situação de risco. Com planejamento robusto, não se chegaria à fila de espera como agora, com mais de 60 crianças.

O sentimento é de que há ausência de uma plano permanente para expandir e qualificar a rede pediátrica, o que leva a saúde infantil à vulnerabilidade. Emergência decretada é, em muitos casos, gestão falha formalizada.

Os números:

  • 483 leitos exclusivos para srag estão disponíveis em Pernambuco
  • 100% das vagas neonatais (destinadas a recém-nascidos até os 28 dias de vida) estão ocupadas
  • 93% dos leitos em UTI pediátrica (para crianças após 28 dias de vida) estão com pacientes
  • 61 crianças aguardam vaga em UTI pediátrica
  • 89% das vagas em enfermaria pediátrica estão ocupadas

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