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Mounjaro ou Wegovy? Qual o mais potente na perda de peso? Cientistas comparam e respondem

Segundo estudo, tirzepatida (Mounjaro) foi superior à semaglutida (Wegovy) em metas de redução de peso e redução da circunferência da cintura

Por Cinthya Leite Publicado em 12/05/2025 às 12:40 | Atualizado em 12/05/2025 às 12:56

Um estudo conduzido em adultos com obesidade ou sobrepeso, sem diagnóstico de diabetes e com pelo menos uma comorbidade relacionada ao excesso de peso, demonstrou que a tirzepatida (Mounjaro) superou a semaglutida (Wegovy) em eficácia e segurança ao longo de 72 semanas.

Os dados fazem parte do estudo clínico de fase 3b Surmount-5, que comparou a tirzepatida (um duplo agonista dos receptores GIP e GLP-1) com a semaglutida (agonista de GLP-1).

A tirzepatida apresentou resultados superiores no desfecho primário e em todos os cinco desfechos secundários principais. Os achados foram anunciados, nesta segunda-feira (12), pela farmacêutica Eli Lilly and Company e apresentados no 32º Congresso Europeu sobre Obesidade (ECO), realizado em Málaga, na Espanha. Os resultados foram publicados simultaneamente no periódico The New England Journal of Medicine.

No Brasil, a tirzepatida (Mounjaro) foi aprovada para o tratamento de adultos com diabetes tipo 2 em setembro de 2023. A tirzepatida para o tratamento da obesidade já foi submetida para aprovação regulatória da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), e a Lilly aguarda essa avaliação. 

Tirzepatida: quanto emagrece com Mounjaro?

No desfecho primário (principais resultados que um estudo ou tratamento pretende avaliar) do  Surmount-5, os participantes tratados com a tirzepatida alcançaram uma redução média de peso de 20,2% em comparação a 13,7% com a semaglutida, em 72 semanas com base na estimativa de regime de tratamento - ou seja, uma perda de peso relativa 47% maior.

Em média, os pacientes em uso de tirzepatida perderam 22,8 kg, enquanto os que estavam em uso de semaglutida perderam 15 kg.

ELI LILLY/DIVULGAÇÃO
Tratamento mensal terá um custo inicial a partir de R$ 1.400 para os pacientes inscritos no Lilly Melhor Para Você - ELI LILLY/DIVULGAÇÃO

Em um desfecho secundário principal (corresponde ao resultado não principal do estudo, mas que é monitorado para auxiliar na interpretação dos resultados do desfecho primário) do Surmount-5, a tirzepatida alcançou resultados superiores em todas as metas de redução de peso corporal, com 64,6% dos participantes em uso de tirzepatida alcançando pelo menos 15% de perda de peso, em comparação com 40,1% daqueles tratados com semaglutida.

Mounjaro, é eficaz na redução da circunferência abdominal? 

Além disso, os participantes tratados com tirzepatida alcançaram uma redução média superior de circunferência abdominal de 18,4 cm, enquanto os tratados com semaglutida tiveram uma redução média de 13 cm.

A circunferência abdominal aumentada é um indicador importante para tratamento porque está associada a um maior risco de doenças metabólicas, como diabetes tipo 2, problemas cardiovasculares, hipertensão, dislipidemias (colesterol e triglicerídeos altos) e síndrome metabólica. 

"Graças aos mais recentes avanços em medicamentos para o controle da obesidade, mais médicos e pacientes estão vivenciando níveis de redução de peso nunca vistas anteriormente", afirma médico americano Louis J. Aronne, membro do American College of Physicians e do American Board of Obesity Medicine. Ele também é investigador do Surmount-5. 

"Tirzepatida (Mounjaro) é opção de tratamento para pessoas com obesidade"

"No Surmount-5, a tirzepatida demonstrou uma magnitude significativamente maior de redução de peso, em comparação com semaglutida em todas as comparações", afirma o endocrinologista Leonard Glass, membro da American Association of Clinical Endocrinology e vice-presidente sênior de assuntos médicos globais da área de Cardiometabolismo da Lilly.

"Os resultados confirmam tirzepatida como uma excelente opção de tratamento para pessoas que vivem com obesidade, além de fornecer evidências científicas para que os profissionais de saúde tomem decisões relevantes no tratamento da obesidade."

Lilly aguarda avaliação regulatória de tirzepatida para o tratamento da obesidade no Brasil

O diretor médico sênior da Eli Lilly do Brasil, Luiz Magno, destaca que, no País, a Lilly aguarda a avaliação regulatória de tirzepatida para o tratamento da obesidade, e os resultados de estudo como o Surmount-5 só reforçam o potencial da molécula para essa indicação.

"Temos mais de um bilhão de pessoas que vivem com obesidade no mundo e, no Brasil, um em cada quatro adultos têm obesidade. Essa doença crônica é um grande desafio de saúde pública. Temos estudos que mostram mais de 200 complicações relacionadas. Por isso, novos tratamentos com resultados tão positivos são importantes para contribuir para a vida de quem convive com essa doença tão prevalente", afirma Luiz Magno. 

Tirzepatida e semaglutida: eventos adversos

O perfil geral de segurança de tirzepatida no estudo Surmount-5 foi semelhante aos estudos Surmount realizados anteriormente.

Os eventos adversos mais comumente relatados no estudo tanto para tirzepatida quanto para semaglutida foram relacionados ao trato gastrointestinal, considerados de leves a moderados.

Durante o estudo, 6,1% dos participantes que tomaram tirzepatida descontinuaram o tratamento devido a eventos adversos, em comparação com 8% dos participantes que tomaram semaglutida.

No entanto, o estudo não foi projetado para comparar a segurança e a tolerabilidade de tirzepatida com as de semaglutida.

A tirzepatida é o único tratamento duplo agonista dos receptores GIP e GLP-1 aprovado pela Food and Drug Administration (FDA) para reduzir o excesso de peso corporal e para manutenção da redução de peso no longo prazo.

O medicamento deve ser usado a partir de recomendação médica e em combinação a mudança de estilo de vida que incluem dieta e exercícios físicos.

Surmount-5: estudo mostrou que tirzepatida (Mounjaro) leva a uma perda de até 20% do peso

 

O Surmount-5 foi um estudo multicêntrico, randomizado, aberto, de fase 3b que comparou a eficácia e a segurança de tirzepatida com semaglutida em adultos com obesidade ou sobrepeso, com pelo menos uma das seguintes comorbidades: hipertensão, dislipidemia, apneia obstrutiva do sono ou doença cardiovascular, que não tinham diabetes.

Os participantes de ambos os grupos de tratamento receberam orientação sobre uma dieta de calorias reduzidas e aumento da atividade física.

O ensaio randomizou 751 participantes nos Estados Unidos e em Porto Rico numa proporção de 1:1 para receber a dose máxima tolerada (DMT) de tirzepatida (10 mg ou 15 mg) ou semaglutida (1,7 mg ou 2,4 mg).

Com tirzepatida, 89,3% dos participantes receberam pelo menos uma dose de 15 mg e com semaglutida 92,8% dos participantes receberam pelo menos uma dose de 2,4 mg.

O objetivo principal do estudo foi avaliar a superioridade da tirzepatida em comparação com a semaglutida na mudança percentual do peso corporal em relação ao valor basal ao longo de 72 semanas.

O que dizem as entidades médicas no Brasil?

Leia abaixo, na íntegra, comentário conjunto da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) com a Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso) sobre o estudo:

"Trata-se de um trabalho de pesquisa clínica que, pela primeira vez, compara dois produtos eficazes para o tratamento da obesidade. O estudo demonstrou uma maior redução percentual de peso e de circunferência abdominal com o uso da tirzepatida, quando comparada à semaglutida, após 72 semanas de tratamento. Ambos os medicamentos apresentaram perfis semelhantes de segurança consistentes com estudos prévios. 

A semaglutida, por sua vez, já demonstrou em estudos anteriores desfechos clínicos relevantes adicionais, como proteção de eventos cardiovasculares. A tirzepatida, tendo mostrado perda de peso superior, aguarda a consolidação de seus efeitos em desfechos de proteção cardiovascular.

Diante dessas evidências, reforçamos a importância de que o tratamento da obesidade seja individualizado, conduzido por médicos habilitados e baseado em critérios científicos, levando em conta as características clínicas do paciente, preferências, disponibilidade terapêutica e monitoramento rigoroso."

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