O pão dá a volta por cima: o que diz a ciência sobre o alimento mais antigo do mundo
Embora ofereça nutrientes, como as fibras e as vitaminas do complexo B, o alimento tem sido visto como "vilão". Veja o que diz a ciência

Por Regina Célia Pereira, da Agência Einstein
Ele convive com a humanidade há pelo menos 6 mil anos e, desde então, aparece nas mesas dos quatro cantos do mundo, em diferentes formatos e receitas.
No entanto, mesmo com tamanha popularidade, nas últimas décadas o pão tem sido acusado de desencadear danos à saúde. Na lista de problemas estão a obesidade, as inflamações e até mesmo o câncer.
O pão realmente causa câncer?
Cientistas de universidades dos Estados Unidos e do Reino Unido resolveram investigar o elo com tumores e elaboraram uma revisão de estudos, publicada recentemente no periódico Current Developments in Nutrition.
A conclusão diz que o consumo de pão não apresenta relação com o aumento do risco de câncer.
“Inclusive, o trabalho mostra que pães integrais podem até ter efeito protetor”, comenta a nutricionista Giuliana Modenezi, do Espaço Einstein Esporte e Reabilitação, do Hospital Israelita Albert Einstein.
Existem evidências de que as fibras e outros nutrientes presentes no alimento ajudam a reduzir o risco de câncer no intestino. E há outros motivos pelos quais o pão pode somar a uma dieta equilibrada e saudável.
Por que o pão foi excluído de muitas dietas?
O pão tem sido banido da rotina alimentar de muita gente sem justificativas científicas, muitas vezes na onda de dietas "do momento", sobretudo as low carb, aquelas que propagam a restrição de carboidrato. Contudo, o que prega a nutrição moderna é que, dentro do equilíbrio, esse macronutriente jamais deveria ficar de fora.
O papel essencial do carboidrato
O carboidrato é fonte de energia, portanto, indispensável para a realização de atividades cotidianas, de exercícios físicos e ao funcionamento do cérebro. Sua falta pode desencadear desânimo e afetar o humor, até porque ele participa da produção de neurotransmissores — os mensageiros químicos responsáveis pela comunicação entre os neurônios — envolvidos com o bem-estar, caso da serotonina.
A polêmica do glúten
Outro motivo por trás da reputação negativa do pão é o glúten. Trata-se de uma proteína presente no trigo e em outros cereais, como a cevada e o centeio, além de seus derivados. É o responsável pela consistência do pãozinho, dá sustentação à massa e está por trás da crocância da casca e da maciez do miolo.
Apesar desses predicados culinários, a substância provoca danos às pessoas com doença celíaca, um distúrbio autoimune que acomete 1% da população mundial. Nos celíacos, um dos componentes do glúten, chamado de gliadina, desencadeia uma resposta inflamatória, capaz de danificar os enterócitos, ou seja, as células intestinais.
O resultado desse processo é diarreia, má absorção de vitaminas e minerais e o comprometimento do estado nutricional. A exclusão total de alimentos com glúten é a estratégia de tratamento para essa condição específica.
Intolerância ou sensibilidade ao glúten
Também há indivíduos com intolerância ou sensibilidade ao glúten — nesse caso, a digestão dessa proteína não ocorre de maneira eficiente, resultando em distensão abdominal, desarranjos e outros desconfortos. Para bater o martelo, tanto para a doença celíaca quanto para a intolerância, é fundamental o diagnóstico médico após a realização de exames.
O glúten faz mal para todos?
No caso de quem não sofre com essas condições, não existem motivos para eliminar o pão e outros alimentos com glúten do dia a dia. Porém, nos últimos tempos pipocaram as chamadas dietas “antiglúten”, com foco no emagrecimento e sem nenhum respaldo da ciência. Também se observa a mesma escassez de estudos para a acusação de que o glúten teria efeito inflamatório.
Como inserir o pão no cotidiano de forma saudável?
Em planos alimentares considerados exemplares, caso da Dieta Mediterrânea, o pão tem seu espaço garantido, mas é consumido dentro de um contexto equilibrado, sem excessos. “Pode aparecer no café da manhã ou no lanche intermediário e até mesmo no jantar, como opção de carboidrato”, diz a especialista.
Estratégias para consumir pão de forma saudável
- Opte por versões de fermentação natural: Pães elaborados com o levain, ou seja, por meio da fermentação natural, tendem a ser melhor digeridos. Outra vantagem é que esses produtos estão livres de conservantes e outros aditivos.
- Escolha pães integrais: Em comparação com o pão branco, o integral é mais rico em vitaminas do complexo B. Mas o maior destaque são as fibras, nutrientes que favorecem o intestino e colaboram para a saciedade, freando o apetite. Melhor ainda se na receita, além da farinha integral, vierem grãos e sementes.
- Capriche nas combinações: Rechear o pãozinho com boas fontes de proteína e de gordura ajuda no controle glicêmico e sacia mais. Queijos magros, ovos, frango desfiado, patê de salmão, assim como pasta de grão-de-bico e tofu, são alguns aliados proteicos. Já os fornecedores de gorduras incluem o abacate e o azeite de oliva, por exemplo.
- Inclua hortaliças: Hortaliças como alface, rúcula, cenoura, tomate, entre outras, enriquecem qualquer sanduíche. Recomenda-se ainda evitar embutidos, ou seja, salame, peito de peru, presunto e mortadela. Esse grupo aparece em estudos pela relação com o aumento do risco de câncer.
- Atente-se aos rótulos: Existem muitas opções de pães nas prateleiras dos supermercados e alguns, inclusive, podem ser incluídos na categoria dos ultraprocessados — que excedem em gordura, açúcar, sódio e aditivos químicos.
Como escolher o melhor pão no supermercado?
- A sugestão é fazer uma varredura nas embalagens, começando pela lista de ingredientes, que precisa ser enxuta e, de preferência, livre de nomes estranhos.
- Os componentes do alimento devem aparecer de maneira decrescente, isto é, aqueles que estão em maior quantidade no produto surgem em primeiro lugar.
- Também é importante comparar as tabelas nutricionais e priorizar pães com menores teores de gorduras, sódio e açúcares.