Ciência inaugura nova era no tratamento de Parkinson: foco é restaurar cérebro e tratar raiz da doença
Evento na Alemanha apresentou avanços que buscam regenerar neurônios e frear progressão da doença - uma aposta que pode transformar o tratamento

BERLIM (ALEMANHA) - Crônica e progressiva, a doença de Parkinson afeta o sistema nervoso e é marcada pela degeneração das células que produzem dopamina - um "mensageiro químico" responsável por regular os movimentos do corpo, entre outras funções. Nenhuma terapia de restauração de função está disponível no momento. Mas pesquisadores têm se debruçado sobre uma jornada de esperança e ciência para fornecer terapias transformadoras.
Neste mês marcado pelo Dia Mundial de Conscientização da Doença de Parkinson (11 de abril - a data foi instituída pela Organização Mundial de Saúde, em 1998), a farmacêutica Bayer apresenta progressos na estratégia de cuidado com pacientes, inclusive com um portfólio de pesquisa voltado para Parkinson.
Em Berlim, na Alemanha, a empresa detalhou o seu pipeline (fluxo de desenvolvimento de novos tratamentos) para 25 jornalistas de saúde de 10 países durante o Pharma Media Day 2025, realizado no último dia 1º.
"Estamos avançando em tratamentos direcionados que prometem melhorar significativamente os resultados dos pacientes. Agora, estamos prontos para oferecer terapias inovadoras que farão uma diferença significativa na vida dos pacientes", disse, durante o Pharma Media Day, o membro do Comitê Executivo da Divisão Farmacêutica da Bayer e Diretor de Pesquisa e Desenvolvimento, Christian Rommel.
Na ocasião, foram discutidas as terapias celular e gênica para a doença, que acomete mais de 10 milhões de pessoas no mundo. Está em desenvolvimento, por exemplo, pela Bayer e BlueRock Therapeutics (subsidiária integral da farmacêutica), uma terapia celular experimental baseada na implantação cirúrgica de precursores de células nervosas geradoras de dopamina no cérebro.
O foco é substituir os neurônios perdidos por novos, derivados de células-tronco. Com isso, a expectativa é restaurar a função natural do cérebro, com a reativação da produção de dopamina. É um novo caminho para tratar a causa da doença de Parkinson, e não só os sintomas.
A Food and Drugs Administration (FDA), agência reguladora dos Estados Unidos, qualificou esse candidato a tratamento para Parkinson como terapia avançada de medicina regenerativa (RMAT, na sigla em inglês). A designação é dada a terapêuticas experimentais destinadas a tratar, modificar, reverter ou curar uma condição grave ou com risco de vida.
Para receber esse título, a FDA ainda exige evidências clínicas preliminares que indicam potencial da droga em estudo para dar conta de necessidades médicas não atendidas para a doença. A droga em desenvolvimento avança diretamente para o desenvolvimento clínico da fase 3 (etapa com inclusão de milhares de pacientes, cujo objetivo é confirmar eficácia e segurança do produto), após dados positivos da fase 1 (testes em um pequeno número de pessoas).
O cenário em torno da droga em desenvolvimento pela Bayer e BlueRock é animador. Em uma metáfora, se as terapias atuais funcionam como quem apaga um incêndio (sintomas) sem evitar que ele retorne, a nova aposta busca reconstruir a casa (cérebro) para que o fogo não volte a surgir.
"Estamos moldando uma nova era da medicina. A cada novo desenvolvimento, estamos mais perto de concretizar nossa visão de tratar o que não pode ser tratado, curar doenças e oferecer esperança", ressaltou a vice-presidente executiva de Estratégia e Comercialização Global de Produtos e membro da Equipe de Liderança Farmacêutica da Bayer, Christine Roth.
A farmacêutica alemã ainda desponta com testes de um tratamento que poderia estimular a própria maquinaria celular do cérebro a revitalizar os neurônios que degeneram por causa da doença de Parkinson.
Nessa missão, a AskBio (subsidiária integral e operada de forma independente da Bayer) trabalha em uma terapia gênica cujo objetivo é estimular o próprio cérebro a produzir uma proteína que protege e fortalece os neurônios de dopamina.
A droga candidata a tratamento avança na fase 2 de testes (aquela que investiga se o novo medicamento funciona bem o suficiente). Com base em evidências clínicas preliminares, a FDA também concedeu RMAT a essa terapia, devido ao potencial de retardar a progressão de Parkinson e melhorar os resultados motores em pacientes em grau moderado da doença.
Terapias atuais e terapias em estudo para Parkinson: veja as diferenças
Ambas as terapias em estudo (celular e gênica) são um grande salto em relação ao tratamento mais comum atualmente para Parkinson - este se concentra na reposição da dopamina com medicação oral. Embora esses medicamentos aliviem os sintomas no início, o tratamento se torna cada vez menos eficaz com o passar do tempo.
Dessa maneira, com o tratamento hoje disponível, os sintomas tendem a retornar, e os pacientes pioram. Isso ocorre porque a causa raiz da doença (a perda irreversível dos neurônios produtores de dopamina) não é abordada.
Mas veja como isso pode mudar com as terapias em estudo:
Terapia Celular (Bayer e BlueRock)
- Foco: Substituir os neurônios dopaminérgicos perdidos por novos, derivados de células-tronco.
- Objetivo: Restaurar a função natural do cérebro, ao reativar a produção de dopamina.
- Potencial: Tratar a causa da doença, não só os sintomas.
Terapia Gênica (Bayer e AskBio)
- Foco: Estimular o próprio cérebro a produzir uma proteína que protege e fortalece os neurônios de dopamina.
- Objetivo: Evitar a morte neuronal e recuperar a função dos neurônios ainda existentes.
- Potencial: Restauração da atividade dopaminérgica de forma duradoura.
Assista a videocast sobre doença de Parkinson
Entenda os sintomas da doença de Parkinson
A doença de Parkinson pode se manifestar com sintomas inespecíficos, como distúrbios do sono, perda do olfato ou depressão, muito antes de aparecerem os sintomas típicos - como tremores incontroláveis ou rigidez corporal.
Com o tempo, os sintomas pioram, o que torna tarefas simples (como subir escadas, escrever ou comer) bastante desafiadoras.
Em estágios avançados, pode haver demência, problemas urinários, fadiga extrema e outros distúrbios psiquiátricos.
*A jornalista participou do Pharma Media Day 2025, em Berlim, a convite da Bayer.