Abril Marrom: doenças da retina avançam no Brasil, e abandono do tratamento é preocupante
Pesquisa aponta que um terço dos brasileiros com doenças oculares graves abandona o tratamento, o que impacta diretamente a progressão da doença

SÃO PAULO - As doenças da retina (tecido fino que reveste a parte de trás da superfície interna do olho) representam um desafio crescente para a saúde pública no Brasil. Com o envelhecimento da população e o aumento dos casos de diabetes, a prevalência dessas condições tende a crescer. Esse cenário torna essencial a conscientização sobre prevenção e tratamento.
Foi com esse propósito que, durante o evento Abril Marrom (campanha de conscientização sobre saúde ocular), realizado em São Paulo na última semana, a organização não governamental (ONG) Retina Brasil, com o apoio do braço nacional da farmacêutica Roche, apresentou os resultados de uma pesquisa conduzida pela Fundação Getulio Vargas (FGV/CPDOC).
O levantamento revelou dados preocupantes sobre a adesão ao tratamento de doenças da retina, como a degeneração macular relacionada à idade (DMRI) e o edema macular diabético (EMD).
Essas condições afetam cerca de 1,4 milhão de pessoas no Brasil e podem atingir 1,7 milhão nos próximos cinco anos, impulsionadas pelo envelhecimento da população e pelo aumento dos casos de diabetes no País. No entanto, um dos principais desafios identificados pela pesquisa foi a alta taxa de abandono do tratamento, que chega a 29% dos pacientes.
O que é DMRI e EMD?
A degeneração macular relacionada à idade (DMRI) é uma doença que afeta a mácula, a parte central da retina responsável pela visão nítida e detalhada. Ela ocorre principalmente em pessoas acima de 50 anos e pode ser dividida em dois tipos: seca e úmida.
A forma seca é mais comum e evolui de maneira lenta, enquanto a úmida é mais agressiva, o que causa perda rápida da visão central devido ao crescimento anormal de vasos sanguíneos sob a retina.
A DMRI não leva à cegueira total, mas compromete a leitura, o reconhecimento de rostos e outras atividades que exigem visão precisa.
Já o edema macular diabético (EMD) é uma complicação da retinopatia diabética, uma das principais causas de cegueira em adultos. Ocorre quando o excesso de glicose no sangue danifica os vasos sanguíneos da retina, causando vazamento de fluídos e inchaço na mácula.
Esse processo afeta a nitidez da visão e, sem tratamento adequado, pode levar à perda progressiva da capacidade visual. O EMD pode ser tratado com injeções intravítreas (dentro do olho), laser ou controle rigoroso da diabetes para reduzir os danos à retina e preservar a visão.
Principais desafios enfrentados pelos pacientes
Durante o evento Abril Marrom, a oftalmologista Patrícia Kakizaki, especialista em retina clínica e cirúrgica pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), explicou que essas doenças afetam a mácula, região central da retina responsável pela nitidez da visão.
"Elas comprometem atividades do dia a dia, como ler, dirigir e até mesmo ir ao supermercado. O tratamento pode exigir injeções intravítreas mensais, o que representa um peso significativo para os pacientes e seus familiares", afirmou a médica.
O estudo apontou ainda que:
- 45% dos entrevistados relataram ter perda grave da visão;
- 63% tiveram impacto financeiro significativo devido à doença;
- 47% dos pacientes já buscaram ou gostariam de buscar apoio psicológico;
- 72% convivem com outras doenças, como diabetes e hipertensão.
Impactos da falta de adesão ao tratamento
O diagnóstico tardio e a falta de continuidade no tratamento agravam a progressão das doenças oculares.
"A medicina tem avançado em inovações capazes de estabilizar e, em alguns casos, até melhorar a visão dos pacientes. Além disso, novos tratamentos buscam reduzir a frequência das aplicações, oferecendo mais conforto e adesão ao tratamento", ressaltou Patrícia Kakizaki.
Vice-presidente da Retina Brasil, Maria Antonieta Leopoldi destacou a necessidade de um atendimento mais acessível e acolhedor para os pacientes.
"A pesquisa mostra a urgência de melhorar o acesso ao tratamento, pois muitos pacientes desistem devido ao alto custo, à falta de suporte no Sistema Único de Saúde (SUS) e a outras barreiras", afirmou.
Apoio psicológico e reabilitação
O estudo reforça a relevância do suporte psicológico e da reabilitação para pacientes com doenças oculares. Entre os entrevistados, um terço relatou ter dificuldades em continuar o tratamento devido ao impacto emocional da perda visual.
Além disso, 20% já recorreram a algum tipo de reabilitação, como orientação e mobilidade, treinamento para uso de tecnologias assistivas e apoio psicológico.
Sensibilização e prevenção
A campanha Abril Marrom tem um papel fundamental na conscientização sobre a importância da prevenção e do acompanhamento médico regular.
Doenças como a DMRI e o EMD podem ser controladas, desde que diagnosticadas precocemente e tratadas de forma contínua.
*A repórter cobriu o evento a convite da Roche Brasil