SAÚDE DA MULHER | Notícia

Humanização do parto: Hospital da Mulher do Recife abre seleção para o Programa de Doulas Voluntárias

Para participar do processo, é necessário apresentar currículo e certificado do curso de doula com carga horária mínima de 40 horas

Por Cinthya Leite Publicado em 26/03/2025 às 11:47 | Atualizado em 26/03/2025 às 11:52

Com a missão de proporcionar suporte emocional e físico às mulheres, desde o início do pré-natal e, especialmente, durante o trabalho de parto, as doulas ajudam as mães a ter uma experiência positiva ao dar à luz. Consequentemente, há redução na taxa de cesarianas, menos uso de medicações, menos relatos de dor. 

Para quem deseja se especializar nessa profissão, o Hospital da Mulher do Recife iniciará, a partir de abril, mais uma turma do Programa de Doulas Voluntárias. As inscrições para participação do processo seletivo vão até sexta-feira (28) e devem ser feitas pelo e-mail: selecaodoulas@hmr.org.br.

As doulas selecionadas vão atuar no hospital para oferecer apoio físico e emocional no pré-parto, parto e puerpério (fase até 45 dias após o parto). Ao todo, são sete vagas disponíveis.

Para participar do processo, é necessário apresentar currículo e certificado do curso de doula com carga horária mínima de 40 horas.

As candidatas pré-selecionadas farão entrevistas entre os dias 7 e 9 de abril. O início das atividades está marcado para 15 de abril (terça-feira).

O contrato da doulas voluntárias é de 1 ano, e elas vão atuar uma vez por semana, em um turno diurno de 12 horas.

O número excedente de candidatas classificadas será considerado cadastro de reserva e provimento de eventual necessidade futura do hospital.

Estudo comprova efeito benéfico da presença de doulas durante o trabalho de parto

Uma pesquisa brasileira, segundo divulgou a Agência Einstein, demonstra que o suporte contínuo das doulas também interfere na quantidade de serotonina liberada pela mulher imediatamente após o parto, o que pode se refletir em um melhor início de conexão entre a mãe e o filho.

O estudo piloto foi realizado como a tese de mestrado da psicóloga Eleonora de Deus Vieira de Moraes, no Programa de Pós-Graduação em Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), em Ribeirão Preto (interior de São Paulo).

Após atuar como doula por mais de 17 anos, Eleonora decidiu investigar se a presença contínua desse suporte no trabalho de parto também teria algum impacto fisiológico na mulher, além dos benefícios físicos e emocionais.

Para o estudo, realizado no Centro de Referência da Saúde da Mulher de Ribeirão Preto, as parturientes foram divididas em dois grupos: um que recebeu o apoio contínuo das doulas desde o início do trabalho de parto e outro que não teve a presença dessas profissionais durante o processo; apenas do acompanhante de escolha da mulher.

A pesquisadora coletou amostras de sangue das voluntárias para medir a quantidade de serotonina durante três fases do parto: a ativa, a expulsiva e o pós-parto imediato (também chamado de golden hour, ou hora dourada, em tradução livre), quando o bebê já nasceu e está em contato pele a pele com a mãe).

Publicados na Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia, os resultados apontaram o aumento significativo na dosagem de serotonina no período pós-parto no grupo das parturientes acompanhadas por doulas.

Por que a serotonina?

A escolha da serotonina, para ser dosada nas parturientes, não foi ao acaso: a molécula atua sistemicamente como um hormônio e age no sistema nervoso central como um neurotransmissor, regulando o humor e a motivação.

"Nós sabemos que a serotonina tem influência no humor, mas estudos em animais apontaram que ela inicia e mantém o comportamento materno de aninhar filhotes, mantendo esse vínculo entre a mãe e o bebê", explicou Eleonora Moraes, à Agência Einstein.

Segundo a psicóloga, a ciência ainda sabe muito pouco sobre o efeito da serotonina no trabalho de parto de humanos. Por isso, não é possível definir exatamente o mecanismo envolvido nas alterações dessa molécula no corpo. "Nesse sentido, esse estudo é inédito porque ele mostra como se comporta a curva da serotonina durante o trabalho de parto e imediatamente após o bebê nascer", observou.

Depressão pós-parto

A queda dos níveis de hormônios que ocorre logo após o fim da gravidez, associada ao cansaço físico pela privação do sono e pelo estresse emocional que o recém-nascido gera na mulher, costuma ter um grande impacto e alterar o humor da mãe, o que pode resultar em uma depressão pós-parto.

O problema é extremamente comum: estima-se que de 20% a 25% das mulheres terão depressão pós-parto, e cerca de 80% vão experimentar sintomas do chamado baby blues, que é o conjunto de sentimentos confusos e passageiros, que não precisa de tratamento.

De acordo com a pesquisadora da USP, embora o estudo mostre a alta concentração da serotonina no período da golden hour, não foi possível fazer uma relação direta com a depressão pós-parto, porque o estudo não reavaliou os níveis de serotonina após o nascimento da criança, quando o transtorno poderia se manifestar.

"Fica somente a suposição, por causa do momento em que medimos a serotonina. A gente sabe do papel importante da molécula na depressão pós-parto, mas para fazer a afirmação são necessários outros estudos", pondera a pesquisadora da USP.

Doulas no SUS e na rede privada

Na avaliação da ginecologista e obstetra Rita Sanchez, do Hospital Israelita Albert Einstein e coordenadora do projeto Parto Adequado, o estudo traz resultados interessantes ao apontar os benefícios fisiológicos da presença das doulas. Ela ressalta que as pacientes "resgataram" o papel das doulas, que vêm ganhando cada vez mais espaço junto às grávidas tanto no Sistema Único de Saúde (SUS) como no sistema privado.

"O trabalho de parto é longo, traz a dor e ter alguém para ajudar e dar apoio emocional para continuar é muito importante. Em relação ao pós-parto, a gente sabe que a serotonina é o hormônio que ‘levanta’ a mulher, tanto que quem tem depressão usa medicamentos para aumentar o nível da serotonina", diz Rita.

"Imediatamente no pós-parto, a mulher tem muito cansaço físico, muita ansiedade pelos cuidados que virão. Ter níveis de serotonina mais altos nesse momento, sem dúvida, pode ajudar a diminuir o que chamamos de blues puerperal", comenta a médica, ao ressaltar que é importante produzir a serotonina durante o trabalho de parto e que ter uma rede de apoio no pós-parto em casa também é fundamental.

A obstetra reforça que o papel das doulas é muito importante, desde que elas estejam bem alinhadas com a equipe de enfermagem e a equipe médica do hospital onde vai acontecer o parto.

"É preciso ficar claro que todos os profissionais formam uma grande equipe para dar apoio à mulher e não deve existir uma ‘competição’ entre a doula e o médico. Acredito muito no apoio emocional e no uso de métodos não farmacológicos para o alívio da dor durante o processo, mas todo mundo precisa estar alinhado e ter conhecimento científico do que funciona e do que não funciona", ressalta a médica.

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