Um estupro a cada seis minutos: entidade mobiliza médicos contra todo tipo de violência
Ginecologistas em todo o Brasil se unem para promover debates entre especialistas para discutir ações de combate à violência contra a mulher

A Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) inicia a Campanha Nacional #EuVejoVocê – Pelo fim da violência contra a mulher em todas as fases da vida, junto às sociedades estaduais. A iniciativa também tem como objetivo discutir ações que possam impactar na redução da violência contra a mulher de todas as idades, incluindo a mulher médica em exercício.
O Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2024 apontou um crescimento em todas as modalidades de violência contra mulheres no último ano. O documento, elaborado com base em informações oficiais dos órgãos de Segurança Pública, revelou um aumento de 48,7% nos casos de importunação sexual (41.371 registros), 33,8% nos casos de violência psicológica (38.507 registros) e 9,8% nas agressões decorrentes de violência doméstica (258.941 registros).
Outro dado importante aponta que, no Brasil, ocorre um estupro a cada 6 minutos. Entre eles, 88,2% das vítimas do sexo feminino e 61,6% delas têm até 13 anos de idade.
Neste contexto, o objetivo da campanha é desconstruir os discursos que sustentam a violência, a fim de promover uma reflexão constante sobre o tema.
Durante a campanha, a Febrasgo e as Sociedades Estaduais de Ginecologia e Obstetrícia se unem para organizar debates e encontros entre os profissionais das especialidades. O objetivo é discutir ações focadas na redução da violência contra a mulher, além da produção de conteúdo para sensibilizar e informar a sociedade.
A mobilização também tem como foco a celebração e o empoderamento da profissão de ginecologista, a fim de destaca a relevância no cuidado à mulher.
"Nós devemos agir e amparar as mulheres na identificação da violência e na capacitação para as tomadas de decisões. O conhecimento permite que o médico atue, desde a escuta adequada, o acolhimento, notificação, registro, acompanhamento e encaminhamento articulado e intersetorial", destaca a presidente da Febrasgo, Maria Celeste Osório Wender.
Uma das idealizadoras da campanha e membro da Comissão de Defesa e Valorização da Febrasgo, Maria Auxiliadora Budib destaca que a violência contra a mulher continua a ser uma das questões mais devastadoras em nosso País.
"Ao longo da vida, uma em cada três mulheres pode ser submetida à violência em suas diversas formas, desde a psicológica até a física, passando pela patrimonial e moral. Essa violência impacta diretamente a saúde da mulher. Precisamos urgentemente enfrentar essa temática e promover a igualdade de gênero, incentivando relacionamentos respeitosos e saudáveis", reforça.
Violência contra a mulher médica
Outro aspecto tratado durante a campanha é a violência contra a mulher médica. Dados apontam que seis em cada dez mulheres médicas já relataram algum tipo de assédio, seja moral ou sexual, no ambiente de trabalho.
A pesquisa, conduzida pela Associação Médica Brasileira e pela Associação Paulista de Medicina, revelou que 51,14% das médicas já sofreram agressões verbais ou físicas.
Esses números evidenciam a necessidade urgente de políticas de prevenção e de apoio, não apenas para combater a violência, mas também para promover a equidade e o respeito nas instituições de saúde.
"Nosso objetivo é incentivar a criação de redes de apoio entre especialistas, a fim de promover a troca de experiências, fortalecer a solidariedade entre as profissionais e implementar programas de mentoria que conectem médicas experientes com as recém-formadas", diz a diretora de Defesa e Valorização Profissional da Febrasgo, Lia Cruz.