Carnaval para pessoas neurodivergentes: ações são necessárias para tornar a festa acessível
O período pode gerar sobrecarga sensorial, mas planejamento e adaptações ajudam a tornar a experiência confortável para pessoas com TDAH, TEA ou TOD

O Carnaval é um dos eventos mais aguardados do ano, especialmente em Pernambuco, onde as prévias começam bem antes de março. No entanto, para pessoas neurodivergentes — como aquelas com Transtorno do Espectro Autista (TEA), Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) e Transtorno Opositivo-Desafiador (TOD) —, a folia pode representar um desafio.
A exposição prolongada a sons altos, multidões e estímulos visuais intensos pode gerar desconforto e até crises de ansiedade, mas com alguns cuidados é possível que todos aproveitem a festa.
Neste ano, o Galo da Madrugada, principal bloco do carnaval pernambucano e maior bloco do mundo vai homenagear pessoas com TEA na alegoria do galo gigante, além de ter Ala da Acessibilidade que acompanha o primeiro trio elétrico.
“A antecipação é uma das chaves para evitar desconfortos e crises. Pais e cuidadores podem ajudar nisso, ao criar roteiros visuais, explicando o que esperar da experiência e preparando estratégias para momentos de sobrecarga”, explica Paula Chaves, psicóloga da Clínica Mundos, especializada no atendimento a neurodivergentes.
Super exposição a estímulos pode gerar desconforto
Os desfiles e blocos de rua reúnem grandes multidões e contam com elementos característicos, como orquestras de frevo, batuques de maracatu e uma grande variedade de fantasias e adereços.
Para neurodivergentes, esse ambiente pode causar sobrecarga sensorial, tornando a experiência exaustiva. Por isso, a escolha de blocos menores e menos movimentados é uma alternativa para evitar esse tipo de situação.
Roupas e acessórios podem influenciar na experiência
Tecidos sintéticos, maquiagens pesadas e acessórios apertados podem causar incômodo. Testar previamente os materiais e priorizar roupas confortáveis são medidas que ajudam a evitar frustrações.
Elementos visuais, como brilho excessivo e cores vibrantes, também podem ser gatilhos sensoriais. “Se a pessoa é sensível a estímulos visuais, óculos com lentes escuras podem ajudar a reduzir a exposição e tornar a experiência mais agradável”, recomenda a psicóloga.
Plano de saída rápida pode ajudar em momentos de sobrecarga
Para evitar desconfortos, especialistas recomendam a criação de um plano de saída rápida e a definição de um local seguro para pausas.
O uso de abafadores de som ou fones de ouvido também pode ser uma solução para reduzir o impacto de ruídos altos, especialmente no caso de crianças com TEA.
“O mais importante é respeitar os limites e entender que não há certo ou errado na forma de vivenciar o Carnaval", destaca Paula Chaves.
Máscaras e fantasias volumosas podem causar sustos
Personagens carnavalescos tradicionais, como Papangus, La Ursas e caboclos de lança, fazem parte da cultura popular, mas podem ser um desafio para neurodivergentes.
Máscaras, fantasias volumosas e interações imprevisíveis podem causar ansiedade.
As pessoas costumam interagir sem aviso, o que pode assustar pessoas sensíveis a estímulos repentinos.
Por isso, a identificação é essencial, como o uso do colar que identifica pessoas com TEA, que possui estampa de quebra-cabeça ou o colar com estampa de girassol, que identifica pessoas com deficiências invisíveis.
Como tornar a experiência mais confortável?
- Familiarização prévia: mostrar fotos e vídeos desses personagens antes do evento pode ajudar na adaptação;
- Respeito ao espaço pessoal: permitir que a interação aconteça no tempo da criança ou do adulto neurodivergente;
- Ambiente de descanso: se possível, disponibilizar um local tranquilo para momentos de pausa;
- Uso de estratégias de regulação: fones de ouvido, óculos escuros e objetos de conforto podem auxiliar no bem-estar.
Galo da Madrugada homenageia pessoas com TEA
Neste ano, a alegoria do Galo da Madrugada trará uma referência direta ao Transtorno do Espectro Autista (TEA), com a intenção, segundo a organização do bloco, de dar visibilidade para a população neurodivergente.
O pescoço do Galo terá um crachá de identificação de Pessoa com TEA, um símbolo que reforça a necessidade de reconhecimento e acolhimento.
"É o primeiro Galo que vai trazer um colar TEA, para a gente entender a importância de as pessoas cuidarem umas das outras na sociedade, deixando mais fácil a convivência coletiva", afirma multiartista Leopoldo Nóbrega, que assina a escultura mais uma vez, junto à designer e produtora Germana Xavier.
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