Uber e 99 Moto: Associação Paulista de Medicina alerta para aumento em sinistros de trânsito associados a mototáxi
Lesões de trânsito são um problema de saúde global. O número de sinistros com motos pelo País gerou mais de 300 mil atendimentos na rede pública

Em meio a discussões jurídicas entre a Justiça de São Paulo e as plataformas de transporte para implantação do serviço serviço de motocicletas no transporte individual (Uber e 99 Moto), conhecido como mototáxi, a Associação Paulista de Medicina (APM) destaca os riscos de aumento nos sinistros de trânsito que a atividade pode proporcionar.
A adoção da motos como transporte remunerado de passageiros adiciona ameaças e aumenta a estatística de sinistros.
A taxa de mortalidade em sinistros de moto é alta na maior capital do País, e os índices só fazem aumentar. Em 2024, o número de mortes de motociclistas na cidade subiu cerca de 20%, de acordo com o Departamento Estadual de Trânsito (Detran). Foram registradas 483 mortes em 2024; e 403 em 2023.
Além disso, os óbitos em sinistros com motocicletas correspondem a 37% do total de mortes no trânsito na capital paulista.
Realidade preocupa em todo o Brasil
Este cenário é uma realidade em todo o Brasil. Segundo o Ministério da Saúde, o número de sinistros com motos pelo País gerou mais de 300 mil atendimentos na rede pública.
Dessa maneira, a APM alerta que o serviço de mototáxi na capital paulista (cidade onde o trânsito é bastante carregado e perigoso) "representaria um grande risco para passageiros e motoristas, além de possivelmente piorar a sobrecarga do sistema de saúde, com o potencial aumento do número de acidentes advindos da popularização dessa opção de transporte".
Lesões por motocicletas no SUS
A taxa de internação de motociclistas, ao se considerar a rede SUS e conveniada, teve o maior aumento em uma década entre os anos de 2020 e 2021: passou de 5,5 por 10 mil habitantes para 6,1. Esse é o dado mais recente sobre o tema e está no boletim epidemiológico Cenário brasileiro das lesões de motociclistas no trânsito, do Ministério da Saúde.
Os homens representaram 88,1% das vítimas fatais de sinistros do tipo em 2021. Isso significa um risco relativo 7,4 vezes maior que para o sexo masculino que o risco para o sexo feminino.
Segundo a Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares (Abraciclo), os homens também são os principais compradores de motocicletas e foram responsáveis por 62% dos contratos fechados em 2022.
O sexo masculino também é a maioria entre os condutores habilitados para veículos de duas ou três rodas. Eles representam 76% das pessoas que possuem a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) na categoria A.
Os sinistros por motocicletas vêm do comportamento do condutor no trânsito. O veículo é mais vulnerável às condições de trânsito urbano. Quem dirige moto tem mais chances de se envolver em sinistros, devido à instabilidade sobre duas rodas.
"Não há treinamento para caronas de motocicleta"
"Ser carona de motocicleta não é tão fácil assim como possa aparentar. O princípio de estabilidade da motocicleta é seu equilíbrio dinâmico, que atua de forma acentuada nas curvas, e o carona deve se comportar como um espelho do condutor do veículo, seguindo seus movimentos e, especialmente, inclinar da mesma maneira que o piloto faz nas curvas. Caso contrário ele pode desequilibrar a motocicleta", explica o superintendente da Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP), Luiz Carlos Néspoli.
Ele acrescenta que segurar com firmeza na alça traseira ou na cintura do condutor, manter pernas e joelhos alinhados com o quadril e pernas do piloto, firmar bem os pés nas pedaleiras e ficar com a coluna ereta são posturas necessárias para um transporte seguro de caronas. "Ocorre que não há treinamento para caronas de motocicleta, e quase todos os caronas desconhecem esses procedimentos de segurança", diz.