Endometriose pode aumentar em 20% o risco de infarto e AVC, aponta estudo
Pesquisa dinamarquesa alerta para a relação entre a condição ginecológica e o risco cardiovascular elevado em mulheres diagnosticadas com a doença

A endometriose, conhecida por causar intensas dores pélvicas e complicações na fertilidade, também pode estar relacionada a um risco elevado de problemas cardiovasculares.
De acordo com pesquisa recente realizada pelo Hospital Rigshospitalet da Universidade de Copenhague, na Dinamarca, mulheres com essa condição podem ter um risco 20% maior de sofrer infarto ou acidente vascular cerebral (AVC).
O estudo, apresentado no Congresso Europeu de Cardiologia (ESC 2024), em Londres, acende um alerta importante sobre a saúde cardíaca dessas pacientes.
Em entrevista ao Jornal do Commercio, a ginecologista Zaira Aragão, a principal hipótese para essa associação está diretamente relacionada ao fator inflamatório
"A endometriose aumenta a inflamação e, como é uma doença inflamatória crônica, ela aumentaria a formação de trombos e, consequentemente, o risco de infarto", explica.
O que é endometriose?
A endometriose é uma condição ginecológica caracterizada pelo crescimento do tecido semelhante ao endométrio — a camada que reveste o interior do útero — nos ovários, trompas de falópio e a superfície externa do útero.
Esse tecido, que deveria estar apenas dentro do útero, reage às mudanças hormonais do ciclo menstrual, ou seja, ficando mais espesso e em seguida, desintegrando e sangrando, assim como o endométrio normal.
Entretanto, o sangue resultante não tem para onde ir, o que pode provocar inflamação, dor, formação de cicatrizes e aderências (tecido fibroso que pode unir órgãos).
Os sintomas da endometriose variam de pessoa para pessoa, mas os mais comuns incluem:
- Dor pélvica, muitas vezes associada ao ciclo menstrual;
- Cólicas menstruais intensas;
- Dor durante ou após a relação sexual;
- Problemas intestinais ou urinários, especialmente durante a menstruação;
- Infertilidade.
Risco de AVC e infarto
Os pesquisadores do Hospital Rigshospitalet da Universidade de Copenhague, na Dinamarca, utilizaram um banco de dados robusto, que englobava informações de saúde de mulheres diagnosticadas com endometriose entre 1977 e 2021.
O estudo analisou os casos de 60.508 mulheres com a doença, comparando-os com um grupo controle de 242.032 mulheres sem o diagnóstico.
Durante um período médio de 16 anos, os pesquisadores investigaram a incidência de problemas cardiovasculares como infarto, arritmias, AVC e insuficiência cardíaca.
Entenda os resultados
Os resultados do estudo mostram que as mulheres com endometriose apresentaram um risco 20% maior de desenvolver problemas cardíacos ao longo da vida.
Diversos fatores foram levados em consideração pelos pesquisadores, como nível socioeconômico, grau de educação e histórico médico das participantes.
"O fator inflamatório é um fator responsável pelo aumento do risco cardiovascular. A gente vai ver isso em todas as doenças que são doenças inflamatórias crônicas", ressalta a ginecologista Zaira Aragão.
Maneiras de melhorar os sintomas e reduzir o risco
Para as mulheres que convivem com a endometriose, a adoção de hábitos saudáveis pode ser uma maneira eficaz de minimizar tanto os sintomas da doença quanto os riscos cardiovasculares.
"Quando a gente pensa em qualquer doença inflamatória crônica, a gente vai lá para os pilares básicos da desinflamação do corpo", ressalta a especialista em saúde feminina.
A prática regular de exercício físico, a alimentação balanceada e a redução de fatores inflamatórios, como o consumo de álcool e a privação do sono, são algumas das principais recomendações para essas pacientes.
A importância do diagnóstico precoce
Diante da perspectiva sobre os riscos cardiovasculares, a importância do diagnóstico precoce da endometriose ganha ainda mais relevância.
"Quanto mais precoce a gente faz diagnóstico, mais cedo a gente trata, mais cedo a gente muda isso daí e a gente tende a ter uma melhor evolução ao longo da vida", afirma a médica.
Além de reduzir as chances de complicações cardiovasculares, o diagnóstico precoce ajuda a prevenir outros problemas associados à endometriose, como infertilidade e piora da qualidade de vida.
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