
Na noite desta terça-feira (30), a Secretaria de Saúde de Pernambuco (SES-PE) divulgou a confirmação de mais dois casos do superfungo Candida auris, que tem intrigado especialistas em todo o mundo.
A Candida auris é um superfungo resistente a medicamentos e responsável por infecções hospitalares. Por isso, é um dos microrganismos que mais ameaçam a saúde pública no mundo.
Os dois novos pacientes diagnosticados têm 70 anos (mulher) e 51 anos (homem). Eles estão internados, respectivamente, nos hospitais Miguel Arraes (HMA), em Paulista, e Tricentenário, em Olinda. Ambos ficam no Grande Recife.
Com a atualização, sobe para seis o número de pessoas diagnosticadas este ano com Candida auris em Pernambuco.
São pacientes do Hospital Miguel Arraes, do Tricentenário e do Real Hospital Português (este último no bairro de Paissandu, área central do Recife).
Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), são atualmente três surtos - cada um representado por uma unidade de saúde.
Segundo a SES-PE, os dois pacientes com diagnósticos confirmados nesta terça-feira (30) deram entrada nos hospitais por causas não relacionadas à Candida auris e não apresentam repercussões clínicas decorrentes do superfungo.
"O homem (de 51 anos) possui histórico de AVC (acidente vascular cerebral) e quadro convulsivo, com longo período de permanência hospitalar. Ele foi admitido na unidade em outubro de 2016. É importante destacar que esse paciente possui quadro de alta clínica, porém segue hospitalizado devido ao seu contexto social", informa, em nota, a secretaria.
Já a mulher, de 70 anos, deu entrada no Hospital Miguel Arraes no dia 14 deste mês, devido a uma lesão no pé infeccionada. Como ela teve contato com paciente colonizado por Candida auris, precisou seguir o protocolo de vigilância e passou por exames.
O diagnóstico de Candida auris da paciente foi dado apenas após a alta hospitalar, que ocorreu no último dia 23 de maio. Para o exame, foi realizado swab de vigilância (procedimento feito em casos de contactante de um caso positivo para Candida auris).
Em nota, a SES-PE ressalta que, mesmo após a alta hospitalar, o paciente pode permanecer colonizado por cerca de três a seis meses.
"No momento da saída da unidade, o paciente recebe um sumário de alta relatando o histórico clínico e o diagnóstico positivo. Nesse caso, o paciente não precisa ficar isolado e pode realizar atividades regulares, seguindo as medidas de cuidado e prevenção de rotina, como higienização das mãos, higiene pessoal e limpeza adequada do ambiente utilizando hipoclorito de sódio", informa a pasta.
Caso o paciente precise procurar um serviço de saúde, é preciso apresentar o documento de alta com o histórico clínico.
SUPERFUNGO EM PERNAMBUCO: VEJA PERFIL DOS SEIS PACIENTES COLONIZADOS POR CANDIDA AURIS
Veja os perfis dos seis pacientes (cinco homens e uma mulher), segundo a SES:
- Um paciente de 48 anos está internado no Hospital Miguel Arraes, em Paulista, no Grande Recife. A unidade é da rede pública de Pernambuco. Ele teve a confirmação de Candida auris no dia 11 de maio.
- Um paciente de 77 anos está no Hospital do Tricentenário, localizado em Olinda, no Grande Recife. A unidade é da rede pública de Pernambuco. A confirmação do superfundo Candida auris foi dada no dia 14 de maio.
- Um paciente de 66 anos que estava internado no Real Hospital Português (RHP), da rede particular do Recife. Ele faz tratamento para doença renal crônica e vai retornar às sessões de hemodiálise. Segundo a SES-PE, ele evoluiu bem e recebeu alta no último fim de semana.
- Um paciente de 63 anos está internado no Hospital Miguel Arraes (HMA), em Paulista, no Grande Recife. Ele deu entrada na unidade de terapia intensiva (UTI) da unidade de saúde, em decorrência de problemas ortopédicos. Paciente está atualmente isolado no setor. A confirmação do superfungo Candida auris foi dada no dia 29 de maio.
- Um paciente de 51 anos, com histórico de acidente vascular cerebral (AVC) e quadro convulsivo, com longo período de permanência no Hospital do Tricentenário, localizado em Olinda, no Grande Recife. Ele foi admitido na unidade em outubro de 2016. Apesar de ter condições clínicas de ter alta hospitalar, ele segue hospitalizado pela condição de vulnerabilidade social.
- Uma paciente de 70 anos que foi internada no Hospital Miguel Arraes, em Paulista, no Grande Recife, no dia 14 de maio, devido a uma lesão no pé infeccionada. Como ela teve contato com paciente colonizado por Candida auris, precisou seguir o protocolo de vigilância e passou por exames. O diagnóstico de Candida auris da paciente foi dado apenas após a alta hospitalar, que ocorreu no último dia 23 de maio.
CANDIDA AURIS EM PERNAMBUCO: O QUE DIZ A ANVISA
Ao JC, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) informa que recebeu as notificações e já realizou reuniões com as equipes que estão trabalhando no controle dos casos, incluindo a Secretaria de Saúde de Pernambuco e os profissionais que atuam com os hospitais.
"A Anvisa está monitorando as ações e prestando suporte técnico para o Estado, com colaboração dos especialistas que atuam na rede nacional para identificação de Candida auris em serviços de saúde, conforme Nota Técnica 02/2022 GVIMS/GGTES/Anvisa. Por fim, os casos são considerados surtos, pois um único caso de um microrganismo novo na epidemiologia do serviço de saúde já é considerado surto", esclarece.
Ainda de acordo com a agência, o cenário atual de Pernambuco representa três novos surtos. Cada hospital com caso positivo (Miguel Arraes, Tricentenário e Português) representa um surto. Com isso, desde 2020, o Brasil acumula o registro de sete surtos de Candida auris.
No País, segundo a Anvisa, os quatro surtos anteriores já foram controlados: dois em Pernambuco (2022) e dois na Bahia (2020 e 2021).
O QUE É CANDIDA AURIS E QUAIS OS SINTOMAS?
O superfungo Candida auris pode causar infecção de corrente sanguínea e outras infecções invasivas.
Ele pode ser fatal, principalmente em pacientes imunodeprimidos ou com doenças crônicas.
O infectologista Danylo Palmeira, presidente da Sociedade Pernambucana de Infectologia (SPEI), explica que a Candida auris ocorre como infecção hospitalar. "Não há diagnóstico clínico baseado em sinais e sintomas de Candida auris", diz.
As infecções por Candida auris, segundo Danylo, estão relacionadas ao uso de dispositivos chamados invasivos, como um cateter venoso central, uma sonda vesical e um ventilador mecânico. "São casos em que há um maior risco de ocorrência de infecção hospitalar, incluindo por Candida auris", explica Danylo.
Ele frisa que o superfungo Candida auris se mantém facilmente nos hospitais onde há pacientes colonizados ou infectados. "É um fungo que, no ambiente hospitalar, consegue sobreviver sem estar no organismo humano." Ou seja, a Candida auris pode estar em superfícies ou equipamentos da unidade de saúde. Por isso, é muito difícil de ser erradicada.
Danylo Palmeira, presidente da Sociedade Pernambucana de Infectologia (SPEI), explica que as infecções por Candida auris estão relacionadas ao uso de dispositivos chamados invasivos, como um cateter venoso central, uma sonda vesical e um ventilador mecânico - DIVULGAÇÃO
SUPERFUNGO CANDIDA AURIS: COMO A CANDIDA AURIS É TRANSMITIDA?
A transmissão do superfungo Candida auris ocorre em ambiente hospitalar, diretamente de equipamentos, superfícies e materiais de assistência ao paciente com Candida auris (como estetoscópios e termômetros, além de outros), mas nada impede que essa transmissão também aconteça pelas mãos dos profissionais de saúde. Por isso, a higienização das mãos precisa ser respeitada.
Quando tem alta da unidade de saúde, o paciente pode seguir para casa, já que é um superfungo de ambiente hospitalar (ocorre dentro de hospital).
"Não é na comunidade (pelas ruas, em casa, na feira, no supermercado...) que uma pessoa vai ser colonizada por Candida auris. E o paciente que foi diagnosticado com o superfungo, foi controlado e teve alta, não vai transmitir. No entanto, quando ele precisar ir a um serviço de emergência ou qualquer outra unidade de saúde, ele precisa sinalizar que já teve cultura positiva para Candida auris, pois cuidados precisam ser seguidos, pelo menos, por dois anos", orienta Danylo.
O maior problema relacionado ao superfungo Candida auris, de acordo com o infectologista Filipe Prohaska, é que esse agente infeccioso é multirresistente a diversos medicamentos antifúngicos. "É um micro-organismo exclusivamente hospitalar", diz o médico, que se preocupa com o potencial agressivo desse fungo.
Estudos apontam que até 90% dos isolados de Candida auris são resistentes às seguintes medicações: fluconazol, anfotericina B ou equinocandinas.
Outro motivo de preocupação é que a Candida auris pode permanecer viável por longos períodos no ambiente (semanas ou meses) e apresenta resistência a diversos desinfetantes, inclusive os que são à base de quaternário de amônio.
Nos setores onde os três pacientes do surto deste ano estão internados, foi estabelecida imediata intensificação das ações de limpeza e desinfecção de ambientes.