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Engenharia e pesquisa levam criação da primeira tilápia geneticamente editada do Brasil

Peixe que chegou ao país na década de 70 no NE, virou a segunda espécie mais cultivada no Brasil que é o quarto maior produtor mundial do pescado

Por Fernando Castilho Publicado em 22/04/2025 às 12:10

A Brazilian Fish, uma empresa especializada na produção de tilápia em tanques-rede no Brasil, anunciou o desenvolvimento bem-sucedido da primeira tilápia geneticamente editada, lançando mão de ferramentas tecnológicas de alta precisão para alcançar uma variação genética que naturalmente ocorre em animais.

O objetivo é aprimorar o desempenho produtivo e aumentar o rendimento de filé dos animais lançando mão de tecnologias de ponta, que por sua vez, permitem alcançar o progresso de um programa de reprodução convencional de 20 anos em apenas um ano. O projeto de edição genética para miostatina, foi devidamente regulamentado pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio).

Com investimentos robustos em pesquisa e desenvolvimento para o melhoramento genético da tilápia, a empresa estabeleceu uma parceria estratégica com o Center for Aquaculture Technologies (CAT), dos Estados Unidos, para realizar a edição gênica em alvos específicos de interesse na tilápia do Nilo.
Criada por meio da edição do genoma

A variação genética criada por meio da edição do genoma é um processo que poderia ocorrer naturalmente e acelera o progresso dos programas tradicionais de melhoramento seletivo, gerando valor e reduzindo os custos de produção da tilápia de forma segura e sustentável.

A Brazilian Fish segue todas as regulamentações estabelecidas, possuindo um Certificado de Qualidade em Biossegurança e passando por avaliações periódicas de seu Comitê Interno de Biossegurança.
Foram necessários dois anos de estruturação e pesquisas preliminares até a obtenção dos primeiros animais, que agora estão segregados com segurança e prontos para avaliações de desempenho e genômica.

Para desenvolver a tilápia por meio dessas técnicas genéticas, os cientistas do CAT, em colaboração com a equipe de pesquisa & desenvolvimento da Brazilian Fish, estabeleceram os primeiros testes de indução reprodutiva e fertilização in vitro para obter ovos fertilizados adequados à criação de variações genéticas precisas que resultam em melhor crescimento, rendimento e eficiência alimentar.

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A Brazilian Fish possui quatro unidades próprias e conta há três anos com três parceiros integrados. - Divulgação

Melhor crescimento, rendimento e eficiência alimentar

A proposta da empresa é oferecer uma solução disruptiva que impulsione a transformação tecnológica da piscicultura industrial no Brasil, além de proporcionar aos consumidores maior acesso a alimentos seguros e nutritivos.

A iniciativa promoverá maior sustentabilidade e competitividade no setor, posicionando a tilápia como uma alternativa ainda mais acessível e competitiva em relação a outras proteínas animais no mercado global.

Após reposicionar sua marca, anteriormente focada apenas na tilápia, a empresa agora se consolida como uma referência no setor de pescados, A planta de Santa Fé do Sul, em São Paulo, foi fundamental para atender a essa crescente demanda.

Com capacidade de produção aumentada de 42 para 75 toneladas, a expectativa é atingir 100 toneladas já no primeiro semestre de 2025. Além disso, a empresa vacina entre 120 e 130 mil peixes por dia, garantindo a qualidade e saúde dos produtos que chegam aos mercados internacionais.

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A tilápia chegou ao Brasil em 1971 quando o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS). - Divulgação

Nordeste recebeu alevinos para peixamento dos reservatórios

A tilápia chegou ao Brasil em 1971 quando o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS) realizou a primeira introdução oficial da tilápia-do-Nilo (Oreochromis niloticus) e da tilápia de Zanzibar (Oreochromis hornorum), visando a produção de alevinos para o peixamento dos reservatórios públicos da região Nordeste e para fomento do cultivo.

Em 1973 foram feitas as primeiras avaliações do cultivo dos híbridos de tilápia em fazendas do Ceará, bem como os primeiros peixamentos dos açudes do DNOCS com a tilápia-do-Nilo.

Na década de 80 as estações de piscicultura das companhias hidrelétricas de São Paulo e Minas Gerais produziram grandes quantidades de alevinos de tilápia-do-Nilo para o peixamento de seus reservatórios e para a venda ou distribuição junto a produtores rurais.

Dessa maneira, a tilápia do Nilo foi rapidamente disseminada nos reservatórios e em propriedades rurais do Nordeste e do Sudeste, e mais tarde na região Sul do País.

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Produção de tilapia no Brasil - Divulgação

Segundo pescado mais cultivadoado mundo

Hoje a tilápia é a segunda espécie de pescado mais cultivada do mundo e o Brasil é o quarto maior produtor mundial do pescado, atrás de China, Egito e Indonésia. Com a guerra comercial travada, o Brasil tem condições de substituir grande parte do que hoje é produzido pela China e expandir os negócios nos Estados Unidos, que é o principal consumidor mundial da espécie e teve o Brasil na 2ª posição entre seus maiores exportadores de filé fresco de tilápia em 2024.

Entre janeiro e setembro deste ano, o Brasil exportou 3.116 toneladas, sendo responsável pelo abastecimento de 24% do mercado americano de filé fresco e ocupando a segunda colocação. Além do efeito dos preços, os americanos podem optar por adquirir peixes de qualidade comprovada, como os provenientes do Brasil, e não apenas da China.

A Brazilian Fish possui quatro unidades próprias e conta há três anos com três parceiros integrados. A responsabilidade dos produtores integrados é com a estrutura física, mão de obra, energia e combustível, os outros 85% do custo de produção, que envolve ração, alevinos, medicamentos, insumos, software e assistência técnica é fornecido pela Brazilian Fish.

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Brasil tem mais cultivo de tilápia para produção de filet. - Divulgação

Produção com vacinação e controle da densidade de cultivo

Na propriedade são adotadas práticas que incluem programa de vacinação, adequação das densidades de cultivo, realização de diagnósticos preventivos, limpeza e desinfecção de estruturas, manejo de qualidade da água e uso de ração de excelente qualidade. De acordo com o produtor paulista, ao atingirem dez gramas as tilápias são 100% vacinadas.

Ao final de todo ciclo os tanques escavados são limpados e com os resíduos é feito adubo, enquanto nos tanques-rede a higienização das gaiolas, a conferência de tela, de bombona e da estrutura física é realizada a cada 60 a 75 dias, período em que os animais mudam de um manejo de dispensa para um manejo de classificação.

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