Focus vai de previsão de 9,00%, em janeiro a 11,25%, em setembro mostrando equívocos nas análises
O erro dos economistas fez a alegria do ministro da Fazenda Haddad que lembrou as apostas iniciais de que o governo Lula seria de descontrole fiscal.

O relatório do Banco Central no Boletim Focus mudou sua previsão para a Selic, a taxa básica de juros, para 2024 de 10,5% ao ano para 11,25% ao ano, no boletim Focus divulgado nesta segunda-feira. O relatório reúne projeções de 140 analistas de mercado e é divulgado todas as semanas pelo Banco Central.
Comparando-se a mesma previsão do Focus de 12 de janeiro é uma enorme mudança. Naquela semana o Focus estimou pára 9,00% a taxa da Selic de 2024 refletindo uma enorme confiança que ao longo de nove meses foi se deteriorando.
Nesta segunda-feira (9) a expectativa subiu para 11,25% com viés de alta devido às condições da economia que na visão dos analistas estão muito ruins especialmente com base nas projeções da próxima reunião do Copom que será realizada nas próximas quarta e quinta feiras.
E diante das incertezas apontadas pelo Banco Central em suas últimas comunicações oficiais e até mesmo de alguns de seus diretores, os bancos, corretoras e casas de análise revisaram suas projeções para a Selic.
Crescem as apostas no mercado de uma alta da taxa básica de juros já na próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) de, pelo menos, 0,25% devolvendo a baixa de quando houve a última redução.
Exemplo de erros
Mas na verdade o Focus não é um exemplo de acertos sobre as projeções do mercado. Em 2023 a marca foi o fracasso das projeções econômicas. Até economistas do mercado financeiro estão olhando com desconfiança para os modelos. O ano terminou com números muito melhores do que os previstos. Houve também erro na sequência de eventos projetados para a economia.
Na verdade, 2023 foi um ano concentrado no setor do agronegócio e ficou restrito aos primeiros dois trimestres. O fim do ano foi de economia estagnada. Mesmo assim, crescer 3% com juros altos não é um desempenho trivial. E o erro dos economistas foi uma alegria para o ministro da Fazenda Haddad que contrariou as apostas iniciais de que o governo Lula seria de descontrole fiscal.
Mas não foi bem assim e erros não são significativos nem uma exclusividade brasileira, o que é verdade. Mas em 2024 pode-se observar que, no caso do PIB do segundo trimestre, a diferença foi muito longe da margem de erro. Em valores correntes, o PIB do trimestre totalizou R$2,651 trilhões. Houve um desvio de 0,6 ponto porcentual, que significa cerca de R$16 bilhões.
Previsão para se proteger
Isso pode explicar porque agora o Focus está mais conservador e acha que a taxa vai subir e ninguém mais fala de uma taxa de um dígito. Portanto, a revisão ocorre após a divulgação de um Produto Interno Bruto (PIB, soma dos bens e serviços produzidos no país) forte, bem acima do esperado, na semana passada.
Agora a nova leitura do mercado é que a economia aquecida, com avanço no consumo das famílias e nos investimentos, pressiona a inflação, que vem subindo nos últimos meses. A justificativa é a deterioração das contas públicas, que também preocupa analistas e influencia a previsão de juros para o ano.
Com relação à inflação, o Focus revisou a projeção de 4,26% para 4,30% ao fim de 2024. Para o ano que vem, o índice foi mantido em 3,92%. A previsão do dólar também aumentou, de R$5,33 para R$5,35, neste ano. Para 2025, a previsão de câmbio foi mantida em R$5,30.
Focus pode ser ajustado
O que permite ao Focus ser revisando é que na prática ele é um relatório semanal feito pelo Banco Central, com base nos resultados de pesquisas sobre as expectativas de instituições financeiras para os principais indicadores macroeconômicos. Assim as projeções são de bancos, gestoras de recursos, consultorias e, em alguns casos, de empresas que podem ir se ajustando enquanto as previsões de economistas para os clientes precisam ser mais precisas já que eles orientam os investidores.
Curiosamente, até o BC admite que erra nas suas previsões. Numa apresentação, o próprio presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, admitiu logo após o anúncio do PIB de 2023 que “nós, economistas, erramos muito as projeções, especialmente de crescimento econômico”. Ele ironizava os palpites errados da categoria.
Mas o que se começa a debater nos bancos e mesmo nas universidades é que talvez os modelos de análises já não estejam dando conta das peculiaridades da economia brasileira.
Um dos fatos que mais chamou atenção no PIB do segundo trimestre foi o crescimento do consumo de energia elétrica. Na verdade, o mercado estava vendo o aumento de vendas de aparelhos de ar condicionado em todos os segmentos, o aumento do consumo geral de energia segundo os dados do ONS e o aumento da temperatura de abril e junho e nenhum estudo previu que o consumo de eletricidade cresceria 5,3%.
Previsão de inflação maior
Outra coisa que pode ser questionada é a previsão de que a inflação vai subir pelo fato do aumento da massa salarial está subindo como consequência do consumo das famílias. De fato a massa salarial cresceu, mas isso não quer dizer que toda renda vai para o consumo uma vez que os índices de inadimplência e de endividamento não baixaram, o que pode sugerir que parte da renda esteja sendo direcionada à quitação de dívidas.
O erro dos economistas quando fazem uma previsão para baixo é a festa do ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Quando saiu o PIB do segundo trimestre ele comemorou lembrando o crescimento de 0,8% do PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil no 1º trimestre de 2024. Segundo a previsão da Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda.
Governo se aproveita
E que ele viera exatamente igual à previsão que nós tínhamos, de 0,8%. “Nós continuamos mantendo a previsão de crescimento para o ano na casa dos 2,5%” disse o ministro. Quando veio o PIB do segundo trimestre ele disse que o avanço pode resultar na revisão das projeções apresentadas para o Orçamento de 2025. Segundo dados do IBGE.
Ele também chamou a atenção para o fato de que os investimentos vão garantir crescimento com baixa inflação. E lembrou o aumento da capacidade instalada como fator determinante para manter o movimento positivo no setor industrial.
Para Haddad, algumas indústrias ainda estão com muita margem para ampliar a produção, o que derrubou o entendimento dos economistas de que o aumento do consumo força a indústria a produzir acima da capacidade, consequentemente podendo aumentar os preços. O que aparentemente não está acontecendo.