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Sem mexer na taxa mais uma vez, Copom fecha um ano de Selic em 13,75% para irritação do Governo

Parece claro que o Copom não impressionou com esse tipo de argumento diz que avalia que a conjuntura demanda paciência e serenidade na condução da política monetária

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Fernando Castilho

Publicado em 21/06/2023 às 20:30
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O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) manteve novamente a taxa básica de juros em 13,75% ao ano nesta quarta-feira. A decisão se deu mesmo com a pressão de integrantes do governo para iniciar ciclo de cortes da Selic. Essas pressões se ancoravam no fato de que a inflação em 12 meses está, segundo o IBGE que calcula o IPCA em 4,18%.

A decisão do Copom é zero surpresa para os analistas que apostam que na reunião de 1º e 2 de agosto de 2023 quando a taxa terá completado um anos no atual percentual. O governo Lula, naturalmente, protesta publicamente contra a manutenção da Selic, embora na equipe econômica ninguém apostasse numa redução na reunirão de junho.

Uma Selic de 13,75%, por um ano, com uma eleição no meio e seis meses de governo novo irrita vários segmentos, especialmente a indústria e comércio, mas parece claro que o Banco Central insiste em olhar para o médio e o longo prazo do que atenuar as angústias dos setores que apostam numa retomada do crescimento e um refresco dos bancos nas linhas de crédito para irrigar a economia.

Na nota divulgada após às 18h quando fecha o pregão da Bolsa de Valores do Brasil (B3) informa que conduzirá a política monetária necessária para o cumprimento das metas [de inflação definidas pelo Conselho Monetário Nacional] e avalia que a estratégia de manutenção da taxa básica de juros por período prolongado “tem se mostrado adequada para assegurar a convergência da inflação”.

O Copom insiste em lembrar que sua função é defender a meta de inflação definida pelo CMN de 3,25% para 2023 e de 3,0% para 2024 com o intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual (p.p.) para cima e para baixo. Ou seja, criam-se as condições de baixar a taxa Selic se ela ficar em 4,75% no final do ano.

O BC, como está dito na nota, afirma que as expectativas de inflação para 2023 apuradas pela pesquisa Focus recuaram e encontram-se em torno de 5,1% e 4,0%, para 2024.

A nota tem uma frase que deve enfurecer o presidente Lula, petistas, ministros da área política, sindicalistas e empresários que nos últimos dias. “A conjuntura atual segue demandando cautela e parcimônia”.

Para quem vem defendendo uma atitude de boa vontade dos diretores do Banco Central o fato de a decisão mais uma vez ser por unanimidade é uma demonstração de que o Copom não se impressiona com pressão externa e que vai manter a coerência.

O problema é que no Brasil todo mundo é membro do STF, sabe tudo sobre tributação, dá aula de economia e se tiver oportunidade define políticas sociais econômicas e, naturalmente meio ambiente em nível nacional.

E mesmo economistas que respeitam as decisões técnicas do Banco Central afirmam que o Copom tem que ser sensível aos apelos da sociedade. Mesmo os que se afirmam defensores da boa prática de respeito aos preceitos dos manuais de economia colocam uma posição de que o cenário já permite um refresco de conciliação.

Parece claro que o Copom não impressionou com esse tipo de argumento diz que “avalia que a conjuntura demanda paciência e serenidade na condução da política monetária e relembra que os passos futuros da política monetária dependerão da evolução da dinâmica inflacionária.”

A tese do Copom é a de que o ambiente externo se mantém adverso, ainda que com revisões positivas para o crescimento do ano. E que vê alguma incerteza residual sobre o desenho final do arcabouço fiscal a ser aprovado pelo Congresso Nacional.

Bom, como na reunião de agosto a nova legislação já vai estar sendo aplicada criam-se condições para uma mudança de posição do Copom.

No fundo, o que "ainda" trava mesmo uma mudança na Selic é o impacto daquela baixa artifical da inflação do ano passado por força da redução da alíquota dos combustíveis de Jair Bolsonaro na inflação de junho e julho que deve se refletir este ano. Daí porque os analistas dizem que em agosto acaba o ciclo de 13,75%. Ou seja, terá sido limpo todo o entulho na inflação criado no ano passado.

Mas o PT, Lula e as centrais sindicais vão fazer um barulho danado contra a manutenção da Selic. Mas assim como a manutenção da taxa é perfeitamente previsível.

 

 

 

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