Roda de Conversa debate inclusão nas escolas e práticas pedagógicas mais acolhedoras
Durante o encontro, especialistas afirmaram que escuta e acolhimento são essenciais para uma educação mais humana, inclusiva e eficaz

Cada aluno carrega uma trajetória, uma forma única de aprender e demandas específicas que precisam ser observadas e respeitadas no processo educativo,e nenhum estudante pode ser reduzido a um laudo ou diagnóstico.
Essa foi uma das ideias centrais da Roda de Conversa “Cultura de inclusão: menos estresse e mais bem-estar de estudantes e professores”, que reuniu as especialistas Nadine Heisler, coordenadora do Instituto Domlexia, e Alexandra Magalhães, pedagoga e supervisora escolar da Prefeitura de Florianópolis, em Santa Catarina.
Durante o encontro, promovido pela Bett Brasil 2025, nessa quarta-feira (30), as convidadas debateram os desafios ainda presentes nas escolas e apontaram caminhos possíveis para transformar o cotidiano pedagógico por meio da escuta, da empatia e da valorização das diferenças.
Repensar o olhar sobre a inclusão
Para Nadine Heisler, não é possível falar de inclusão escolar sem repensar a forma como ela vem sendo tratada nas escolas. “A inclusão é um fato recente. Até pouco tempo, a gente tinha instituições separadas, menos laudos e outras condições. Hoje, estamos olhando a inclusão muito sob um viés médico. A gente diz: ‘Tenho três alunos com TEA, quatro com TDAH, seis com dislexia, um com síndrome de Down’... E traz essas definições médicas como se isso definisse o sujeito, o estudante. Isso é muito limitador.”
Segundo ela, quando o diagnóstico se torna o centro da prática pedagógica, corre-se o risco de reduzir o aluno a uma fórmula. “É como se a gente esperasse ter uma receita de bolo de como lidar com aquele estudante. Mas mudar o espaço escolar começa mudando o nosso olhar. O diagnóstico é importante, sim — primeiro, para a pessoa se entender, compreender suas dificuldades e diferenças; segundo, para gerar estatísticas que ajudem a construir políticas públicas. Mas, na educação, precisamos ir além do diagnóstico.”
Para Nadine, a pergunta-chave é: “Como posso ajudar esse estudante a reconhecer e desenvolver suas habilidades, respeitando também os desafios que ele enfrenta?”
Superar o modelo tradicional e ampliar as possibilidades
Alexandra Magalhães apontou como a própria formação dos professores ainda está baseada em uma lógica rígida. “Nós fomos formados dentro de um modelo tradicional: quadro, caderno, quatro horas sentadinhos. E como desconstruir isso na gente também? Esse, para mim, é o maior desafio. Como tirar esse professor dessa programação, dessa zona de conforto, para pensar outras possibilidades de se relacionar com os estudantes?”
Ela também destacou a dificuldade de lidar com o número elevado de alunos por sala. “É muita criança. E aí tem as barreiras emocionais. Porque você precisa criar vínculo, ter conexão, conhecer a história dos seus estudantes, o processo e a via de aprendizagem de cada um. Cada criança aprende de um jeito diferente.”
Alexandra compartilhou sua própria experiência: “Enquanto professora, eu tinha em mente que precisava dar o conteúdo. Então trazia várias abordagens, depois construía uma história coletiva, e foi assim que consegui alcançar essas diferentes vias.”
Planejamento flexível para reduzir a sobrecarga docente
Outro ponto abordado foi a sobrecarga dos professores diante de uma realidade cada vez mais diversa — mas pouco adaptada. Para Nadine, essa sobrecarga tem relação direta com a falta de instrumentos e com a rigidez dos formatos escolares. “A gente vem de uma escola que previa um tipo de estudante. Se ele não se encaixasse, era expurgado — ou pelo sistema, ou pela própria família.”
Ela defende que os professores precisam ter ferramentas e apoio para pensar a diversidade desde o planejamento. “Que no momento de planejar, eu pare para pensar: qual o meu objetivo pedagógico? O que eu quero extrair dos meus alunos? E, a partir disso, repensar como vou entregar meu conteúdo, como vou avaliar, como organizo minha sala. A gente tinha uma escola que era uma caixinha só. Agora, estamos criando mais caixinhas — mas ainda é preciso entender que não existe um TEA igual ao outro, nem um TDAH igual ao outro. Precisamos de diversas formas de entrega e avaliação.”
Uma escola que acolhe é uma escola para todos
A roda de conversa reforçou que a inclusão vai além da adaptação de conteúdos ou estratégias pontuais. Ela exige um compromisso com a escuta, com a flexibilidade e com a valorização das singularidades de cada sujeito.
“A diversidade já está na sala de aula. O que precisamos é de ferramentas e posturas que nos ajudem a enxergá-la como uma riqueza, e não como um obstáculo”, concluiu Nadine.
*A títular da coluna Enem e Educação viajou a convite da Bett Brasil 2025