CONCURSO CANCELADO | Notícia

UFPE cancela concurso para o Colégio de Aplicação após todas as etapas e revolta candidatos

Após meses de provas e investimentos, candidatos questionam falta de justificativa detalhada e pressionam a instituição para reverter o cancelamento

Por Thiago Freire Publicado em 04/04/2025 às 9:11 | Atualizado em 04/04/2025 às 9:27

A Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) cancelou as vagas previstas para o concurso de professor do Colégio de Aplicação (CAp) após a realização de todas as etapas do certame. Candidatos reclamam da falta de transparência e detalhamento da decisão tomada pela instituição, que ocorre após investimento de meses no processo seletivo.

O concurso para provimento de professor efetivo foi aberto com o edital nº 12/2024, publicado em 21 de outubro de 2024, e previa inicialmente o preenchimento de 45 vagas, distribuídas em diversas áreas e subáreas. Para o CAp, estavam previstas 5 vagas, dispostas da seguinte forma:

  • 1 vaga para a subárea Artes, Letras e Educação Física/Língua Inglesa;
  • 1 vaga para a subárea Artes, Letras e Educação Física/Língua Portuguesa;
  • 3 vagas para a subárea Filosofia e Humanidades/Atendimento Educacional Especializado.

Apenas as vagas destinadas ao CAp foram canceladas pela instituição. O cancelamento foi informado por meio da retificação da homologação, publicada no dia 21 de março no Diário Oficial da União, e ocorreu após a realização de todas as etapas da seleção, que incluíram uma prova escrita, uma prova didática e a prova de títulos.

Antes da anulação das vagas, a instituição já havia divulgado a classificação de algumas das subáreas destinadas ao CAp, o que deixou os classificados surpresos e confusos. Eles estão se organizando para pressionar a instituição por respostas e já acionaram a Defensoria Pública da União e o Ministério Público para investigar o caso.

Candidatos indignados cobram justificativa

O candidato aprovado em primeiro lugar na ampla concorrência para a vaga de Língua Portuguesa, Raul Colaço, afirma que é “bem revoltante” o fato de a vaga ter sido cancelada sem nenhum detalhamento. Ele afirma que recorreu ao Colégio de Aplicação e a várias instâncias da UFPE em busca de esclarecimentos, mas ou não obteve respostas, ou apenas recebeu devolutivas pouco esclarecedoras.

“Eu fiquei muito surpreso e também muito indignado com o cancelamento do concurso após o cumprimento de todas as etapas. O certame é extremamente desgastante psicologicamente, porque se arrasta por alguns meses, são várias etapas e só uma vaga prevista em edital, e ainda nos leva a realizar vários gastos, como inscrição, deslocamento, compra de livros e de materiais de aula”, desabafa.

Ítalo Arruda é outro candidato que se diz revoltado com a situação. Ele realizou todas as etapas do certame e aguardava a divulgação do resultado final para as vagas de Atendimento Educacional Especializado, quando foi surpreendido pela anulação.

Mesmo sem o resultado final divulgado, a expectativa de Ítalo Arruda era a de aprovação. Ele somou as notas obtidas nas etapas da seleção e, por meio da comparação com o desempenho dos demais candidatos, percebeu que seria classificado. A lista com os aprovados dessa subárea seria divulgada no dia 24 de março, conforme o último cronograma do certame, três dias antes da publicação do cancelamento.

Em busca de respostas, o candidato também afirma que não obteve esclarecimentos que considere plausíveis para a decisão da UFPE. “Esse cancelamento sem justificativa desrespeita quem estudou, investiu tempo, dinheiro e acreditou na seriedade do processo de uma instituição tão renomada”, diz.

O objetivo dos candidatos é que o cancelamento seja revisto e que as vagas sejam preenchidas conforme previsto em edital.

“Não queremos apenas explicações. Exigimos a retomada do concurso, a liberação do resultado final da vaga do Atendimento Educacional Especializado do Colégio se Aplicação-UFPE e sua homologação, assim como das outras duas áreas”, afirma Ítalo.

UFPE diz que tem prerrogativa rever seus atos

Em comunicado publicado na última terça-feira (1º) na plataforma do concurso, o Sistema Integrado de Gestão de Recursos Humanos (SIGRH), informa-se que a “Administração Central da Universidade Federal de Pernambuco decidiu por cancelar os concursos” destinados ao Colégio de Aplicação “por considerar que as regras estabelecidas em edital não foram observadas no que diz respeito às referidas áreas/subáreas”.

O comunicado diz que a decisão foi tomada considerando-se itens previstos no edital, como o 26.8, que determina que "a qualquer tempo serão anuladas inscrição, provas, nomeação e posse do candidato, se verificada a falsidade de declarações prestadas ou qualquer irregularidade nas provas ou nos documentos apresentados".

O informativo também afirma a decisão considerou “o recebimento de denúncias de indícios de irregularidades quanto à violação ao estabelecido em edital que, ao final das apurações internas, restaram confirmadas para as áreas/subáreas em questão” e que a “Administração deve rever e anular seus próprios atos, quando eivados de vício de legalidade”.

O JC procurou a UFPE para entender se houve irregularidades ou denúncias que justifiquem o cancelamento das vagas para o Colégio de Aplicação.

Em resposta, a instituição afirma que “os candidatos foram comunicados individualmente sobre o cancelamento, através da plataforma do concurso”, a SIGRH.

Os candidatos ouvidos pela reportagem afirmam que não receberam comunicado de forma individualizada. Depois da retificação da homologação, eles souberam sobre o cancelamento das vagas somente por meio do comunicado mencionado anteriormente, publicado de forma aberta no SIGRH.

Sobre a justificativa da decisão, a UFPE afirma que “não houve irregularidades no processo realizado” e que “a administração da Universidade tem a prerrogativa de rever seus atos”. Além disso, a instituição analisa a viabilidade de um novo certame.

Confira a nota na íntegra:

Em relação ao concurso para preenchimento de vagas de docente para o Colégio de Aplicação, a UFPE informa que os candidatos foram comunicados individualmente sobre o cancelamento, através da plataforma do concurso. E que a instituição está analisando a viabilidade de novo certame. Não houve irregularidades no processo realizado, mas, sim, foi tomada a decisão de cancelamento do concurso. A administração da Universidade tem a prerrogativa de rever seus atos.

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