Ideb 2023: Especialista destaca estagnação na educação e necessidade de novo choque de gestão
O Ideb é o resultado da análise ponderada de dois fatores: desempenho escolar em Língua Portuguesa e Matemática, multiplicado pela taxa de aprovação

Os dados referentes ao Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) 2023, divulgados pelo Ministério da Educação (MEC) e pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) há duas semanas, trazem à tona pontos pertinentes sobre os investimentos realizados na educação.
Para Mozart Neves Ramos, titular da Cátedra Sérgio Henrique Ferreira da USP de Ribeirão Preto e professor emérito da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), o Brasil está estagnado, pois não conseguiu retornar aos resultados de 2019, antes do período pandêmico, que já eram considerados pífios.
Nos anos iniciais do ensino fundamental, que possui 14,4 milhões de alunos matriculados e é a etapa em que as crianças passam pelo processo de alfabetização, houve um aumento em relação às metas dos anos anteriores. O índice nacional foi de 6, enquanto em 2021 a média foi 5,8 e em 2019 foi 5,9.
Nos anos finais do ensino fundamental, o Ideb nacional foi 5, enquanto no levantamento de 2021 foi de 5,1 e em 2019 foi 4,9. No ensino médio, referente ao 3º ano, houve um pequeno crescimento comparado às médias de 2021 e 2019, que haviam se mantido em 4,2. Em 2023, o Ideb nacional foi de 4,3.
“Na prática, nós nem sequer retornamos ao valor do Ideb e, principalmente, da proficiência, do aprendizado em Língua Portuguesa e Matemática, antes da pandemia”, afirmou Neves, durante participação no programa Passando a Limpo, da Rádio Jornal, desta sexta-feira (30).
“A gente precisa, naturalmente, fazer um choque de gestão. Não dá mais para a gente só colocar dinheiro e continuar fazendo do mesmo jeito. Os países desenvolvidos que estão dando saltos muito importantes na educação básica estão investindo em coisas que a gente ainda resiste em investir nessa área”, disse o professor.
Mozart cita como exemplo a aplicação de plataformas digitais e o novo ensino de matemática, além da necessidade de sair do contexto teórico na formação dos professores. “O problema da matemática está na pedagogia. Nossos professores sabem resolver uma equação de segundo grau, por exemplo, mas, quando vão para a sala de aula, têm dificuldade de explicar aos seus alunos como devem resolver essas questões. Se a gente não mudar o método de formação dos professores, passando para uma formação mais prática e que dialogue com o chão da escola, vai ser difícil o país sair dessa situação”, criticou.
Ainda durante participação no programa Passando a Limpo, o especialista, que também é ex-secretário estadual de Educação, chamou atenção para a revisão das metas do Ideb, concluídas em 2021. Até o momento, o Ministério da Educação não divulgou quais serão as novas pactuações.
NORDESTE EM DESTAQUE
Para avançar nos índices, Mozart Neves Ramos aponta que a melhora pode vir da própria região, principalmente no caso do Norte/Nordeste. Das 21 escolas que tiraram nota 10 no Ideb, todas estão localizadas no Nordeste (sendo 15 do Ceará, 5 de Alagoas e uma de Pernambuco). É importante destacar que todas elas estão localizadas no interior desses estados.
“Falar do sucesso de Sobral e do Ceará é chover no molhado. Por isso, vou falar de outros territórios nordestinos que estão nos mostrando o caminho de como melhorar a educação. Esse é o caso, por exemplo, do território da região Oeste do Maranhão”, pontuou o ex-secretário de Educação em artigo publicado no Jornal do Commercio.
Por meio de um regime de colaboração intermunicipal, alguns municípios conseguiram obter um avanço significativo entre 2021 e 2023. “Vou aqui dar os resultados do Ideb de 2021 e 2023 de tais municípios: Açailândia: saiu de 4,6 para 5,5; Bom Jesus das Selvas: de 4,3 para 5,1; Itinga: de 4,2 para 5,1; São Francisco do Brejão: de 4,0 para 4,8; e assim vai. Para quem não é da área, é importante ressaltar que um aumento de 0,1 ponto no Ideb é relevante pela forma de cálculo", explicou.
O Ideb é o resultado da análise ponderada de dois fatores: desempenho escolar em Língua Portuguesa e Matemática, multiplicado pela taxa de aprovação.
PERNAMBUCO SE MANTÉM ENTRE OS PRIMEIROS
No extrato em que são analisados apenas os resultados da rede pública de ensino, o estado supera a média nacional, de 4,3 pontos, alcançando também o primeiro lugar do Norte-Nordeste, com nota 4,5. Além disso, Pernambuco foi um dos três estados a atingir a meta estabelecida pelo Inep em 2021, na última edição do Ideb, quando ficou com 4,4.
Os dados também mostraram que Pernambuco obteve avanços significativos nas outras etapas de ensino da rede estadual. Nos anos iniciais, a nota subiu para 6,2, superando a média de 2021, que foi 5,3, e a meta estabelecida pelo MEC de 5,0, demonstrando um crescimento de 1,2. Nos anos finais, o estado atingiu 4,9, um aumento em relação à nota de 4,8 registrada em 2021.
No entanto, Mozart Ramos Neves ressalta que é necessário observar não apenas a taxa de aprovação, mas o índice de aprendizado dos estudantes pernambucanos. Neste caso, o Estado precisa investir mais nos professores e nas reestruturação das chamas Escolas de Referência do Ensino Médio (EREM), onde várias escolas alcançaram índices abaixo de 10% com relação a aprendizagem adequada em Matemática, por exemplo.