Flávio Bolsonaro e Dias Toffoli na vitrine da aparência de honestidade
Em episódios diferentes, Flávio Bolsonaro e Dias Toffoli reacendem o debate sobre a aparência de honestidade para a credibilidade institucional.
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A crise de credibilidade que atravessa o Brasil tem duas cenas recentes que ajudam a compreender por que a imagem de honestidade das instituições é tão decisiva para qualquer democracia. A velha ideia de que não basta ser honesto porque é preciso parecer honesto explica muito do que estamos vivendo.
Flávio
A primeira cena envolve Flávio Bolsonaro (PL) que anunciou sua candidatura à presidência e em seguida admitiu publicamente que poderia retirá-la mediante negociação. O recado ficou nítido para o centrão que a candidatura é uma moeda de troca e que o preço seria a anistia que livraria Jair Bolsonaro (PL) das consequências jurídicas que enfrenta.
Ao admitir que sua presença na disputa só existe para ser barganhada ele compromete a confiança dos próprios aliados e fragiliza ainda mais o campo político que pretende representar.
Uma instituição como o bolsonarismo depende de credibilidade para existir e perde essa credibilidade quando seu principal herdeiro assume que a candidatura serve como instrumento de pressão.
De arrasto, as fissuras de credibilidade do bolsonarismo levam embora também a credibilidade dos aliados.
Toffoli
O segundo caso envolve Dias Toffoli. A cronologia dos questionamentos que vêm sendo feitos sobre a conduta dele é conhecida. O ministroviaja para Lima num jatinho ao lado de um advogado que representa um investigado no escândalo do Banco Master cuja ação estava na Justiça Federal.
Dias depois ele assume o caso no Supremo e impõe sigilo máximo inviabilizando qualquer acompanhamento externo público. Tudo coincidência? Não há ilegalidade formal no conjunto das ações mas há um problema evidente de aparência por causa da moralidade e da ética legitimamente questionável nessa cronologia.
A "mulher de César" precisava parecer honesta porque a percepção de honestidade é condição de existência das instituições. Quando um ministro age de forma que sugere proximidade indevida com interesses privados de investigados em ação que seu próprio gabinete vem a se tornar responsável, mesmo que nada tenha sido feito fora da lei, a credibilidade do Supremo inteiro é afetada.
O risco para a democracia
O elemento comum entre os dois episódios é a corrosão institucional causada por comportamentos individuais. Mesmo que em esferas distintas, um na política e outro na Justiça.
Flávio Bolsonaro fragiliza o próprio campo político ao tratar um projeto presidencial como peça de negociação. Dias Toffoli compromete a confiança no Supremo ao adotar gestos que produzem suspeitas e alimentam a ideia de blindagem.
O efeito é cumulativo. Quando a sociedade deixa de acreditar nas instituições o espaço é ocupado pela descrença e pela paralisia. A democracia não sobrevive sem instituições fortes e instituições não sobrevivem sem credibilidade.
O país diante do espelho
O Brasil precisa encarar o custo desse desgaste. A credibilidade institucional não é acessório ela é o que sustenta a república e garante que decisões sejam aceitas pela população. Quando atores poderosos tratam suas responsabilidades como instrumentos privados o país inteiro paga.
Se nada for feito para conter esse movimento a desconfiança se tornará regra e não exceção. Recuperar a imagem de honestidade das instituições é urgente porque não há democracia que permaneça de pé quando aqueles que deveriam fortalecê-la escolhem miná-la buscando benefícios particulares.