Cena Política | Análise

Os três poderes em Brasília andam tão pobres que só possuem dinheiro

Quando aprovação popular, governabilidade e a aplicação da lei dependem somente de dinheiro, qual o valor do trabalho, da política e da justiça?

Por Igor Maciel Publicado em 07/06/2025 às 20:00

O formato pelo qual funciona o sistema político brasileiro é cômodo para todos os que o integram e serve ao interesse de quem se beneficia dele, mas não entrega qualquer vantagem ao brasileiro e nem promove qualquer tipo de desenvolvimento ao país.

Se você discorda e acredita que o Brasil está em algum caminho profícuo e sustentável, tente listar ao menos três projetos estruturais de transformação efetiva da economia ou de transformação social efetiva em curso neste momento presente, sendo tocado pelo governo central.

A atual gestão, independente de ter boas intenções ou não, é mantida por um emaranhado cada vez mais diverso de programas de distribuição de dinheiro mantidos sob contrapartidas frágeis e sem evolução da condição social que ultrapasse o básico da sobrevivência.

Dependência

O Bolsa Família, chamado de “maior programa de transferência de renda do mundo”, é feito para que o sujeito dependa dele para se alimentar e viver, não para sair dele. Não há obrigação de qualificação profissional e nem incentivo em busca de emprego para que seja possível deixar o programa e viver por conta própria.

Pelo contrário, a condição de só receber o auxílio se não estiver trabalhando imobiliza o beneficiário mais do que o empurra ao crescimento. Para quem recebe o Bolsa Família, mobilidade social é ter mais filhos, e não arranjar um emprego.

E não se trata de preguiça ou acomodação. O próprio programa do governo é desenhado para gerar essa dependência.

Retorno

O modelo gerou dependência mútua, porque agora também o governo age dessa forma. A mobilidade social, o crescimento da popularidade na gestão Lula não se dá pelo trabalho e por mais projetos estruturantes de construção de país, mas pela criação de novos e variados programas de transferência de renda.

“Você estuda e lhe damos dinheiro”, é a base funcional do Pé-de-Meia, que deve custar R$ 12,5 bilhões por ano aos cofres abastecidos pelo pagador de impostos. Você precisa cozinhar e nós lhe damos gás de cozinha. E se você tiver mais filhos nós lhe damos mais botijões. No fim vai custar outros R$ 13,6 bilhões por ano, mas é o preço que o governo está disposto a pagar para crescer em avaliação positiva nas pesquisas.

Citamos apenas dois projetos e já tem mais de R$ 25 bilhões em despesa aqui. Sem nenhum indício de retorno sustentável para o investimento além de apoio popular temporário enquanto o dinheiro for pago, sumindo assim que alguém ameaçar encerrar o gasto.

Não é para gerar desenvolvimento. É para gerar dependência.

Legislativo

Ao mesmo tempo, há R$ 50 bilhões no orçamento já separados para que sejam distribuídos entre os deputados e senadores fantasiados sob os tecidos das emendas parlamentares garantindo o apoio dos partidos às ideias que são apresentadas pelo governo, num movimento que é confundido com fazer política, como se a política fosse apenas uma transação mesquinha e não a construção de pontes sobre objetivos republicanos comuns.

Judiciário

Ao mesmo tempo, sustenta-se uma engrenagem de decisões legais tão entranhada de interesses pessoais quanto dispendiosa. O Poder Judiciário custa mais de R$ 130 bilhões ao ano e só funciona sob vultuosos penduricalhos aos integrantes das mais variadas cortes pelo Brasil. Sem falar no ativismo político cada vez mais espalhafatoso que marca o ambiente onde deveria haver apego apenas à letra da lei como equilíbrio das relações democráticas.

Sistema

Agora, responda com sinceridade: num sistema em que a aprovação popular é conquistada com dinheiro, a governabilidade é conquistada com dinheiro e a ordem legal é mantida com dinheiro para ser efetiva, qual o valor do trabalho, da política e da justiça?

Essas questões são a base de uma necessária reflexão sobre o rumo que o país está trilhando e se vale a pena seguir nele. E não se trata aqui de mudar o governo, trocar Lula por Bolsonaro, por Barnabé ou Ribamar. Não é sobre quem governa o país. Não é sobre o piloto do avião, mas sobre a rota sendo seguida. Precisamos de uma reforma política tão ampla que fique pouco do que existe hoje. É preciso mudar o sistema ou estaremos muito em breve enterrados sob ele.

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