Cena Política | Análise

Igor Maciel: A pesquisa de popularidade do governo e a responsabilidade da comunicação

A solução é dividir o ministério em dois. Um seria o "departamento de processamento de abacaxis" e outro seria o de "promoção do que sobrar de bom".

Por Igor Maciel Publicado em 04/06/2025 às 20:00 | Atualizado em 05/06/2025 às 6:41

Depois que se chega ao fundo do poço, qualquer centímetro para baixo é recorde mundial. Foi o que aconteceu com a pesquisa Quaest mais recente, divulgada esta semana com a popularidade do governo Lula (PT). Estava ruim e ficou dois pontos percentuais pior, um a menos para a aprovação e um a mais na desaprovação.

Como os 56% negativos do levantamento anterior já representavam o pior número de todos os mandatos do presidente petista, temos um novo recorde. Mas há alguns pontos que precisam ser detalhados nesta pesquisa. Uns são piores do que se esperava e outros são até uma luz no fim do túnel. Em resumo: nem tudo está perdido, mas ainda tem espaço para ficar pior.

Sem gordura

Lula era mais aprovado do que desaprovado entre os eleitores que concluíram até o Ensino Fundamental e entre os que ganham até dois salários mínimos. É um público que vota no atual presidente por tudo o que ele já lançou de programas sociais em seus três mandatos. Esta pesquisa mostrou um empate. O percentual dos que aprovam e desaprovam o governo, nesse público específico, já não entrega mais uma vantagem para Lula.

Como o presidente vem, há meses, gastando dinheiro com novos programas sociais e segue planejando novidades nesse setor, surpreende.

Pessimismo

Lula sofre também com um contínuo prejuízo na relação entre os que acreditam que a gestão está no rumo certo e quem acha que está tudo errado. Quando perguntados se o país segue na direção certa, o percentual dos que concordam, em diferentes fases da pesquisa desde o ano passado, foi caindo de 43% para 39%, depois 36% e, agora, chegou a 32%. Os que dizem que vai no caminho errado eram 46% e o percentual subiu para 50%, depois 56% e agora chegou a 61%.

Economia

Dois dados são positivos na pesquisa e chamam a atenção para a possibilidade de que haja uma luz no fim do túnel (ou no topo do poço). Há dois meses, na última rodada da pesquisa, o número de pessoas que apontava uma piora da economia era de 56% e agora, na mais recente divulgação, o número caiu para 48%.

Isso significa que a percepção sobre a economia, incluindo a inflação que é o que mais impacta o brasileiro em sua rotina, melhorou em oito pontos percentuais. Se a queda na avaliação do governo foi reforçada ao longo dos últimos meses por causa da piora na economia, porque as pessoas sentem que a economia melhorou e, mesmo assim, não há melhora na popularidade da gestão? 

Recuperar

Para derrubar algo basta soltar e para recuperar é necessário fazer um esforço bem maior. Imagine soltar da mão uma pedra. É só abrir os dedos. A quantidade de músculos do corpo utilizados para pegar a pedra de volta, tendo que agachar com as pernas, esticar o braço, demanda muito mais energia.

Lula perdeu sua popularidade no início do ano, de uma só vez, com a “Crise do PIX”. Está há meses tentando fazer força para agachar e recuperar algo. Mas, quando estava se encaminhando para isso, veio o escândalo do INSS. Quando começou a estabilizar a crise anterior, veio o aumento do IOF e mais pauta negativa para a gestão.

Mesmo que a economia melhore, Lula não consegue avançar, porque está o tempo todo precisando se defender de seus próprios desafios. E isso tem a ver com comunicação.

Ovos

Acontece que a equipe de comunicação não consegue fazer chegar à população uma conexão entre a melhora na percepção da economia e a autoria do governo, porque vive tendo que criar estratégias para se defender dos escândalos.

É como alguém que precisa carregar um ovo numa colher do ponto A ao ponto B. Mas o que já seria uma tarefa que demanda atenção e planejamento fica mais difícil porque é preciso cumprir a tarefa levando socos, rasteiras e pontapés da própria equipe de governo que não para de se meter em confusão.

Abacaxis

Em entrevista ao programa Passando a Limpo, da Rádio Jornal, o cientista político e diretor da Quaest, Guilherme Russo, destacou um dado que comprova essa dificuldade da comunicação institucional do governo.

Segundo ele, os entrevistados que conhecem os programas sociais de Lula lançados recentemente, aprovam as medidas e melhoram a popularidade da gestão. Mas o número de pessoas que dizem conhecer esses projetos ainda é muito pequeno. A comunicação institucional anda tão ocupada descascando os abacaxis que não tem tempo de planejar e nem executar o básico da divulgação que poderia criar uma conexão entre a melhora na economia e o governo.

Não deu

E até mesmo a estratégia da Secom para os momentos de caos é questionável. Na pesquisa Quaest, quando perguntados sobre a responsabilidade em relação ao escândalo do INSS, os entrevistados deram respostas que chamam a atenção. Entre os eleitores de Lula, aqueles que votaram no petista em 2022, 13% acreditam que a culpa das fraudes contra os aposentados e pensionistas foi do próprio governo Lula e 30% disseram que estão em dúvida.

Ou seja, para 43% dos eleitores do próprio presidente que escolheram em 2022, a estratégia que a comunicação criou desde o primeiro dia do escândalo, de jogar as fraudes do INSS no governo Bolsonaro, falhou miseravelmente.

Bom senso

A solução para a comunicação de Lula talvez seja dividir o ministério em dois setores estratégicos. Um poderia se chamar “departamento de processamento de pepinos e abacaxis”. O outro poderia ser “departamento de promoção do que sobrar de bom”. Seria uma alternativa para tentar avançar algo na divulgação enquanto as equipes dos outros ministérios tropeçam.

Outra opção, mais pragmática, talvez fosse o governo parar de fazer bobagem, tentar não entrar em escândalos e evitar agir sem pensar, como fez a equipe econômica com o IOF, por exemplo.

Mas aí, apelar para o bom senso e o zelo, dessa forma, pode ser pedir demais.

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