Cena Política | Análise

Igor Maciel: O PSB é importante para Lula se entender que não é tão importante assim

A posição de Alckmin, os espaços do partido e o apoio a João Campos em Pernambuco não são tabus no PT, desde que os socialistas saibam seus "limites".

Por Igor Maciel Publicado em 02/06/2025 às 20:00 | Atualizado em 03/06/2025 às 7:54

Geraldo Alckmin (PSB) é muito importante para Lula (PT), mas não como vice-presidente. O PSB é muito importante para Lula, mas não como protagonista. João Campos é muito importante para Lula, mas não como candidato único ao governo de Pernambuco no ano que vem.

Todos esses pontos acabaram, de um jeito ou de outro, entrando na pauta da cerimônia em que o prefeito do Recife assumiu a presidência nacional do PSB.

É bem possível que os socialistas sejam obrigados a calibrar o próprio planejamento para 2026, alcançando mais a realidade do que a vontade. Não é por ter pouca importância, mas por dividir a importância do mundo com outros atores que estão em melhor posição neste momento da política brasileira.

Gênese

No evento, por exemplo, Campos citou em seu discurso o desejo do partido de que Alckmin siga ocupando a vice de Lula. O presidente ignorou o assunto quando foi a vez de ele falar. E era esperado que assim fosse. É preciso entender a gênese da aproximação entre Lula e o vice para saber disso. Quando o petista decidiu ser candidato, precisava encontrar alguém que o ajudasse a conseguir votos no interior de São Paulo.

Ainda mais, precisava usar alguém como exemplo de que era possível formar uma frente ampla e, naquele momento, a união de adversários em eleições anteriores, ainda mais um tucano. Alckmin servia muito naquele cenário. Só precisava de um partido, porque o PSDB não iria apoiar o PT. Aí surgiu o PSB.

Pessoal

Colocar Alckmin no PSB serviu também como uma maneira de criar um argumento para não ter que dar muito espaço ao PSB depois. Na formação do governo, toda vez que os socialistas reclamavam que queriam mais um ministério, ouviam que o vice já era deles e que ele ainda era ministro da Indústria.

Respondiam sempre que Alckmin não foi escolha deles, mas de Lula, e não poderia estar na cota do partido. Diziam o mesmo de Flávio Dino, que saiu do PCdoB e foi filiado ao PSB, mas não virou ministro da Justiça por indicação do partido e sim por escolha pessoal do Presidente da República.

Agora o PSB está feliz com Alckmin e quer manter o posto, mas a conjuntura é outra.

Serventia

Alckmin serve mais a Lula sendo candidato em São Paulo, de preferência ao Senado ou ao governo. Governador por quatro mandatos, ele já avisou que não topa disputar o mesmo cargo outra vez. Senador tudo bem, mas o governo não. Serve mais em São Paulo, também, porque libera o espaço da vice para atrair o PSD ou outro partido maior.

Gilberto Kassab já sinalizou a integrantes do partido que pode indicar alguém para a cadeira de número dois do Executivo. O MDB também pode ocupar o espaço da vice, ou qualquer outro partido do centro que estiver disposto e puder garantir apoio.

Quanto ao PSB, só terá a vice se ninguém mais quiser ou se for necessário fazer um novo arranjo em que Lula escolhe alguém de sua preferência e usa os socialistas como barriga de aluguel.

PSB

O problema é que o PSB tem pouco a oferecer, para além de toda a história de parcerias que foram listadas por João Campos no evento do último domingo. São 14 deputados federais (20 a menos do que havia em 2014) e três governadores (dos cinco que chegou a ter).

O número de prefeitos, que serve de prévia para a eleição de deputado, não foi ruim (312), mas não é nada espetacular num ambiente em que federações como a “União Progressista”, do PP com o União Brasil, chegou a mais de 1,3 mil prefeituras. Só o PSD já passou de mil prefeituras, sozinho. Na hora da eleição, precisando de votos, a tendência é que Lula busque priorizar esses parceiros maiores.

Duplo

É também por isso que o presidente petista já verbalizou um recado para João Campos quando falou, durante o evento, em “palanques duplos”. O prefeito do Recife quer o apoio do presidente para si na disputa pelo governo em 2026, mas Lula tem dito que apoiará João e Raquel Lyra em Pernambuco, repetindo o palanque duplo de 2006. Na época, Eduardo Campos, um dos apoiados pelo PT, foi eleito governador. A ideia é fazer isso de novo. 

O PSB é importante para Lula, desde que entenda que não é tão importante assim e consiga ajudar sem reclamar muito protagonismo. Essa é a regra dessa relação.

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