Igor Maciel: Sobre Marina Silva e o maior inimigo que se transforma no melhor aliado
Como Alcolumbre, querendo prejudicar a ministra do Meio Ambiente, acabou fortalecendo a posição dela no cargo do qual talvez saísse em breve.

O episódio com Marina Silva (Rede) numa comissão do Senado Federal é um exemplo de como, ao tentar jogar xadrez sem ter nenhuma habilidade para isso, o sujeito pode acabar emporcalhando o tabuleiro. O convite feito para a ministra tinha um objetivo político armado no gabinete do presidente da Casa, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), que era enfraquecer sua posição política e tornar a permanência dela na pasta insustentável.
Marina tem sido resistente aos interesses de Alcolumbre no Norte do país, principalmente em relação à passagem de cabos de alta tensão pela Floresta Amazônica e à perfuração de poços de petróleo na região. Todo mundo sabe que, atualmente, Alcolumbre ganhou muita força no governo e tem feito pressão para influenciar cada vez mais o Executivo, em troca de apoio a projetos de Lula.
Marina é um dos alvos do presidente do Senado e, se dependesse dele, estaria demitida há muito tempo. Tanto Marcos Rogério (PL-RO) quanto Plínio Valério (PSDB-AM) são de uma espécie de “tropa de choque” de Alcolumbre. Por isso partiram para o ataque e, acreditando que todo esforço pelo chefe valia a pena, chegaram ao ponto de desrespeitar a ministra.
O efeito acabou sendo o oposto.
Sobrevida
Antes do espetáculo grotesco promovido pelos dois senadores, acreditava-se que Marina resistiria somente até a COP 30, em Belém. E depois seria demitida ou iria pedir demissão.
Agora, depois de receber apoio de todo o Brasil devido à arapuca armada pelos senadores, tornou-se intocável e só sai se quiser. Ainda mais, toda vez que ela fizer confusão contra algum dos projetos na Amazônia, a voz dela que já estava desgastada e cansava a opinião pública, volta a ser considerada com alguma atenção.
No xadrez, essa jogada de Alcolumbre não tem nome. No popular, pode ser chamada de burrice mesmo.
Redes
O episódio demonstrou também o quanto as redes sociais estão influenciando o comportamento dos parlamentares. Se quiser um exemplo, basta comparar o tratamento que foi dado à Marina Silva e o que foi dispensado à influenciadora digital Virgínia Fonseca.
Marina é considerada uma inimiga ideológica dos senadores bolsonaristas que a atacaram e a outra tem 50 milhões de seguidores. Marina, que estava lá cumprindo uma obrigação do cargo que ocupa, foi desrespeitada como mulher e como ministra. Virgínia, que foi a uma CPI no Senado dentro de uma investigação sobre o uso de suas redes para promover fraude em jogos eletrônicos, recebeu pedidos de selfies dos senadores da comissão e até pedidos para segui-los no Instagram.
Atacar a ministra rende engajamento e ser seguido pela influenciadora também. O que importa se a investigação e os problemas do país ficam em segundo plano, desde que traga seguidores?
Até os “amigos”
Mas essa influência das redes não é apenas entre os bolsonaristas. Ao longo do tempo em que a ministra Marina foi atacada pelos senadores da oposição, o líder do governo, Jaques Wagner (PT-BA), e o vice-líder, Rogério Carvalho (PT-SE), ficaram esperando a repercussão nas redes sociais e só quando tudo passou é que saíram em defesa da colega de gestão. Estavam lá para servir como proteção entre os senadores, mas ficaram caladinhos.
Depois, quando a repercussão foi negativa para os senadores, e solidária a ela, é que os governistas também fizeram declarações em defesa de Marina. É como observar alguém se afogando, esperar até o último minuto sem agir, e apenas quando ela já está sendo socorrida dizer que “lamenta muito o ocorrido”.
É cômodo, mas também não deixa de ser covarde.